EM DIREÇÃO À PAZ

Libertar reféns é o primeiro passo à paz, afirma cardeal Pizzaballa

Patriarca Pizzaballa elogia a libertação de alguns reféns pelo Hamas e a correspondente libertação de prisioneiros palestinos por Israel como um primeiro passo para o fim da guerra na Terra Santa

Dom Pierbattista Pizzaballa O.F.M., Patriarca de Jerusalém dos Latinos / Foto: Reprodução TV Canção Nova

Da redação, com Vatican News

A libertação de vários reféns é um primeiro passo para o fim da guerra em curso entre Israel e o Hamas. O Patriarca Latino de Jerusalém, Cardeal Pierbattista Pizzaballa falou sobre o assunto na seguinte entrevista concedida ao periódico Vatican News.

Vatican News — Como você comentaria as notícias das últimas horas?
Cardeal Pizzaballa — O fato de ter sido alcançado um acordo sobre a libertação de pelo menos alguns dos reféns é positivo, porque até agora o único canal de comunicação tem sido o militar. Em vez disso, desta forma, foi dado um primeiro passo no sentido de aliviar a tensão interna e internacional. É também uma forma de começar a implementar soluções diferentes das militares: refiro-me a soluções para o fim do conflito.

Vatican News — Houve diferentes reações à notícia da libertação dos reféns, certamente de satisfação. Mas também houve alguns comentadores que acreditam que, na verdade, a negociação em si representa de alguma forma uma derrota…
Cardeal Pizzaballa — Aqueles que, vamos chamá-los de ‘falcões’, querem identificar a paz com a vitória podem pensar assim. Mas a paz, a solução para o conflito, não pode ser uma vitória absoluta. Isso não existe. Portanto, fica claro que a solução não pode ficar apenas nas mãos dos militares. É claro que a política deve assumir o controlo da situação, oferecendo sobretudo perspectivas, porque os militares não as têm. Fica claro, portanto, que as negociações e a libertação dos reféns são os primeiros passos para então iniciar caminhos de perspectivas políticas para Gaza após esta guerra. Isto é o que é necessário.

Vatican News — Ouvimos notícias de que pessoas deslocadas na parte norte de Gaza estão a tentar regressar ao que, na maioria dos casos, imagino, são casas destruídas.
Cardeal Pizzaballa — O que isto significa? Pelo que pude entender, essa possibilidade ainda não existe. Alguns querem regressar porque a situação, mesmo no sul de Gaza, onde todos estes milhões de pessoas estão aglomeradas, não é fácil. Então eles querem sair de lá; Eu entendo isso muito bem. Mesmo os nossos cristãos que estão trancados dentro daquela pequena igreja dificilmente aguentam mais. Mas enquanto não houver perspectivas políticas claras ou clareza sobre as próximas fases, isto ainda não será possível e também pode ser perigoso.

Vatican News — Como o terrorismo pode ser derrotado? Como derrotar uma ideologia como a do Hamas?
Cardeal Pizzaballa — Não é fácil. É preciso retirar, aos poucos, com paciência — demora muito — tudo o que alimenta essa ideologia. Então, devemos remover as raízes. É inútil cortar os ramos porque estes podem voltar a crescer. Em primeiro lugar, temos de dar uma perspectiva aos palestinianos. Eu disse isto, e sei que não agradou a muitos: é preciso dar-lhes uma perspectiva nacional, que ainda não têm. Esta guerra é um testemunho muito claro de que os dois povos não podem coexistir, pelo menos não neste momento. Terão de ter perspectivas claras, definidas e precisas, mais do que foi feito até agora. Depois há outro aspecto. O Hamas também é uma ideologia religiosa. Portanto, o diálogo inter-religioso é muito importante, assim como é muito importante fomentar um discurso religioso que não esteja centrado no ódio.

Vatican News — O que podemos fazer como cristãos, mas geralmente como pessoas que, mesmo vivendo longe desses lugares, se sentem próximas deles, porque são os lugares da vida terrena de Jesus? O que pode ser feito também ao nível da opinião pública?
Cardeal Pizzaballa — Em primeiro lugar, os fiéis podem orar, que é a primeira coisa a fazer. Depois, existe também uma necessidade real, até mesmo humanitária, de apoio. Outro aspecto importante: tenho notado que se criaram fortes divisões no mundo, umas contra as outras. Parece quase impossível amar os dois lados. Acredito que é importante, como cristãos, sermos claros no nosso discurso, mas não exclusivos. Chamar as coisas pelo nome, na verdade, e, ao mesmo tempo, tentar manter o relacionamento aberto com todos e dizer a todos, de ambos os lados, que os amamos.

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