Próximo ao Dia Internacional da Fraternidade Humana, o Cardeal Czerny reflete sobre o significado do ‘Documento sobre a Fraternidade Humana para a Paz Mundial e a Convivência’
Da redação, com Vatican News
A designação de 4 de fevereiro como Dia Internacional da Fraternidade Humana é resultado de uma resolução da Assembleia Geral da ONU que destaca a importância de um documento marcante assinado naquele mesmo dia em 2019, em Abu Dhabi, pelo Papa Francisco e pelo Grande Imã de Al -Azhar, Ahmed Al-Tayeb.
O documento defende o valor do diálogo inter-religioso como meio de promoção da liberdade de religião e crença. Em tempos de crescente polarização, os dois líderes afirmam que o diálogo é um dos meios mais eficazes para construir a confiança entre as pessoas e ajudar as comunidades a combater a violência cometida em nome da religião.
Este documento fornece estrutura, mecanismo e inspiração de ação para garantir que homens e mulheres em todo o mundo encontrem maneiras de viver e prosperar juntos em fraternidade e paz.
Antes do evento anual, o Cardeal Michael Czerny, SJ, Prefeito do Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral, conversou com Francesca Merlo, repórter do Vatican News.
O religioso falou a respeito do significado do 2º Dia Internacional da Fraternidade Humana, que será celebrado nesta sexta-feira, 4, observando que é “um dia de agradecer e pedir a Deus que abençoe todos os nossos irmãos e irmãs com esperança e coragem para viver nossa vocação humana juntos.”
Vatican News — Eminência, o documento sobre a Fraternidade Humana aborda muitos temas que estão no centro da missão do Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral. Inclui um forte apelo contra a injustiça e a falta de distribuição justa dos recursos naturais, pelo fim do conflito, degradação ambiental e declínio cultural e moral. O que o Dicastério está fazendo para promover a Fraternidade humana e colocar em prática este documento?
Cardeal Czerny — No nosso caso chamamos esse desafio de “Desenvolvimento Humano Integral” porque achamos que é uma excelente expressão — uma espécie de expressão guarda-chuva — para tudo o que desejamos para nós e para toda a humanidade: as condições básicas que nos permitem viver nossa vocação humana, florescer, viver com dignidade, viver com esperança. É disso que se trata o desenvolvimento humano: possibilitar que todos vivamos com esperança. É exatamente isso que o Documento sobre a Fraternidade Humana pede. Como você sugeriu em sua pergunta, os elementos que você mencionou são todas as coisas que são necessárias e, se estiverem faltando, minam a vida, minam a sociedade e a comunidade e, finalmente, levam as pessoas ao desespero. Isso é uma tragédia quando nossa vocação humana é viver a vida em plenitude.
Vatican News — O documento pede cidadania plena para todas as pessoas e o fim do uso discriminatório do termo “minorias”. Também menciona a importância de ajudar os refugiados. Estas questões são particularmente relevantes para você em sua função na Seção de Migrantes e Refugiados do Dicastério…
Cardeal Czerny — Sim, outra forma de traduzir a fraternidade humana seria dizer cidadania plena. E seria bom parar e se perguntar: “Por que nem todo mundo deveria ter cidadania plena?” e “O que ganhamos tratando algumas pessoas como não-cidadãos, ou não-cidadãos, ou ex-cidadãos ou indignos-de-ser-cidadãos?” Na verdade, estamos apenas nos humilhando; estamos mostrando que não entendemos ou apreciamos o que significa ser humano. É uma pena que a cidadania, em vez de ser uma valorização da nossa vida juntos, tenha se tornado uma espécie de “categoria de exclusão” que gera uma mentalidade “nós/eles” e dá uma ilusão muito, muito, muito falsa de que se protegermos e nos defendermos, de alguma forma estaremos seguros. Em um mundo claramente globalizado e interconectado, não há condomínios fechados para esse tipo de comportamento. Por isso, espero sinceramente que a ocasião deste Dia da Fraternidade Humana, em 4 de fevereiro, seja um dia para abrir os olhos e agradecer a Deus por nos fazer irmãos e irmãs, pedindo-Lhe que nos ajude a viver como irmãos e irmãs que somos, pois Ele é nosso Pai comum.
Vatican News — Você é membro da Comissão Internacional que escolhe o vencedor da edição 2022 do “Prêmio Zayed para a Fraternidade Humana” no final do mês em Abu Dhabi. O que pode nos dizer sobre as candidaturas submetidas e a importância desta edição, ainda em plena pandemia de Covid-19? Encontrou candidatos fortes que preenchessem a descrição “farol de esperança para a humanidade?
Cardeal Czerny — Sim! O surpreendente é que quando você começa a procurar exemplos de pessoas que vivem e promovem a fraternidade humana, você encontra tantos! Isso nos mostra que infelizmente nossa mídia não nos dá uma imagem muito boa da realidade e prefere as histórias ruins e as histórias tristes e as histórias violentas, enquanto as histórias da fraternidade humana talvez não sejam consideradas tão interessantes, mas na verdade, elas são os mais interessantes. Há tantos deles e o prêmio é muito novo, então vai levar tempo até que as pessoas saibam dele. Mas, com paciência, penso que se tornará um sinal de esperança de que as pessoas que se doam para gerar e proteger e promover a fraternidade humana, mereçam reconhecimento. E esperamos que contribua para uma maior fraternidade humana em todo o mundo. Uma das coisas que aprenderemos é que a fraternidade humana não é prerrogativa exclusiva de algum grupo, minoria, elite, raça, cultura: é uma vocação comum, e Deus sabe, precisamos reconhecer isso e precisamos viva isso. É o que Jesus veio nos ensinar, deu sua vida por nós. Assim, o Dia da Fraternidade Humana é um dia para agradecer e pedir a Deus que abençoe todos os nossos irmãos e irmãs com esperança e coragem para vivermos juntos nossa vocação humana.