Padre e professor de História da Igreja explicam o que são os dogmas e o porquê de ser parte da fé do católico acreditar neles
Julia Beck
Da redação
O dogma da Imaculada Conceição de Maria, proclamado em 1854 pelo Papa Pio IX, é celebrado nesta terça-feira, 8. A data, que não é feriado nacional, e sim dia santo de preceito, conta sempre com a participação de católicos em celebrações no mundo todo e com um ato de homenagem à Virgem Maria na Praça Espanha, uma tradição entre os Papas. Este ano, por conta da pandemia da covid-19, o gesto havia sido cancelado, mas o Papa Francisco depositou um maço de rosas brancas na base da coluna onde se encontra a imagem de Nossa Senhora..
Mas o que seria um dogma? O reitor do Santuário Dom Bosco de Lorena (SP), padre Edson Donizetti Castilho explica que um dogma é uma verdade de fé proclamada em ato solene pela Igreja após longos e profundos estudos de ordem bíblica e teológica-espiritual. “Apresenta-se amparado também por elementos ligados à mais genuína e autêntica tradição”, esclarece.
O professor de História da Igreja, Felipe Aquino comenta que, no caso do dogma da Imaculada Conceição de Maria, a Igreja sempre acreditou que Maria foi concebida sem o pecado original e também não teve nenhum pecado pessoal.
“O que acontecia é que, de vez em quando, surgia alguma dúvida de algum teólogo sobre o tema, então, para botar fim a isso, o Papa proclamou como dogma de fé, ou seja, algo que não pode ser mudado e que todo cristão deve acreditar, que Maria Santíssima, em razão dos méritos do seu Filho Jesus Cristo, foi concebida sem a mancha do pecado original.”
Aquino comenta também que a verdade de fé proclamada por um Papa consiste também em um dogma. “Segundo a Igreja, quando o Papa proclama um dogma, ele tem a assistência do Espírito Santo e ele não erra”, explica.
Desta forma, padre Edson afirma que, para o cristão-católico, resta inquestionável a Imaculada Conceição de Maria. “Por isso a Igreja canta, na Solenidade da Imaculada, a belíssima oração “Tota pulchra es, et macula originalis non est in te” (Tu és toda formosa/bela, Maria, e a mancha original não há em ti)”.
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Esse dogma, esclarece o sacerdote, é tão importante que a teologia de modo geral (a trinitária, a cristologia, soteriologia, eclesiologia, antropologia, teologia espiritual), em algum momento se encontra com a riqueza da mariologia. Padre Edson recorda que o Papa João Paulo II, já proclamado santo, afirmou que “o dogma da Imaculada Conceição pode-se dizê-lo uma maravilhosa síntese doutrinal da fé cristã” (Ângelus, (8 de dezembro de 1988).
Jesus não tinha nem nascido ainda, nem passado por sua paixão, quando Deus concedeu a Maria a salvação, comenta o professor de História da Igreja. “Sabemos que para Deus não há passado e futuro, tudo é presente. Então, no presente de Deus, Ele antecipou a graça da salvação para Nossa Senhora. Nós fomos salvos do pecado original pelo batismo, Nossa Senhora foi salva por antecipação”.
O católico acredita no dogma
“Precisamos saber que o católico precisa acreditar nos dogmas. A nossa fé está intimamente ligada aos dogmas. Todo o credo, todos os 12 artigos do credo são dogmáticos e nenhum católico pode duvidar”, destaca Aquino.
Padre Edson frisa que o católico precisa acreditar em Jesus Cristo, mas também em tudo aquilo que Jesus Cristo, o Filho Unigênito do Pai, revelou. “A verdade revelada por Jesus Cristo é o fundamento da nossa fé”, complementa. O sacerdote sublinha que como a Igreja é assistida pelo Espírito Santo, assim, tudo o que é proclamado em ato solene pela Igreja como verdade de fé, deve ser amorosamente acolhido pelos católicos.
Maria como inspiração na busca pela santidade
É claro que somente a Virgem Maria foi concebida sem o pecado original, aponta o sacerdote. “Isso a faz única!”. “Nós que vivemos envolvidos pelo “mysterium iniquitatis” (o mistério do pecado), encontramos em Maria, a Virgem Imaculada, um modelo de vida e de fidelidade a Deus; mais ainda: uma mestra, capaz de nos ensinar, por suas palavras e atitudes, o caminho que conduz a um autêntico empenho de fidelidade e de santidade”.
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De acordo com padre Edson, é preciso se espelhar na força inquietante da fé de Maria no encontro com tantas adversidades e sofrimentos, com a exuberância de sua coragem diante de situações aparentemente até irracionais/ilógicas, com o testemunho de sua generosa solidariedade, com a beleza de sua tão silenciosa quanto operosa humildade na contemplação dos mistérios divinos.
“Podemos afirmar que a casa de Nazaré, onde Maria viveu, é uma preciosa escola de fé e amor, a ser constantemente visitada por todos aqueles que querem crescer numa autentica fidelidade a Cristo e a seu Evangelho”. – Padre Edson Donizetti
Professor Felipe acrescenta que homens e mulheres precisam também da graça de Deus e da intercessão de Nossa Senhora, além de buscarem seguir os seguintes passos: rezar, confessar-se, comungar e participar da santa missa.
Medalha milagrosa e a pandemia
Quando Nossa Senhora apareceu em 1930 a Santa Catarina Labouré, a própria Virgem pediu que fosse cunhada uma medalha, chamada de medalha milagrosa, e dizia que quem a usasse com devoção e rezasse, receberia muitos milagres, afirma Aquino.
O professor constata que foi isso que aconteceu. “Ela apareceu em Paris, em um período de pandemia, como hoje vivemos aqui. Milhares e milhares de pessoas foram curadas da peste a ponto de o povo chamar a medalha de milagrosa. Então vale a pena continuarmos usando esta medalha, principalmente nós que estamos vivendo uma pandemia”.
Celebrar esta festa de Nossa Senhora concebida sem pecado, neste tempo de pandemia, exorta os católicos, de acordo com padre Edson, a aprenderem com Maria, sobretudo, sobre uma esperança viva diante daquilo que ultrapassa a humana capacidade de compreensão.
“O projeto que o Pai lhe propôs, humanamente falando, lhe parecia impossível. Trouxe inquietude ao seu coração de jovem mulher; fez com que seus planos mudassem radicalmente, transtornaram, num primeiro momento, seus dias e seus sonhos. A fé de Maria, no entanto, se sobrepôs”.