Solenidade

Padre e teólogo explicam sentido da Imaculada Conceição de Maria

Igreja celebra a Imaculada Conceição de Nossa Senhora neste domingo; no Brasil, devoção à Virgem é datada desde o século XVII

Julia Beck
Da redação

Imagem de Nossa Senhora da Imaculada Conceição/ Foto: Wesley Almeida – Canção Nova

“Toda santa”. Assim Nossa Senhora é definida pela Igreja por meio de um dos quatro dogmas marianos, o da Imaculada Conceição. Proclamado pelo Papa Pio IX, este dogma – uma verdade de fé, foi firmado a partir da bíblia e da tradição eclesial, e será celebrada neste domingo, 8. Os outros dogmas relacionados à Virgem Maria são: Maternidade Divina, Virgindade Perpétua e a Assunção.

Irmão Afonso Murad/ Foto: Arquivo Pessoal – Irmão Afonso

Teólogo e membro da Academia Marial, Irmão Afonso Murad relata que a temática da Imaculada Conceição surgiu no antigo ocidente, na discussão sobre o pecado original levantada por Santo Agostinho. Segundo o religioso, São Paulo afirma que o ser humano carrega em si uma divisão interior, um desejo que não se orienta para Deus, e Santo Agostinho afirma juntamente do Concílio de Orange, que o ser humano precisa ser resgatado em Cristo.

“E o que aconteceu com Maria? Quando é que Maria foi libertada do pecado original?”, indaga Irmão Afonso, que explica: “A teologia contemporânea interpreta a Imaculada Conceição não somente como a ausência do pecado original, mas principalmente, como a presença de uma graça original que faz de Maria um ser humano livre, integrado e inteiro”.

O religioso prosseguiu: “Essa reflexão se baseia em São Paulo. Paulo dizia que antes da criação do mundo, Deus nos escolheu em Cristo para sermos diante dele santos e sem mancha. Ora, se esse é o projeto de Deus para todos nós, o pecado original e os pecados atuais fizeram com que o ser humano ficasse frágil. Maria recebe esse dom especial que a faz mais inteira. Maria não é mais humana que nós, e sim mais humana que nós de acordo com o projeto inicial de Deus”.

Antes que a Igreja tivesse professado de modo solene este dogma da Imaculada Conceição de Maria, já havia, desde os primeiros séculos do cristianismo, a compreensão de que Nossa Senhora fora preservada do pecado original em vista dos méritos da redenção de Cristo, explicou padre Gustavo Uchôa, pároco da Igreja Nossa Senhora Aparecida e Santo Expedito, localizada em Lorena (SP). “O povo de Deus que outrora já venerava a Mãe de Deus como a ‘Panaghia’ – a toda santa, ainda hoje a celebra como Imaculada”, completou o sacerdote.

Propagação da devoção

“A partir da experiência de fé da jovem Bernadette Soubirous, propagou-se ainda mais a compreensão de Maria Imaculada, as aparições em Lourdes deram visibilidade ao dogma proclamado quatro anos antes pelo Santo Padre Pio IX”, contou padre Gustavo.

A simplicidade da vidente confirmava, segundo o sacerdote, que os fenômenos eram extraordinários, ainda que houvesse rejeição à pessoa, tornava-se cada vez mais impossível rejeitar os fatos comunicados. O fato da própria Virgem apresentar-se dizendo: “Eu sou a Imaculada Conceição”, decorreu uma verdadeira devoção a este título, constatou o sacerdote.

A Imaculada Conceição de Maria no tempo do Advento

No Advento, Irmão Murad afirma que a figura de João Batista, o precursor do Messias, e de Maria, que toda inteira disse sim ao projeto divino, são destacadas. “Esse é o sentido teológico de colocar a festa da Imaculada Conceição no tempo do Advento, pois é uma preparação para a vinda de Jesus”, completou.

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De acordo com padre Gustavo, mais que associada à vinda do Salvador, a solenidade celebrada na Igreja não diz respeito somente à Virgem Maria, mas também à escolha de Deus por toda a humanidade. “Por amor a nós escolheu a Mãe do Salvador, que ‘veio habitar entre nós’ (cf. Jo 1,14)”.

Nossa Senhora Aparecida

Imagem de Nossa Senhora Aparecida/ Foto: Wesley Almeida – Canção Nova

Por influência de Portugal, onde grande era o culto à Nossa Senhora da Conceição, difundido desde o século XVII por Dom João IV, monarca que dedicou o reino à Virgem Imaculada, no Brasil a primeira imagem chegou com Pedro Álvares Cabral, conta padre Gustavo. O sacerdote revela que, desde os tempos primeiros da colonização, Nossa Senhora da Conceição foi tida como protetora do Brasil, depois proclamada Padroeira do Império por Dom Pedro I.

A devoção herdada pelos portugueses mostra-se mais intensa no estado de Minas Gerais, por meio das obras barrocas, com destaque para as imagens antigas de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, contou Irmão Afonso. Segundo o religioso, este fato prova a percepção do povo acerca da redenção de Maria. “A devoção à Imaculada é muito forte no Brasil”, constatou.

Pároco da Igreja Nossa Senhora Aparecida e Santo Expedito, localizada em Lorena (SP), padre Gustavo Uchôa/ Foto: Arquivo Pessoal/ Padre Gustavo

Somente no século XX, com a República, Nossa Senhora Aparecida tornou-se protetora do Brasil. A relação entre estes dois títulos é explicada por Irmão Afonso: “A imagem encontrada no rio pelos pescadores era a imagem da Imaculada Conceição, provavelmente feita por um artista português”.

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Atualmente a devoção a Nossa Senhora da Conceição Imaculada continua viva entre os católicos de todo o Brasil, constata padre Gustavo. “Inclusive, em nosso país celebramos sempre tal data no domingo seguinte ao dia oito de dezembro, quando a mesma ocorre durante dias da semana, com o propósito de que um maior número de fiéis possa participar da solenidade da Imaculada Conceição. Em muitas paróquias celebram-se novenas, atos de devoção, procissões para venerar e festejar a Mãe de Deus”, contou.

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