No encerramento do Mês Missionário, padre comenta detalhes da última exortação apostólica do Papa Francisco sobre Santa Teresinha, padroeira das missões
Julia Beck
Da redação
O mês de outubro, mês missionário para a Igreja no Brasil, foi marcado por três grandes acontecimentos para a Igreja: a realização da primeira sessão do Sínodo sobre a Sinodalidade e a publicação de duas Exortações Apostólicas, a Laudate Deum (no dia 4) e a C’est la Confiance (no dia 15). Esta última foi publicada por ocasião dos 150 anos do nascimento de Santa Teresa do Menino Jesus e da Santa Face, padroeira das missões.
Sobre este último documento do Papa Francisco, dedicado à santa, o devoto e padre da Diocese de Lorena, Gustavo Martins, destaca o título – que remete a uma fala da santa (“Só a confiança e nada mais do que a confiança tem de conduzir-nos ao Amor”).
“A espiritualidade de Santa Teresinha é profundamente evangélica, profundamente cristã. Se no início do ser cristão está o encontro com uma Pessoa divina, como nos recorda o saudoso Papa Bento XVI, é no contato com essa mesma Pessoa, mediante uma relação pautada pela confiança e abandono, que se deve desenrolar a vida cristã”, pontua o presbítero.
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O sacerdote frisa que “só a confiança…”, isto é, só no ato de abandonar-se inteiramente nos braços de outrem que se pode alcançar verdadeiramente o seu amor. Com Deus, ele explica que não é diferente: “somente quando nos abandonamos n’Ele, encontramos o Amor do seu coração. Daí o título deste documento traduzir com perfeição a doutrina espiritual dessa grande/pequenina Santa!”.
Alma missionária
Um dos destaques dados pelo Papa no texto é a “alma missionária” da santa. Padre Gustavo afirma que para Santa Teresinha, a evangelização se dá pela via da atração, ou seja, por meio da força irresistível do amor de Deus, quando se deseja conduzir as pessoas ao seu Coração misericordioso.
“Amar Jesus e fazê-lo amar”. Segundo o presbítero, esse era o grande segredo missionário da Santa de Lisieux. Mais do que apresentar jargões, ele ressalta que Santa Teresinha tinha consciência do essencial da vida missionária, que é conduzir aqueles que estão dispersos e distantes ao amor de Jesus.
Padre Gustavo lembra que, não à toa, apesar de sempre ter vivido em sua clausura, Santa Teresinha foi proclamada a “Padroeira das Missões”. Nesse sentido, ele reforça que a evangelização nada mais é que apresentar o Amor às almas, de modo que se deixem conduzir e atrair por Ele.
Caminho da infância espiritual
Uma das descobertas mais importantes de Teresinha foi o caminho da confiança e do amor, conhecido também como o caminho da infância espiritual. Segundo Francisco, todos o podem seguir, em qualquer estado de vida, nos mais diversos momentos.
Este caminho, também conhecido como “pequena via”, explica padre Gustavo, consiste no abandono confiante ao amor misericordioso de Jesus, ao modo das crianças que, sabendo do cuidado e amor de seus pais, se entregam a eles sem medo, sem hesitação.
“No caminho da infância espiritual, tornar-se pequeno é um imperativo para crescer no amor. Não precisamos nos desesperar das nossas debilidades, ao constatarmos as nossas inúmeras e profundas fraquezas, mas devemos entregá-las confiantemente a Jesus, que saberá o que fazer com elas. Se Deus coloca em nosso coração o desejo da santidade, isso não é uma realidade irrealizável, como nos recorda Teresinha! A Ele compete tanto o querer como o fazer em nós (Cf. Fl 2,13)”.
De acordo com o presbítero, é preciso confiar que Deus santificará cada pessoa em um caminho único, a partir da colaboração e generosidade particular de cada um. “A santificação no caminho da pequena via se dá mediante os pequenos atos e obras de amor que realizamos no dia a dia. Se nos falta a heroicidade dos grandes santos, não precisamos nos desesperar! Jesus se compraz das pequenas almas, porque a elas pode dar aquilo que não têm, elevando-as em sua pequenez e nada”.
Amor pela Igreja
Santa Teresinha teve um grande amor pela Igreja. Para compreender este amor, o sacerdote frisa primeiramente que a Igreja não é uma instituição meramente humana, embora seja composta por homens e mulheres de carne e osso, cheios de fraquezas e pecados. Ela tem sua dimensão sobrenatural, isto é, o mistério dentro do qual se manifesta e a partir do qual se define intimamente.
O que caracteriza a Igreja, prossegue padre Gustavo, é muito mais o seu caráter sobrenatural e invisível, do que aquilo que se apresenta com certo “alarde” e “escândalo”. “O essencial da Igreja é o amor. Esta foi a intuição sobrenatural de Santa Teresinha. Na Igreja, tudo se resume e se orienta para ele. A sua força motriz, eficácia e sentido residem no amor, dom do alto que vivifica e plenifica todo o Corpo místico de Cristo”.
O sacerdote afirma que a vida de Santa Teresinha comprova essa verdade: “escondida na clausura do Carmelo, sua força espiritual e genialidade irradiaram em toda a Igreja, mostrando assim que não são as limitações visíveis institucionais que definem o que a Igreja é, mas a força do amor ardente de seu Coração, onde a Santa se sentia inserida e realizada”.
As rosas associadas a Santa Teresinha
Após a sua morte, a santa disse que faria chover uma “chuva de rosas” sobre a Igreja, não ficando inativa no Céu. Deste modo, padre Gustavo acrescenta que ela pressentia que sua missão estava apenas começando, pois ela se estenderia até a eternidade em favor de todos, por amor e no amor.
Para o presbítero, a entrega de Santa Teresinha a Jesus pela santificação das almas foi tão real e generosa, sua abertura ao próximo e zelo pela salvação dos pecadores foi tão intenso, que não poderia acabar após sua partida deste mundo.
“Agora, gozando das alegrias do Céu e ao lado de seu Divino Esposo, poderia conferir muito mais às almas, às quais se consagrou incondicionalmente. A vivência de sua doutrina espiritual, profundamente enraizada nas páginas dos Evangelhos, a conduziu ao dom total de si, dom que continuará até à eternidade”, reforça.
Sobre ser considerada a “Santa das Rosas”, o sacerdote explica que as “rosas” simbolizam as graças que derramaria sobre aqueles que recorressem a ela. Ele pontua que a santa tinha o sonho de continuar a obrar pelo bem da Igreja depois de sua páscoa, a fim de conduzir as almas ao amor de Jesus, a quem se dedicou na terra e por quem continuaria a se dedicar no Céu, para a salvação do mundo.