Nova carta

Doutrina da Fé: eucaristia é resposta de Deus à fome do coração humano

Prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé responde bispo de San Francisco de Macorís sobre as mães solo terem acesso aos Sacramentos

Da redação, com Vatican News

Foto: wideonet by Getty Images

As mães solo que optaram por manter seus filhos fora do casamento não devem ser impedidas, mas incentivadas a ter acesso aos sacramentos. É o que afirma o Dicastério para a Doutrina da Fé em resposta a uma pergunta do bispo de San Francisco de Macorís, na República Dominicana, Dom Ramón Alfredo de la Cruz Baldera.

A carta, assinada pelo Cardeal Prefeito Victor Manuel Fernández; aprovada nesta quarta-feira, 13, pelo Papa Francisco e publicada esta quinta-feira, 14; no site do Dicastério, o objetivo é responder à preocupação do bispo dominicano com o comportamento de algumas jovens solteiras que “se abstêm da comunhão por medo do rigorismo do clero e dos líderes comunitários”. Observa-se que “em alguns países, tanto os padres quanto alguns leigos realmente impedem que as mães que tiveram um filho fora do casamento tenham acesso aos sacramentos e até mesmo que batizem seus filhos”.

Eucaristia, resposta de Deus à fome do coração humano

Recentemente – destaca a carta – o Papa Francisco recordou que “a Eucaristia é a resposta de Deus à fome mais profunda do coração humano, à fome de vida verdadeira: nela, o próprio Cristo está verdadeiramente no meio de nós para nos nutrir, consolar e sustentar em nosso caminho” (Discurso ao Comitê Organizador do Congresso Eucarístico Nacional dos EUA, 19 de junho de 2023). Portanto, “as mulheres em tal situação que optaram pela vida e levam uma existência muito complexa por causa dessa escolha devem ser incentivadas a ter acesso à força salvífica e consoladora dos Sacramentos”.

O caso concreto das mães solo e as dificuldades que elas ou seus filhos encontram para acessar os Sacramentos, observa o texto, já havia sido denunciado pelo Santo Padre quando era cardeal de Buenos Aires: “há sacerdotes que não batizam os filhos de jovens solteiras porque não foram concebidos na santidade do matrimônio’. Esses são os hipócritas de hoje. Aqueles que clericalizaram a Igreja. Aqueles que afastam o povo de Deus da salvação. E aquela pobre jovem, que poderia ter mandado seu filho de volta ao remetente, mas teve a coragem de trazê-lo ao mundo, vai de paróquia em paróquia para batizá-lo” (Homilia de setembro de 2012).

O Papa Francisco reconheceu a coragem dessas mulheres em levar a gravidez adiante: “Sei que não é fácil ser uma mãe solo, sei que às vezes as pessoas podem olhar mal para você, mas digo-lhe uma coisa: você é uma mulher corajosa porque foi capaz de trazer essas duas filhas ao mundo. Você poderia tê-las matado quando estavam em seu ventre, mas você respeitou a vida, respeitou a vida que tinha dentro de si, e Deus a recompensará por isso, Ele a recompensa. Não se envergonhe, ande de cabeça erguida. ‘Eu não matei minhas filhas, eu as trouxe ao mundo!’ Eu a parabenizo, e Deus a abençoe” (videoconferência transmitida pela BBC, 4 de setembro de 2015).

Ser mãe solo não impede o acesso à Eucaristia

Nesse sentido, continua a carta assinada pelo Cardeal Fernández, “é necessário trabalhar pastoralmente na Igreja local para fazer entender que o fato de ser mãe solo não impede o acesso à Eucaristia. Como todos os outros cristãos, a confissão sacramental dos pecados cometidos permite que elas se aproximem da comunhão. A comunidade eclesial também deve apreciar o fato de que elas são mulheres que aceitaram e defenderam o dom da vida que carregaram em seu ventre e que lutam, todos os dias, para criar seus filhos”.

Certamente, observa-se, “há situações difíceis que precisam ser discernidas e acompanhadas pastoralmente. Pode acontecer que algumas dessas mães, dada a fragilidade de sua situação, às vezes recorram à venda de seus próprios corpos para sustentar a família. A comunidade cristã é chamada a fazer tudo o que puder para ajudá-las a evitar esse risco muito sério, em vez de julgá-las com severidade”.

Lógica da compaixão

Por isso, afirma o texto, os pastores que propõem aos fiéis o ideal pleno do Evangelho e da doutrina da Igreja devem ajudá-los também a assumir a lógica da compaixão para com as pessoas frágeis e a evitar perseguições ou julgamentos demasiado duros e impacientes (Amoris laetitia, 308).

Em seguida, o purpurado ressalta que, muitas vezes, comentando o episódio bíblico da mulher adúltera (Jo 8, 1-11), a frase final é enfatizada: “não peques mais”. “Jesus sempre convida as pessoas a mudarem suas vidas, a responderem mais fielmente à vontade de Deus, a viverem com maior dignidade. No entanto, essa frase não constitui a mensagem central dessa perícope evangélica, que é simplesmente o convite a reconhecer que ninguém pode atirar a primeira pedra”.

O Papa Francisco, referindo-se às mães que têm que criar seus filhos sozinhas, lembra-lhes que nas situações difíceis vividas pelas pessoas mais necessitadas, a Igreja deve ter um cuidado especial para compreendê-las, consolá-las e integrá-las, evitando impor-lhes uma série de regras como se fossem pedras, tendo assim o efeito de fazê-las sentir-se julgadas e abandonadas exatamente por aquela Mãe que é chamada a levar-lhes a misericórdia de Deus (Amoris laetitia, 49).

Atitudes machistas e ditatoriais

O prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé recorda o que o Pontífice disse em sua mensagem ao Sínodo sobre o rosto feminino e materno da Igreja, denunciando as “atitudes machistas e ditatoriais” daqueles ministros que exageram em seu serviço e maltratam o povo de Deus (Discurso ao Sínodo dos Bispos, 25 de outubro de 2023).

“Cabe ao senhor garantir que tais comportamentos não ocorram em sua Igreja local”, conclui o Cardeal Fernández em sua resposta ao bispo de San Francisco de Macorís.

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