Diretora da Caritas Hellas fala sobre a situação do maior campo de refugiados da Europa e pede ajuda às nações europeias
Da redação, com Vatican News
As tensões seguem altas na ilha grega de Lesbos com milhares de migrantes dormindo ao relento após os incêndios da semana passada e o temor dos refugiados com relação ao coronavírus e os conflitos sociais.
Autoridades seguem construindo um local temporário para abrigar homens, mulheres e crianças que ficaram sem teto. Os migrantes, no entanto, estão demonstrando medo que se repita a situação insustentável no campo superlotado e insalubre de Moria, que teve quatro vezes mais que o previsto.
O Papa Francisco viajou a Lesbos, em abril de 2016, a fim de expressar sua proximidade aos homens, mulheres e crianças que tentavam escapar da pobreza, e pediu às nações europeias que cheguem a um acordo comum com relação à política de realocação que protege as pessoas e respeita suas dignidades.
Durante o Angelus deste domingo, 13, o Santo Padre recordou aquela visita e expressou sua solidariedade para com os migrantes.
Maria Alverti, diretora da Caritas Hellas — o escritório grego da confederação global de assistência, desenvolvimento e agências humanitárias da Igreja Católica — disse à Rádio Vaticano que o campo de Moria está quase completamente destruído, deixando 12 mil pessoas desabrigadas e acampadas ao longo das estradas.
“Acreditamos que sejam minorias”, disse a diretora da Caritas grega, mas a tensão é tangível e os trabalhadores humanitários foram instruídos a não tomar medidas autônomas, e o governo está coordenando todos os trabalhos de socorro.
Providenciando alívio
Alverti disse que uma nova estrutura perto de outro acampamento na ilha está sendo construída, e atualmente estão trabalhando num local para poder hospedar cerca de mil pessoas.
“Eles já transferiram algumas famílias vulneráveis para ficarem lá, todas estão esperando para serem testadas para COVID-19 antes de entrar na nova estrutura”, explicou. Entretanto, disse Alverti, a Cáritas começou a distribuir água e conta com cerca de mil sacos de dormir que serão distribuídos na nova estrutura à população refugiada.
Necessidade mais urgente
Obviamente, a principal preocupação da Caritas Hellas no momento é fornecer ajuda. Alverti, porém, disse que concorda que o incidente realmente destacou a necessidade de uma política europeia comum para a relocação e integração de refugiados e migrantes.
“Lamento dizer que Moria foi uma bomba-relógio por muitos anos. E há anos avisamos que um acidente ou incêndio criminoso poderia acontecer ali. Então, Moria não deveria sequer ter existido”, advertiu a diretora da Caritas.
A realocação de pessoas e a partilha de responsabilidades devem definitivamente começar a acontecer, explica Alverti. Ela acrescentou que é compreensível que as autoridades gregas não mudem ninguém para o continente num futuro próximo.
“Não é fácil dizer que você pode transferir 12 mil pessoas da noite para o dia em direção ao continente. Realmente acredito que a Europa deve ajudar a conceber uma política comum de migração que proteja os direitos das pessoas”.
Relembrando a visita do Papa
Maria Alverti recordou a visita do Papa Francisco a Lesbos, em 2016, dizendo que foi algo extremamente encorajador para as pessoas da ilha.
Ela disse que para a Cáritas da Grécia “era importante não só em nível espiritual, mas também saber que estamos fazendo a coisa certa nos dá força”. Alverti continuou, revelando que a Santa Sé e o Dicastério para a Promoção da Dignidade Humana Integral “têm apoiado nosso trabalho por muitos anos: por isso é muito encorajador e muito inspirador saber que estamos na posição certa e fazendo a coisa certa”.
“As palavras do Santo Padre são sempre inspiradoras e orientadas”, ponderou.
Esperanças para um futuro próximo
Sobre suas esperanças para as horas e dias que estão por vir, Alverti destacou o fato de que como Caritas Grécia, seu povo está pronto para ajudar em coordenação com o Ministério que cobre as necessidades básicas.
“Talvez seja uma ilusão imaginar que novo campo como Morias possa existir”, disse ela, expressando sua esperança de que este alarme tenha um impacto na consciência dos líderes europeus e na mentalidade dos políticos que deveriam perceber que o sistema atual não está funcionando.
Também é importante, ela apontou, levar em consideração os desafios enfrentados por algumas comunidades locais: “é quando você tem alguns elementos extremistas da sociedade encontrando espaço para compartilhar o discurso de ódio”.
Em suas considerações finais, Alverti observou que cabe aos líderes políticos parar de dar motivos para alimentar o medo e o antagonismo. Recordando a incrível solidariedade que o povo de Lesbos demonstrou em 2015 no auge da chegada de migrantes, ela observou que a mentalidade não é mais a mesma e disse que é importante “perceber como as comunidades locais podem ser apoiadas nesta solidariedade”, findou.