PAZ

Cardeal Zuppi visita Moscou em busca da paz pela Ucrânia

O cardeal italiano Matteo Zuppi inicia uma visita a Moscou como parte da missão que lhe foi confiada pelo Papa Francisco para buscar um caminho para a paz na Ucrânia

Da redação, com Vatican News

O diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé / Foto: Reprodução Youtube

Interpelado por jornalistas no início da tarde desta segunda-feira, 14, o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni, confirmou que “o cardeal Matteo Zuppi iniciou hoje uma nova visita a Moscou, no âmbito da missão que lhe foi confiada pelo Papa Francisco no ano passado, para se encontrar com as autoridades e avaliar novos esforços para favorecer o reagrupamento familiar das crianças ucranianas e a troca de prisioneiros, com vista a alcançar a tão esperada paz.”

Kiev e Moscou: a primeira missão em junho de 2023

Em 5 e 6 de junho de 2023, o cardeal Matteo Zuppi havia cumprido em Kiev a primeira etapa da missão a ele confiada pelo Papa Francisco quando, entre outros, encontrou o presidente da Ucrânia Volodymir Zelenski.

Seguiu-se a viagem a Moscou de 28 e 30 de junho, com o objetivo de “identificar iniciativas humanitárias que pudessem abrir caminhos para alcançar a paz”, como anunciado pela Sala de Imprensa de Santa Sé na época.

Durante os três dias, o cardeal encontrou-se com Yuri Ushakov, assistente do presidente da Federação Russa para Assuntos de Política Externa, e Maria L’vova-Belova, comissária junto ao presidente da Federação Russa para os direitos da criança, com quem em particular falou dos mais de 19 mil menores ucranianos deportados para a Rússia. Durante as conversações, “foi fortemente sublinhado o aspecto humanitário da iniciativa, bem como a necessidade de poder alcançar a tão desejada paz”.

O cardeal Zuppi também encontrou-se com o Patriarca de Moscou e de toda a Rússia, Kirill, a quem transmitiu as saudações do Santo Padre e com quem também falou das iniciativas humanitárias que poderiam facilitar uma solução pacífica para o conflito. O encontro foi realizado na sede do Patriarcado de Moscou na presença, entre outros, do Metropolita Antonij de Volokolamsk, presidente do Departamento de Relações Eclesiásticas Externas do Patriarcado de Moscou, e do núncio apostólico D’Aniello. «Apreciamos que Sua Santidade o tenha enviado a Moscou. O senhor está à frente de uma das maiores metrópoles e dioceses da Itália e é um arcebispo conhecido que está prestando um serviço ao seu povo”, disse Kirill, citado pelas agências estatais russas.

Cardeal Parolin na Ucrânia

De 19 a 24 de julho do corrente, o cardeal Pietro Parolin esteve em visita à Ucrânia como Legado Pontifício, onde presidiu a Missa no Santuário mariano de Berdychiv para a celebração conclusiva da peregrinação dos católicos ucranianos de rito latino. Em Kiev, Lviv e Odessa encontrou diversas autoridades civis e religiosas do país do leste europeu.

Já em 18 de setembro, o cardeal secretário de Estado, em uma videoconferência com a comissária para os Direitos Humanos da Federação Russa, agradeceu à Defensoria Pública russa pelo seu papel na libertação de dois sacerdotes ucranianos e lembrou a necessidade de salvaguardar os direitos humanos fundamentais consagrados nas Convenções Internacionais. Foco na assistência aos militares ucranianos prisioneiros na Federação Russa e na troca recíproca dos soldados detidos.

As tentativas de facilitar o diálogo entre a Rússia e a Ucrânia

Ao se pronunciar em abril de 2024 por ocasião do “Dia do Direito” — organizado pela arquidiocese de Pescara-Penne — o secretário para as Relações com os Estados e Organizações Internacionais, arcebispo Paul Richard Gallagher, falou sobre as experiências da Santa Sé no contexto do direito internacional, com particular referência às tentativas de facilitar o diálogo entre as autoridades russas e a Ucrânia. e à ação humanitária em favor das crianças do país.

