Padre jesuíta, ex-diretor da Rádio Vaticano e da Sala de Imprensa da Santa Sé, completa 80 anos de idade e 50 de sacerdócio; uma vida dedicada ao serviço da Igreja, especialmente no mundo da comunicação
Da Redação, com Vatican News
Nesta segunda-feira, 29, padre Federico Lombardi faz 80 anos. O jesuíta piemontês, um dos protagonistas da comunicação eclesial pós-Concílio, foi Diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé com Bento XVI e Papa Francisco. Esteve por 25 anos à frente da Rádio Vaticano, primeiro como Diretor de Programas e depois como Diretor Geral da emissora pontifícia.
Por mais de 10 anos, também dirigiu o Centro de Televisão do Vaticano. Uma vida de testemunho e serviço à Igreja, marcada pela paixão e competência, que hoje continua como presidente da Fundação Joseph Ratzinger-Bento XVI e como superior da comunidade religiosa jesuíta ‘La Civiltà Cattolica’.
Precisamente na revista da Companhia de Jesus, no distante 1973, deu os primeiros passos como jornalista para depois se tornar seu vice-diretor em 1977.
Em entrevista à mídia do Vaticano, Padre Lombardi se deteve em algumas passagens fundamentais da sua vida e da sua profissão vividas ao lado dos três últimos Pontífices. Confira:
Padre Lombardi, com quais sentimentos vive este seu aniversário de 80 anos que antecede por alguns dias, e isto também é significativo, os seus 50 anos de ordenação sacerdotal, em 2 de setembro?
Há uma sensação de surpresa por ter chegado! Todos nós quando somos jovens pensamos aos 80 anos, ou 50 anos de sacerdócio, como objetivos muito distantes, de pessoas muito idosas … e então, dia após dia, se aproxima e se chega lá, e talvez se vai até além … então, uma surpresa acompanhada, é claro, de muita gratidão, porque só posso agradecer tanto pela vida como por ter sido chamado a viver esta vida como religioso e como sacerdote. É um tempo de ação de graças, querendo, também com um pouco de olhar e de balanço da própria vida, do próprio serviço, mas basicamente é de ação de graças, porque o que se recebeu é tanto que realmente só tem que se agradecer ao Senhor com alegria e dizer: ‘Obrigado, me deu tanto tempo e tantas oportunidades e tantas provas da sua graça: obrigado por ter me acompanhado até aqui. Espero ter respondido de uma maneira aceitável ao dom que me deu”.
Dos seus 80 anos, quase 50 foram dedicados ao serviço da Igreja e da Santa Sé no campo da comunicação. O que o senhor aprendeu – embora, é claro, uma síntese é difícil – especialmente a serviço dos vários Pontífices em anos, além disso, marcados por um rápido, rapidíssimo desenvolvimento tecnológico também no campo da informação?
A primeira coisa que aprendi por experiência – e demorei um pouco, porém, para aprender – é que a comunicação para uma pessoa que vive na fé e na Igreja é uma participação na missão de evangelizar, de comunicar, que está precisamente entre as perspectivas em que se pode ver toda a realidade do mundo, da história, da relação com Deus e entre os homens. Eis a comunicação: o nosso Deus é um Deus que comunica, um Deus que se comunicou a nós com palavras, com o envio de Jesus Cristo! Toda a Igreja tem, então, uma missão, que é comunicar, fazer conhecer, difundir esta Palavra do Senhor. Compreender que se alguém é chamado a trabalhar no campo da comunicação, é chamado a colaborar – embora com formas e tarefas específicas – na própria natureza da Igreja e na relação entre Deus e a humanidade.
O senhor é jesuíta, também foi provincial da Itália. Como a espiritualidade inaciana influenciou a maneira como o senhor trabalha na comunicação?
A espiritualidade inaciana nos ensina, nos ajuda, nos educa a ver Deus em todas as coisas, a ver a obra do Senhor ao nosso redor, na realidade e nas pessoas ao nosso lado. Portanto, nos ajuda a ler aquela que é a realidade e as pessoas e os acontecimentos a partir de uma perspectiva de fé, como presença do Senhor que trabalha. Santo Inácio fala do Senhor como alguém que trabalha: isso sempre me impressionou muito. Ele está trabalhando ao nosso redor nos acontecimentos, na história, nas pessoas, e é uma questão de conhecê-lo, de vê-lo, de reconhecê-lo neste seu trabalho e ajudar os outros também a vê-lo, a compreendê-lo e a acolhê-lo nessa sua presença.
