Respeito

Diretor da ACN Brasil comenta problemática da intolerância religiosa

“Vamos fomentar o que nos faz irmãos”, é o pedido do diretor executivo da ACN Brasil neste Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa 

Thiago Coutinho
Da redação

Nesta sexta-feira, 21, é celebrado o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa. A liberdade religiosa é assegurada pela Constituição Federal e pela Declaração Universal dos Direitos Humanos desde 1948, documento criado pelas Nações Unidos. Um marco que inspirou constituições de Estados de vertente democrática mundo afora.

Trata-se de um tema tão importante, que o Papa Francisco, em sua primeira intenção de oração neste ano, fez duas perguntas: “Como é possível que hoje muitas minorias religiosas sejam discriminadas? Como permitimos que as pessoas sejam perseguidas simplesmente por professar publicamente sua fé?”.

“Cremos que o Papa trouxe o tema à tona justamente porque ainda é um assunto que deveria ter mais atenção do que tem hoje”, afirmou Valter Callegari, diretor executivo da Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN-Brasil). “A liberdade religiosa ainda é vista como um direito de segunda categoria, comparado com outras pautas. E de fato, em pleno século 21, ainda vemos a discriminação e a perseguição religiosa acontecerem em 1/3 dos países do mundo, um fenômeno que afeta 5,2 bilhões de pessoas ou 2/3 da população mundial. Pior, uma situação que se agrava ano a ano, conforme aponta o relatório de liberdade religiosa da ACN, publicado desde 1998”, acrescentou.

Caminho de fraternidade

Somente no Estado de São Paulo, apenas nos primeiros sete meses de 2021 foram 311 denúncias de crimes relacionados à intolerância — desse total, 129, ou 41,5%, estavam ligados à intolerância religiosa. “É fundamental atendermos ao apelo do Papa Francisco e promovermos o caminho da fraternidade, conscientizando todas as sociedades de que a liberdade religiosa está intimamente ligada à dignidade humana e que ou entendemos que somos todos irmãos, ou perdemos todos”, observou Callegari.

A chegada da pandemia também trouxe outro aspecto negativo: o aumento dos casos de intolerância. E não só religiosas, mas étnico-raciais e também sexuais, como apontou levantamento da Secretaria Estadual da Justiça de São Paulo. “Infelizmente, a pandemia agravou o preconceito ao invés de só trazer solidariedade”, lamentou.

“Os Estados, as autoridades e os diversos organismos, sejam locais, nacionais ou internacionais, precisam fazer muito mais do que fazem em relação à liberdade religiosa, seja coibindo e responsabilizando os infratores desse direito, seja promovendo o diálogo inter-religioso ou seja ainda reforçando o papel do Estado laico”, ponderou.

Na Europa, a ACN vem conseguindo bons resultados neste tipo de trabalho conjunto às autoridades. “A ACN, por exemplo, atua junto ao Parlamento Europeu e obteve importantes conquistas, como o reconhecimento de que as minorias religiosas no Iraque foram alvo de genocídio durante a presença do autoproclamado Estado Islâmico”, citou Callegari.

Papel de todos

Mas as cobranças não devem ser feitas apenas às autoridades. Fiéis, leigos e toda a sociedade têm uma enorme responsabilidade quando se trata do respeito ao próximo.

Viver este lema no dia a dia, no cotidiano, é fundamental para que crimes contra a liberdade religiosa diminuam. “Os melhores exemplos práticos já nos foram mostrados pelo próprio Papa Francisco, quando, em 2017, visitou o grande Imã sunita da Universidade de Al Azhar no Egito, ou em 2019, quando assinou em Abu Dabi o documento sobre a Fraternidade Humana em prol da Paz Mundial e da Convivência Comum, ou em 2021, no Iraque, quando visitou o líder xiita, Aiatolá Ali Al-Sistani”, recordou Callegari.

“Cabe a cada um de nós, que somos cristãos e católicos, promover em nossos espaços o respeito aos diferentes credos e nunca fomentar o que nos divide, mas o que nos torna irmãos”, finaliza o diretor executivo da ACN-Brasil.

Ajuda

A ACN atua em todo o mundo, oferecendo não apenas suporte jurídico a quem sofre discriminação religiosa, mas a quem se encontra refugiado, perseguido ou em situação de perigo por conta de sua escolha religiosa.

A ACN Brasil pode ser contatada por meio dos seguintes canais:

• 0800.77.099.27
• WhatsApp — (11) 9.6451.0050,
• E-mail — atendimento@acn.org.br ou pelo site acn.org.br

Em São Paulo, denúncias podem ser encaminhadas à Ouvidoria da Secretaria da Justiça e Cidadania pelo e-mail ouvidoria@justica.sp.gov.br ou pelo telefone (11) 3291.2621.

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