Foi o primeiro cardeal camaronês, promotor da paz e do respeito pelos direitos humanos em uma terra ferida
Da redação, com Vatican News
Faleceu, nas primeiras horas deste Sábado Santo, 3 de abril, aos 90 anos, o cardeal Christian Wiyghan Tumi, arcebispo emérito de Douala. Ele dedicou sua vida como pastor pela pacificação e desenvolvimento de seu país, a República dos Camarões.
Em 2019, recebeu o Prêmio Nelson Mandela por ter promovido a paz e o respeito pelos direitos humanos contra todas as formas de discriminação étnica e religiosa em seu país. “Somos obrigados a fazer todo o possível, mesmo à custa de nossas vidas, para restaurar a paz”, havia dito o cardeal em face dos confrontos e da violência.
Dom Samuel Kleda, arcebispo de Douala, assim fala sobre o cardeal Tumi: “Nosso pastor nos deixou muito cedo esta manhã. Ele era um grande pastor, um homem que amava estar perto das pessoas, que lutava pela justiça. Perdemos uma grande figura. Pela atividade que desenvolvia, estava muito cansado ultimamente. Anunciei a todos os fiéis essa triste notícia e pedi a todos que conheceram o purpurado que rezassem por ele”.
O sequestro
Em novembro de 2020, o cardeal Tumi foi sequestrado por um comando armado de separatistas anglófonos, na conturbada região de Ambazonia, contrários à sua ação pacificadora. O cardeal foi libertado algumas horas mais tarde. Ele também foi sequestrado porque encorajava os jovens a frequentar as escolas locais, consideradas pelos separatistas um símbolo do poder central. Seu sequestro ocorreu após o massacre de oito crianças na escola bilíngue internacional Madre Francisca em Kumba, pela qual o Papa expressou sua dor, lançando um apelo pelo fim da violência durante a Audiência Geral de 28 de outubro.
Ele só vai estar aqui por um momento
O cardeal Tumi nasceu em 15 de outubro de 1930 em Kikaikelaki. Ele é o quarto de sete filhos: antes dele, dois irmãos morrem logo após o nascimento. Os pais o confiaram a Deus, dando-lhe como nome do meio Wiyghan, que significa “ele está viajando e estará aqui somente por um momento”. Ele irá viver uma vida longa. Ele sonha em ser professor, mas o encontro com um seminarista o faz descobrir sua vocação ao sacerdócio.
Bispo e cardeal por desejo de João Paulo II
Ordenado sacerdote em 1966, exerceu o ministério de vigário paroquial em Fiango e, até 1969, exerceu a docência como professor no Seminário Menor “Bishop Rogan College”. Após estudos no exterior, foi nomeado, em 1973, reitor do Seminário Maior Regional de Bambuí, da Arquidiocese de Bamenda.
São João Paulo II o nomeia bispo de Yagoua em 1979; no ano seguinte, consagra-o na Basílica de São Pedro. Arcebispo de Garoua no início dos anos 1980, Wojtyla o fez cardeal em 1988. De 1991 a 2009, foi arcebispo de Douala. Foi presidente da Conferência Episcopal dos Camarões e do Simpósio das Conferências Episcopais da África e Madagascar (SECAM). Ele participou de vários Sínodos, incluindo as duas Assembleias Especiais para a África em 1994 e 2009.
Uma vida a serviço de Deus e dos outros
Em 2008, Tumi recebeu o Prêmio “Cardinal von Galen” da organização “Human Life International” por seu trabalho em favor da família e pelo respeito aos direitos e à democracia. Em 2011, a “Transparency International” concedeu-lhe o Prêmio “Integrity Award” por sua ação em favor da legalidade.
Tem um forte empenho em favor do diálogo ecumênico e inter-religioso. Em suas dioceses, promoveu centros de formação espiritual, escolas e dispensários, sempre atento aos mais pobres e marginalizados. Autoridade moral indiscutível nos Camarões, bradou contra a corrupção e a injustiça. Sempre buscou a paz e a unidade entre adversários e inimigos.
Mas é a fé em Jesus que moveu cada passo de sua vida, como diz seu lema episcopal do Salmo 40: “Aqui estou, Senhor, venho para fazer a tua vontade”.