Secretário do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida do Vaticano comenta devoção à Virgem Maria e valor da piedade popular mariana
Julia Beck
Da redação
Quatro jovens católicos e quatro experiências marianas. Essa é a ligação existente entre Marcelly da Silva, Jade Aquino, Luiz Gustavo Alves e Taynara Vilela. Naturais de diferentes cidades do Vale do Paraíba, berço da devoção a Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil, os jovens relatam, neste início do mês de maio, dedicado à Virgem Maria, histórias e expressões de devoção vividas até aqui.
Natural de São José do Barreiro (SP), a cirurgiã dentista, Marcelly, revela que seu contato com Nossa Senhora começou logo em seu nascimento. A jovem nasceu dias após o período natural de gestação e, no parto, sofreu uma lesão, uma paralisia do plexobraquial. “Nasci com os braços dobrados e nas costas”. Segundo a cirurgiã dentista, os pais recorreram a Nossa Senhora pedindo pela vida e pela saúde da filha.
Com o tempo, os braços de Marcelly retornaram ao local natural, mas ela continuou com somente metade dos movimentos do braço direito. A jovem revela que foi uma superação ter conseguido realizar a faculdade e atribui à intercessão de Nossa Senhora o fato de ter conseguido um financiamento do governo para realizá-la. “Todos os anos, sempre faço a novena dela, e sempre procuro saber mais sobre ela. Todos os dias, quando eu entro no consultório e antes de atender qualquer paciente, sempre rezo uma Ave-Maria”.
A estudante Jade Aquino afirma que, apesar do amor pela Virgem Maria sempre ter existido, foi quando sua filha nasceu que a relação se tornou ainda mais forte. A estudante conta que a menina precisou ser internada logo após o parto, e que rezou incessantemente aos pés da imagem de Nossa Senhora das Graças que tinha em seu quarto, no hospital. Anos depois, a filha de Jade foi diagnosticada com um problema de saúde e necessitava de uma cirurgia delicada.
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“No dia da operação, saí sem rumo andando pelo hospital e acabei parando em uma capela, a qual, mais uma vez, era dedicada a Nossa Senhora das Graças. Como não acredito em coincidências, mas sim que Deus sempre tem propósitos para as situações da nossa vida, percebi que era a prova de que Maria estava, constantemente, intercedendo por mim, e principalmente, pela minha filha”, revela Jade, que teve mais uma graça alcançada.
O engenheiro mecânico Luiz Gustavo conta que foi também em um hospital que viveu uma forte experiência com Nossa Senhora. “Em 2009, precisei fazer uma cirurgia de apendicite urgente. Foi um momento em que fiquei totalmente desanimado”. O jovem afirma que a família e os amigos tiveram um papel muito importante em sua recuperação.
“Recebi muitas visitas e orações, mas dois momentos ficaram marcados em mim: a visita da esposa do meu primo, que me presenteou com a imagem de Santa Rita de Cássia, a qual guardo e para a qual peço intercessão até hoje; e a uma visita que recebi de uma senhora, que não era conhecida de ninguém da minha família. Ela entrou para rezar por mim e, antes de sair, disse para minha mãe que eu estava sendo curado da infecção. (…) Logo depois que ela saiu, minha mãe foi agradecer, mas já não a encontrou. Senti que era Nossa Senhora que estava comigo”.
A estudante Taynara Vilela revela que sua devoção é antiga e cheia de significado. “Pelo fato de eu não ter minha mãe presente fisicamente comigo, eu me sinto muito acolhida por Ela, que supre essa falta de uma maneira extraordinária. Nossa Senhora é consolo, é base, é Ela quem me leva para perto de seu Filho. Quem crê na existência dela jamais se sentirá órfão!”.
Tradição e piedade popular mariana
O secretário do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida do Vaticano, padre Alexandre Awi Mello, lembra que comemorar Nossa Senhora no mês de maio é uma bonita tradição que remonta à Idade Média, e que tem sua origem em diversas tradições surgidas desde o século XII.
O sacerdote frisa que o primeiro dia do mês de maio, em uma tradição pagã, era dedicado à natureza. “Os cristãos começaram a contrapor essa tradição à celebração de Maria como Rainha do Céu, Rainha da Primavera, a Rosa das rosas. Fizeram com que uma tradição pagã tivesse sido reinterpretada por uma tradição cristã”.
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A devoção mariana originada de histórias como a dos quatro jovens católicos e outras expressões dão significado ao que a Igreja nomeia por piedade popular mariana. Padre Alexandre conta que essa piedade popular é a expressão de uma espiritualidade do povo de Deus. “São parte de uma cultura, de um povo evangelizado”.
“Quando essa piedade popular se manifesta em devoções, peregrinações e diversos tipo de oração e expressões de fé espontâneas do povo de Deus e se dirige diretamente a Maria, então é chamada de piedade popular mariana”. Essas expressões, de acordo com o sacerdote, têm uma grande contribuição a dar para a evangelização.
O Papa Francisco, recorda padre Alexandre, faz uma verdadeira apologia, defesa e exaltação da importância da piedade popular para a vida dos cristãos no sentido de ser um verdadeiro canal privilegiado de evangelização.
“Não devemos olhar a piedade popular como uma coisa de segunda categoria ou um tipo de expressão pouco culta, inteligente ou teológica. Na verdade, é uma profunda teologia que vem do sensus fidelium, do sentido de fé de um povo que justamente manifesta o seu amor a Deus, a Nossa Senhora, de forma afetiva, profundamente enraizada em sua cultura”.
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Segundo o sacerdote, a piedade popular deve ser um “trampolim” para que as pessoas possam crescer ainda mais na sua relação com Deus e com a Igreja. “O amor por Deus manifestado na piedade popular é, muitas vezes, mais profundo do que o daqueles que podem ter teologia. O Papa Francisco costuma dizer que, se queremos saber quem é Maria, o que é a Igreja, devemos perguntar aos teólogos, mas se quisermos saber como amar Maria e amar a Igreja, devemos perguntar ao povo de Deus, porque o povo de Deus, nessa sua relação com Maria e com a Igreja, manifesta uma afetividade que não é simplesmente sentimentalismo, mas uma expressão de fé profunda”.