Doutor em teologia bíblico-litúrgica explica o simbolismo da celebração do Domingo de Ramos que dá início à Semana Santa
Kelen Galvan
Da Redação
A semana mais importante para os católicos começa neste domingo, 2 de abril. A Celebração do Domingo de Ramos dá início à Semana Santa, também conhecida como a “Grande Semana” ou “Semana Maior”. Nela, celebram-se os acontecimentos centrais da fé católica: a Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo.
O Domingo de Ramos começou a ser celebrado no século IV, quando os fiéis dos arredores de Jerusalém iam em procissão ao Monte das Oliveiras, segurando ramos nas mãos, explica o Doutor em teologia bíblico-litúrgica, padre Anderson Marçal. O gesto recordava a entrada triunfante de Jesus, que subiu no jumentinho e entrou em Jerusalém daquela maneira (cf. Mt 21,1-11).
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“Recordando que, quarto século significa logo depois que os cristãos tiveram liberdade religiosa. Eles podiam, a partir do Édito de Milão, do Imperador Constantino, terem a liberdade de expressão religiosa. E ali começou a acontecer essas celebrações recordando os últimos momentos da vida de Jesus”, ressalta o sacerdote.
Atualização do Mistério
A celebração de Ramos sempre começa com uma procissão, seja pelas ruas ou apenas na entrada da Igreja. Este gesto serve para vivenciar aquele momento da entrada triunfal de Jesus.
“É necessário que recordemos o que diz o Concílio Vaticano II, no documento Sacrosanctum Concilium, o qual afirma que ‘quando se tem uma proclamação da Palavra ou um rito celebrado em assembleia, acontece ali a atualização daquele mistério que aconteceu naquele dia’. Então, todos os anos, nós não apenas participamos de uma procissão de forma devota, não é apenas uma devoção popular que se faz, mas uma verdadeira atualização daquele exato momento em que o Senhor entra em Jerusalém para entregar-se inteiramente por nós”, enfatiza Padre Anderson.
Domingo de Ramos e Domingo da Paixão do Senhor
Além de recordar Jesus, que é aclamado pelo povo em sua entrada em Jerusalém, a Celebração deste domingo narra também o Evangelho da Paixão e Morte de Jesus. O especialista em teologia bíblico-litúrgica lembra que, em algumas tradições cristãs-católicas, o Domingo de Ramos é chamado “da Paixão do Senhor”.
Segundo ele, o fato de unir estas duas realidades é para que aconteça em uma única celebração todo o Mistério Salvífico de Jesus. “Ou seja, nós temos uma ação única, desde a entrada de Jesus em Jerusalém pela última vez. Ali, Jesus se entrega – como Ele mesmo diz: ‘ninguém tira minha vida, antes eu a dou livremente” (Jo 10, 18) – vive Sua Paixão, Sua Morte e a Sua Ressurreição”.
Padre Anderson Marçal destaca ainda que outro aspecto dessa celebração que precisa ser refletido é que o mesmo povo que aclama Jesus é o que pede Sua crucificação. “Para mostrar também a nós as nossas luzes e trevas. E que, mais uma vez, precisamos ali, naquela celebração, fazermos a escolha: Jesus é o nosso Rei? Mas por que ainda continuamos a crucificá-lo?”
Significado dos Ramos
O sacerdote explica que a simbologia dos ramos de oliveira vêm de um costume popular antigo. Quando os imperadores e reis voltavam das batalhas vitoriosos, eram recebidos desta forma pelo povo da época. Esta é a primeira característica dos ramos.
Quanto ao ramo de oliveira, que é abençoado no dia do Domingo de Ramos e deixado na igreja, eles são queimados e se tornam as cinzas que serão usadas na celebração da Quarta-feira de Cinzas do ano seguinte. “Ligando em uma única coisa, ao longo da história, a nossa aclamação da vitória de Jesus sobre o pecado e a morte, sem nos esquecermos que somos pó e ao pó voltaremos”, destaca.
Muitos fiéis também levam os ramos para suas casas e têm dúvidas do que fazer quando ele estiver seco ou deteriorado. A solução é queimá-lo, afirma o sacerdote.
Ramos nas portas
Padre Anderson explica que os ramos colocados nas portas das casas mostra, de forma visível, que, naquele lar, mora um católico, que vive a autenticidade da sua fé. “Os sinais externos demonstram uma atitude interna”.
Esses gestos externos se repetem em outras épocas litúrgicas, como no Natal, com a montagem do presépio nas casas ou no tempo de advento, quando algumas famílias colocam a coroa do advento ou acendem o círio pascal familiar. “Isso tudo tem uma realidade simbólica, ou seja, aquele objeto me une ao mistério de Deus. E ao colocar um ramo em casa, é preciso ter essa intenção”.
Por outro lado, o sacerdote alerta para o uso supersticioso dos ramos. Ele explica que o fato de colocar um ramo bento em casa não vai abençoar aquela residência. “O que vai abençoar sua casa é você pedir a um sacerdote para que vá abençoá-la com o uso dos sacramentais: da água, do sal. Agora, o ramo representa apenas de forma visível que ali mora um católico”.