Solidariedade

Igreja celebra 6º Dia Mundial dos Pobres neste domingo

Data instituída pelo Papa Francisco chama atenção aos mais necessitados; veja testemunhos de quem trabalha em prol deles

Mauriceia Silva
Da Redação

Foto RODNAE Productions Pexels

Neste domingo, 13, a Igreja celebra o Dia Mundial dos Pobres. Iniciativas em todo o mundo fazem valer as palavras do Papa Francisco no auxílio aos menos favorecidos. No cerne da mensagem para a data deste ano, o Papa recorda que o apóstolo Paulo dirige-se aos cristãos de Corinto para fundamentar o seu compromisso de solidariedade para com os irmãos necessitados: “Jesus Cristo fez-Se pobre por vós” (cf. 2 Cor 8, 9).

A data foi instituída na conclusão do Ano Santo Extraordinário da Misericórdia, em 20 de novembro de 2016. “Este dia pretende estimular, em primeiro lugar, os crentes, para que reajam à cultura do descarte e do desperdício, assumindo a cultura do encontro. Ao mesmo tempo, o convite é dirigido a todos, independentemente da sua pertença religiosa, para que se abram à partilha com os pobres em todas as formas de solidariedade, como sinal concreto de fraternidade”, explicou o Pontífice na época. 

Desde então, instituições religiosas, leigos e pessoas de boa vontade em todo o mundo têm voltado os olhares para os menos favorecidos. No Brasil, nos primeiros anos, a CNBB confiou a animação e a mobilização do Dia Mundial dos Pobres à Cáritas Brasileira, que já realizava a Semana da Solidariedade. A partir da III Jornada Mundial dos Pobres, as Pastorais e Organismos Sociais ligados à Cepast-CNBB assumiram coletivamente a animação e mobilização da data.

Os pobres no pontificado de Francisco

Membro do Comitê de Formação e Mística da Cáritas Brasileira e da Caritas Diocesana de Criciúma (SC), Neuza Mafra recorda que a Jornada Mundial dos Pobres visa sensibilizar a sociedade, as pessoas e a própria Igreja para a solidariedade transformadora. Esta se dá, destaca Neuza, através da prática da justiça social, de modo a incidir na construção de uma cultura de solidariedade. 

“Essa ação vai além de um evento pontual – o Dia Mundial dos Pobres – e deve antes constituir-se num processo para o enfrentamento de realidades que atingem mais diretamente os pobres, como a fome, por exemplo.” Para Neuza, isso significa ir à raiz das causas geradoras da pobreza, como afirmou  o Papa Francisco. Ela recorda que desde o início de seu pontificado, Francisco tem sido incisivo na defesa dos empobrecidos, dos vulneráveis, para os quais tem um olhar compassivo, misericordioso. 

“Essa é sua marca. Ao dirigir-se aos Movimentos Populares, por estarem mais próximos dos empobrecidos, foi firme ao lembrar das inúmeras privações a que são submetidos: ‘Nenhuma família sem casa, nenhum camponês sem terra, nenhum trabalhador sem direitos, nenhuma pessoa sem a dignidade que o trabalho dá’.”

O trabalho caritativo da Aliança de Misericórdia

Também atuando fortemente junto aos pobres no Brasil, a Comunidade Católica Aliança de Misericórdia busca ser uma expressão viva do amor misericordioso que brota do coração de Deus através da sua Igreja. Uma atenção especial para com os mais pobres material e espiritualmente, sintetizada na expressão “Evangelizar para Transformar”, é o que afirma a Irmã Hellena da Cruz, Missionária da Comunidade.

Segundo ela, o Dia do Pobre também vem tornar evidente a missão da comunidade. “Podemos afirmar que, para a Aliança de Misericórdia, todos os dias é dia do pobre e, com isso, ter um dia instituído oficialmente pela Igreja para comemorar o dia do pobre é sinal que o carisma da Aliança está inscrito por Deus no coração da Igreja.”