O arcebispo se referiu também à ação humanitária que se realizava naquele período “em favor da repatriação dos menores ucranianos levados para a Federação Russa” após a “agressão” desta última, há dois anos, contra a Ucrânia. Desde o início das hostilidades, afirmou dom Gallagher, “a Santa Sé não permaneceu inativa”, recordando que foram feitas várias tentativas “antes do início da guerra, para facilitar o diálogo entre as partes, com respeito ao direito internacional e à integridade territorial”, para manter conversações entre os dois países e convidá-los “a uma solução negociada”.

O diplomata vaticano recordou ainda a visita do Papa Francisco à Embaixada russa junto à Santa Sé em 25 de fevereiro de 2022, bem como “o diálogo com o Patriarca Kirill, o envio de ajuda à Ucrânia com os cardeais Michael Czerny e Konrad Krajewski” e “os numerosos apelos públicos”, em particular “durante a oração dominical do Angelus, com um forte e decisivo apelo por uma paz justa”.

A ação humanitária coordenada pelo cardeal Zuppi

O trabalho da Santa Sé é “discreto, muitas vezes invisível para não diminuir sua eficácia”, acrescentou dom Gallagher, que, no entanto, quis citar, “entre as ações humanitárias implementadas”, a iniciativa coordenada pelo cardeal Matteo Zuppi, arcebispo de Bolonha e presidente da Conferência Episcopal Italiana, para “proteger os menores em zonas de guerra e, em particular, facilitar a reunificação das crianças com suas famílias”.

Trata-se de crianças ucranianas – e entre elas também órfãos e menores sem parentes – que foram levadas para a Rússia, “confiadas a outras famílias, alojadas em centros de assistência social e orfanatos, ou colocadas em centros de formação inadequados para sua permanência”, em alguns casos recolhidas “pelas autoridades russas em operações de controle de áreas ucranianas”. “Ainda é difícil saber a situação exata de muitos deles”, disse na época o prelado, que enfatizou a natureza diplomática do que o cardeal está fazendo. Trata-se de uma “ação humanitária em favor de menores em territórios de conflito armado” que é “conduzida em coordenação não apenas com a Seção de Relações com Estados e Organizações Internacionais”, mas também “com as duas nunciaturas apostólicas envolvidas que prestam assistência em seus respectivos países”. A questão dos menores, a propósito, “também é acompanhada pelo Qatar e pela Unicef, e por algumas ONGs”, mas “no momento, os esforços permanecem complementares e não conjuntos”.

Procedimentos para a repatriação dos menores ucranianos

Na prática, após os encontros com as autoridades civis da Rússia e da Ucrânia, houve a troca da lista de menores assinalados. Em seguida foram criados “grupos de trabalho estáveis para se comunicarem entre si com a participação das Representações Pontifícias” e foi iniciada uma “troca regular de informações”.

São as duas nunciaturas que facilitam os encontros entre o cardeal Zuppi e as autoridades civis e depois acompanham a efetiva “repatriação dos menores”. “Não faltam dificuldades”, destacou dom Gallagher, referindo-se também à “complexidade de fornecer informações precisas sobre os menores de ambos os lados e o número ainda pequeno de repatriações”.

A comunhão por meio da mediação

E se muitas vezes nos deparamos com “problemas complexos” para os quais parece não haver soluções simples, “isso não deve, no entanto, ser uma desculpa para nos retirarmos para a esfera privada ou para nos limitarmos a assistir aos acontecimentos”, concluiu dom Gallagher, propondo, a esse respeito, a indicação de método oferecida pelo Papa Francisco, em seu discurso de 21 de junho de 2013, aos representantes pontifícios: ser mediadores, pois com a mediação fazem a comunhão, e agir sempre com profissionalidade.

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