Comissão promove debate em Lisboa a respeito do abuso de menores
Da Redação, com Vatican News
Nesta terça-feira, 10, teve início em Lisboa um encontro que promove um debtate sobre o abuso de menores. O coordenador da Comissão Independente para o Estudo de Abusos Sexuais contra Crianças na Igreja Católica em Portugal, Pedro Strecht, disse que é preciso encontrar possibilidades de “abertura e discussão do tema” na Igreja e na sociedade.
“A Conferência Episcopal Portuguesa quis abrir os seus e os nossos olhos para este problema que é tanto da Igreja quanto da própria sociedade civil. Diante disso, foi dado o exemplo de que no primeiro semestre de 2021, a Polícia Judiciária registou um número recorde de processos por abuso sexual de crianças que chego a mais de 1300″, disse Strecht.
Strecht, que també é pedopsiquiatra, sublinhou que a comissão quer levar a cabo um estudo que “torne claro o problema” no seio da Igreja Católica, para que se promova o conhecimento e a razão destes casos. Para ele, trata-se de um “longo e difícil trabalho” que deve levar à “paz e reconciliação”.
O encontro desta terça-feira, 10, foi apresentado como um “marco iniciático” de um processo. Esse processo quer ajudar conhecer o passado e abraçar o futuro de milhares de crianças e adolescentes que foram vítimas destes crimes.
O coordenador da comissão e pedopsiquiatra ressaltou ainda que é importante às vítimas uma integração psíquica, de tudo que sofreram e observou que nunca o tempo apagará e ninguém conseguirá reparar o dano causado. O especialista fez alusão às crianças com vida suspensa, marcadas por uma dor aprisionada e por sentimentos de medo, vergonha e culpa.
A intervenção inaugural do debate apresentou uma reflexão sobre o impacto de situações “de trauma” durante a infância e na adolescência.
O momento se deteve inicialmente na fragilidade da autoimagem psíquica e corporal, prosseguindo nas dificuldades na relação com os outros.
O coordenador da Comissão Independente destacou que hoje se pode contar com pais mais atentos e uma justiça que protege melhor os menores, ainda que nem sempre da forma ágil.
Nova realidade
Strecht ressaltou que a realidade é outra em 2022. Acredita que será cada vez mais rápida e diferente. Por isso, todos têm de evoluir em conceitos individuais e sociais de bem-estar e felicidade.
A socióloga e investigadora do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, Ana Nunes de Almeida, que integra a comissão, afirmou que todos os testemunhos contam.
Até a noite de segunda-feira, 9, foram recolhidos 326 testemunhos que destacam a importância de conhecer a realidade, na sua complexidade, para evitar “julgamentos apressados”.
Trauma e impacto no desenvolvimento psicossocial; Abuso de menores: Conhecer para prevenir e intervir; Os Direitos da Criança: A Criança e o Direito e o trabalho da comissão independente foram os temas em debate neste encontro.
O colóquio conta com preleções da psicóloga Isabel Soares; o padre Anselmo Borges; o jornalista João Francisco Gomes; Álvaro Laborinho Lúcio, antigo ministro da Justiça; e do presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa.
A última colocação ficou por conta do padre jesuíta Hans Zollner membro da Comissão Pontifícia para a Tutela de Menores (Santa Sé). O mesmo esteve em Portugal a orientar formação para dioceses católicas, em 2021.