A missão da comunidade é orientada de forma especial a alcançar todos os excluídos espiritual e socialmente.  “Assumimos, por isso, um compromisso específico de evangelização ‘Ad Gentes’ entrando em todos os bolsões de miséria, dos ‘porões da nossa humanidade’, segundo as indicações do documento Redemptoris Missio”, explica Irmã Helena.

Sobre a atuação de forma prática, a missionária explica que é realizada a evangelização com a população em situação de rua, promovendo a essas pessoas possibilidade de acolhimento em casas de missão da obra para o resgate espiritual, humano e social. Para essa atividade, os missionários dormem nas ruas com a população a fim de evangelizar e estreitar os vínculos despertando o desejo de saída das ruas.

“A comunidade conta com nove casas de acolhimento e três centros de convivência; realiza atividades em periferias fazendo ponte entre ricos e pobres para o anúncio do Evangelho, dando oportunidade às crianças de se inserirem em oratórios, CCAs e creches, além de ofertar oportunidade às famílias por meio de serviços de apoio.”

A segunda vice-presidente e consagrada da Comunidade, Mary de Calcutá, conta que, desde que o Papa Francisco instituiu essa data, a Aliança de Misericórdia também possui iniciativas concretas para esse dia, fazendo jus ao que ele representa. 

“Fazemos ações onde estamos nas ruas, nas favelas, fazemos um trabalho social de evangelização –  embora para nós essa ação seja contínua. É um dia muito festejado, de muita alegria, oração e escuta das dores, do sofrimento, e também de muitas pessoas que nos pedem pra sair das ruas, e a gente consegue atender o pedido deles”

Missão Vicentina na Sociedade

Conhecida pela sua forte atuação em prol dos mais necessitados, a Sociedade de São Vicente de Paulo (SSVP) tem o objetivo de aliviar o sofrimento das pessoas vulneráveis e fortalecer a fé de seus membros. O presidente do Conselho Geral Internacional da SSVP, Renato Lima, explica que a entidade chegou ao Brasil há 150 anos, em 1872. 

“O foco central do nosso trabalho é a caridade, ao visitar famílias necessitadas em suas casas. Também temos algumas obras sociais, como creches e lares de idosos. Como sempre digo, o papel do vicentino é fazer as pessoas felizes, por meio da ajuda material e espiritual. Isso o fazemos pela evangelização dos socorridos e pelo crescimento espiritual entre nós, confrades e consócias.”

Para Renato, o Dia Mundial dos Pobres reforça a missão vicentina na Sociedade, pois os ajuda a potencializar a ação vicentina e faz com que outras pessoas e instituições pensem um pouco mais sobre a maneira como lidam com os mais necessitados. 

“Não existem só os pobres materialmente falando, mas sobretudo a pobreza moral e espiritual, que podemos enfrentar com a vivência das obras de misericórdia espirituais. O Dia dos Pobres ajuda a SSVP a falar sobre essa realidade. Tomara que muita gente possa fazer uma doação aos pobres, para que possamos reduzir a miséria no nosso país.”

Apesar de todo o auxílio que as doações trazem, Renato afirma que o que de fato tira as pessoas da pobreza é a educação e o emprego. “Qualquer esforço nesse sentido será fundamental para romper com o ciclo da pobreza. As situações de vulnerabilidade atuais são muitas, por exemplo, os enfermos, as mulheres abandonadas, as crianças sem esperança, os jovens que caíram nas drogas, os pobres digitais, entre outras formas de pobreza. Temos que apresentar soluções para cada um desses filhos de Deus.”

O convívio com os pobres abrirá as portas do Paraíso

Renato ressalta que a caridade é tudo para os carentes. Para aqueles que recebem a visita semanal dos vicentinos, a caridade pode ser a face mais visível da solidariedade humana, mas quem também ganha muito com isso são os próprios vicentinos.

“Nós, vicentinos, somos quem mais ganhamos, pois é justamente o convívio com os pobres que abrirão as portas do Paraíso, quando Deus nos chamar. A caridade apaga um montão de pecados e nos torna pessoas menos soberbas e mais humildes. Ser vicentino é, assim, um presente de Deus, pois conseguimos atuar nessa dupla dimensão: a caridade aos que sofrem e a salvação para as nossas almas.”

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