Refugiados do Afeganistão fazem parte dos 57 grupos que já foram acolhidos pelo projeto
Da Redação, com Lizia Costa, de Roma
Os apelos do Papa Francisco em prol dos refugiados também se desdobraram em ações concretas. Pelo projeto “Corredores Humanitários”, vários refugiados têm sido acolhidos em Roma desde abril de 2016. Nesta quinta-feira, 16, chegou o último grupo acolhido pelo projeto: refugiados do Afeganistão que estavam na ilha de Lesbos, na Grecia, e foram levados a Roma com a ajuda do Vaticano.
Os dez refugiados estavam no campo de imigrantes na ilha grega após deixarem o próprio país fugindo dos conflitos. Eles foram acolhidos pelo responsável da Comunidade de Santo Egídio (que concebeu e implementou o projeto), Andrea Riccardi, e pelos outros imigrantes afegãos que chegaram a Roma através do mesmo projeto.
Dentro do grupo, há uma família que agradeceu pela ajuda com um quadro feito por ela própria e escreveu uma carta à comunidade católica, contando o quanto é difícil a situação dos refugiados.
“Existem pessoas que fogem de seus países por causa da guerra e atravessam o mar arriscando a vida, esperando chegar em uma Europa solidária, mas depois que atravessam, chegam na Grécia e acabam no campo de Moria, conhecido como o inferno da Europa. Os refugiados que vivem ali estão em extrema dificuldade, não têm acesso aos direitos fundamentais. Estão depressivos e sem esperança, porque não têm mais jeito nem de voltar para o próprio país nem de seguir adiante, para outro lugar”, relata a carta.
A família afirma ainda que o mundo se modernizou, que os homens fizeram tantas coisas, até mesmo robôs. Porém, nos últimos tempos, questionam se existiria ainda humanidade e amor. Mas na Comunidade de Santo Egídio, encontraram “anjos da guarda”, com o coração cheio de fé e afeto para com os refugiados. “Eles foram enviados por Deus para ajudar os refugiados”.
Andrea Riccardi destaca que, nesse tempo de pandemia de coronavírus, muita coisa mudou, mas o que não mudou é o drama dos refugiados. E o que a Comunidade procura fazer, com esse projeto dos Corredores Humanitários, é fornecer uma maneira segura e legal de entrar no país, favorecendo os mais vulneráveis. “A via da ilegalidade não dá segurança nem a quem faz a viagem e nem ao país que acolhe. Pedimos para não esquecerem dos refugiados, porque é um mundo de pessoas deixadas nas nossas fronteiras”.
Histórico
Além desse grupo, outros 57 já foram levados a Roma pela Comunidade de Santo Egídio, com a ajuda do setor de caridade do Vaticano, a pedido do Papa Francisco. O projeto Corredor Humanitário nasceu em 2016, através de uma parceria entre a comunidade católica, a Caritas Italiana e a Igreja Evangélica Valdese. No ano passado, a iniciativa recebeu o Prêmio Nansen de Refugiados do ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados).
O projeto fornece auxílio com a organização dos documentos necessários para entrar com pedido de asilo na Itália. Além disso, garante ao governo que vai manter esses refugiados, ajudando com moradia e integração social. A ideia é acabar com a imigração ilegal, feita principalmente através do mar mediterrâneo, que já deixou milhares de mortos.
O primeiro grupo viajou para Roma no mesmo voo que o Papa, depois que o Pontífice visitou Lesbos. Atualmente, eles têm casa, trabalham nos projetos sociais da comunidade e estudam italiano.
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No total, mais de três mil refugiados chegaram ao país através desse projeto. Um deles é o jovem Mustaf, que está em Roma há sete meses. Ele fugiu do Afeganistão com sua família e conseguiu chegar a Roma através do Corredor Humanitário. “Estou muito feliz! Depois de um mês que eu tinha chegado aqui eu já fui para a escola. E quando penso no futuro eu sei que preciso estudar muito, porque esta oportunidade que estou tendo é única e devo aproveitá-la bem”, conta o jovem.
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Papa Francisco
O drama de migrantes e refugiados é tema de constante atenção no pontificado de Francisco, desde o início. Em julho de 2013, poucos meses após sua eleição como Bispo de Roma, ele visitou a ilha italiana de Lampedusa, região onde um naufrágio, na época, tirou a vida de 368 migrantes, pessoas que buscavam na Itália melhores condições de vida. Na ocasião, Francisco denunciou a globalização da indiferença.
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No último dia 8 de julho, o Santo Padre recordou os sete anos dessa visita com a celebração da Missa na Casa Santa Marta. Na homilia, enfatizou o inferno vivido por migrantes e lembrou que a Palavra de Deus reforça a importância do “encontro com o outro” que também é “um encontro com Cristo”.
“Essa advertência é, hoje, de uma atualidade ardente. Todos nós deveríamos usá-la como um ponto fundamental do nosso exame de consciência diário. Penso na Líbia, nos campos de detenção, nos abusos e na violência que sofrem os migrantes, nas viagens da esperança, nos resgates e nas rejeições. ‘Todas as vezes que fizestes isso… foi a mim que o fizestes’ (Mt 25, 40).”
E para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado 2020, que será celebrado em 27 de setembro, Francisco já deixou sua mensagem, que tem como tema “Forçados, como Jesus Cristo, a fugir. Acolher, proteger, promover e integrar os deslocados internos”.