João Paulo II, Bento XVI, Francisco. O senhor teve a oportunidade de ser um colaborador próximo dos três últimos Papas. O que o senhor leva, antes de tudo, em nível pessoal, além do profissional, de uma experiência tão extraordinária, quase única?
Sempre concebi o meu trabalho como um serviço e sempre me pareceu claro que o Papa é um servo: o Papa é um grande servo da Igreja e da humanidade, da presença de Deus no mundo. E assim eu fui chamado a servir esse serviço, a colaborar com esse serviço. Com o tempo me pareceu realmente um grande presente, esse chamado à colaboração, porque a missão que os Papas realizam é realmente uma missão maravilhosa para o bem das pessoas, da humanidade, dos crentes. Eu pude colaborar, colocar um pouco todas as minhas forças para ajudar essa missão, no sentido específico então de ajudar a compreendê-la, de torná-la conhecida através dos nossos meios, dos nossos canais de comunicação. Foi um serviço, um grande serviço dos Papas à humanidade e à Igreja. Isso sempre me fascinou e fiquei muito grato por ter sido chamado para esse tipo de trabalho.
Aqueles que tiveram o privilégio de trabalhar com o senhor sabem quanta atenção sempre dedicou aos jovens, ao seu crescimento pessoal e profissional. Hoje, a um jovem que deseja percorrer a profissão de jornalista, que conselho daria?
Diria que a sua pode ser uma profissão maravilhosa, mas que deve ser vivida como vocação: não apenas como uma carreira na qual se desenvolve habilidades técnicas, mas como uma forma através da qual se ajuda as pessoas a encontrar outras, a estabelecer uma comunicação que é compreensão, diálogo mútuo. Uma comunicação que ajuda a conhecer a verdade e não a enganar os outros; na qual se aprende a enfatizar também os aspectos positivos e não apenas o drama do sofrimento ou os problemas colocados pelo mal e pela injustiça. Certamente esses devem ser denunciados, mas é necessária também a capacidade de mostrar uma presença, muitas vezes um pouco mais escondida mas igualmente importante, do bem, do amor. Devo dizer que nos melhores momentos de serviço, mesmo dos Papas, na comunicação tive a própria experiência, a impressão de que até os colegas jornalistas ficassem felizes em descobrir a beleza de seu trabalho como comunicadores porque colaboravam na divulgação de mensagens que eram positivas para a humanidade através das quais o serviço deles, como comunicadores, devem ser. Isso me parece ser o ideal para se mover no campo da comunicação, com toda a paciência e concretude necessárias para aprender, dia após dia, para se comunicar bem também do ponto de vista profissional. Não deixar-se dominar por habilidades técnico-profissionais, mas saber que essas devem ser colocadas a serviço de algo grande e belo a fim de construir juntos uma sociedade e uma comunidade eclesial civil que seja digna.
O senhor tem 80 anos, mas ainda é ativo no campo da informação, na ‘La Civiltà Cattolica’, e também no Vaticano como presidente da Fundação Ratzinger-Bento XVI. Pode-se dar muito mesmo como pessoa idosa, como o Papa Francisco enfatizou em suas recentes catequeses sobre a chamada terceira idade …
Até que se possa, desde que se tenha força, é claro que é bom executar o serviço que se pede para fazer. Às vezes, é um serviço que muda um pouco no estilo, na natureza e também em seus efeitos: uma pessoa idosa talvez se sinta menos chamada a estar atualizada das últimas notícias, mas mais sobre a reflexão, a busca do sentido das coisas, dos valores, mas também sobre o futuro, porque não devemos recuar em nós mesmos. Um futuro no qual coisas essenciais continuam a orientar o caminho. Precisamente, um pouco tradicionalmente, considero que a verdade, o bem, o belo continuam sendo os pontos de referência da nossa vida e da nossa perspectiva de esperança.