A Sexta-feira Santa é um momento de jejum, oração e penitência, tempo favorável de meditar a vida que vence a morte
Nathália Cassiano
Da Redação
Silêncio e adoração marcam a Igreja Católica nesta Sexta-feira Santa, quando os fiéis celebram a Paixão do Senhor. Este não é um momento de luto, mas um dia de contemplar o amor de Deus por cada um de seus filhos.
O bispo auxiliar da arquidiocese de São Salvador (BA), Dom Valter Magno de Carvalho, explica o significado desta celebração. “A paixão é o ponto culminante da missão de Jesus, é o amor levado até às últimas consequências. Contemplar a paixão é contemplar a cruz. A maior proclamação de amor é a vitória de Jesus sobre a morte.”, pontuou o bispo.
Segundo o assessor de Ensino Religioso (CNBB), padre Eduardo Rocha, celebra-se o sofrimento de Jesus e sua entrega total e definitiva à cruz. O madeiro é o grande sinal deste dia, não apenas como objeto de tortura e escárnio, mas como altar do santo sacrifício onde Cristo se doa por cada um dos fiéis.
“Na sexta feira nós celebramos a Paixão de Jesus. Ele é torturado de uma forma pública, é escarnecido e na cruz Ele assume a morte, abraça a morte. Na cruz, celebramos o sofrimento de Jesus e sua entrega total e definitiva”, explica o sacerdote.
Os ritos desta celebração
O rito inicia-se com a entrada da Cruz, simbolizando salvação e esperança. A caminhada é silenciosa, sem cântico, e seguida da Liturgia da Palavra. Padre Eduardo detalha que, após a Liturgia da Palavra, vem a oração universal, momento em que a Igreja reza por si, mas também pelas realidades que estão para além dela mesma, pelos judeus, e por aqueles que não creem em Jesus, pelos poderes públicos, e todos de maneira geral.
Por fim, um gesto simbólico e cheio de significado: a adoração da cruz, com a proclamação “Eis o lenho da cruz do qual pendeu a salvação do mundo”. A assembleia responde “Vinde adoremos”, frase que faz referência a Jesus que se entregou na cruz por amor a cada um dos homens. “No final, se despede com o beijo na cruz, como sinal de respeito e solidariedade”, explica o padre.
Sentido profundo da morte de Cruz
Refletindo sobre o sentido da morte de Jesus, o diácono da Comunidade Nova Aliança, Júlio Neto, afirma que Deus nunca se afasta do homem, mas o homem se afasta de Deus. E que Jesus crucificado representa o alto preço pago por esta dívida da humanidade.
“O Filho de Deus oferece sua vida como pagamento da dívida que nos cabia, nas chagas de Jesus nós temos a quitação da conta que já foi paga”, explicou.
O diácono da Paróquia Santo Antônio em Garabira (PB), Igonaldo Sobral Luna, diz que o sentido mais profundo é se revestir e ter respeito e sobretudo entender que tudo isso foi feito por amor a cada filho de Deus. Ele explica ainda que a mensagem que deve permanecer no coração de cada fiel é a da vitória sobre a morte, mesmo passando por tudo no passado, o Emanuel venceu. “Se seguirmos os passos do Mestre, cada pessoa também conseguirá vencer suas lutas do dia a dia”, expressou.
As sete palavras de Jesus
No momento de profunda dor e sofrimento, Jesus ainda assim se lembra da humanidade e naquele momento de agonia no alto do madeiro, resolve sair de si e suspira as sete palavras revelando sua identidade e missão:
“Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem”(Lc 23,34);
“Hoje estarás comigo no paraíso” (Lc 23,43);
“Mulher, eis o teu filho; filho, eis a tua mãe” (Jo 19,26);
“Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?” (Mt 27,46);
“Tenho sede…” (Jn 19,28);6.
“Tudo está consumado” (Jo 19,30);
“Pai, em tuas mãos entrego meu espírito” (Lc 23,46)
Procissão do Senhor Morto
Em alguns lugares, se realiza a procissão do Senhor Morto que utiliza as 14 estações da Via-Sacra, onde cada cristão revive os momentos de sofrimento de Jesus.
“A procissão é marcada pela certeza de que a morte não é a última palavra, o amor não morre, não abandona o outro”, explica padre Eduardo.
O sacerdote finaliza dizendo que, para muitos, a cruz simboliza um momento de fracasso, de tristeza, mas a cruz não é o fim. “O madeiro é sinal de esperança e do abraço de Deus em toda a humanidade”.