Papa Francisco presidiu a Missa pelos 60 anos do início do Concílio Vaticano II, convocado pelo então Papa João XXIII, santo da Igreja celebrado hoje
Jéssica Marçal
Da Redação
Redescobrir o Concílio Vaticano II é o convite do Papa Francisco ao celebrar, nesta terça-feira, 11, os 60 anos do início desse evento que marcou a história da Igreja. O Pontífice presidiu a Missa na Basílica de São Pedro, na memória litúrgica de São João XIII, o Papa que convocou o Concílio tido como uma primavera na Igreja.
A reflexão de Francisco partiu da frase que Jesus dirige a Pedro no Evangelho da celebração (Jo 21, 15) – “Amas-me?”. Uma pergunta dirigida também à Igreja nos dias de hoje, no aniversário da abertura do Concílio Vaticano II.
O Papa explicou que o Concílio foi uma grande resposta a essa pergunta. “Foi para reavivar o seu amor que a Igreja, pela primeira vez na história, dedicou um Concílio a interrogar-se sobre si mesma, a refletir sobre a sua própria natureza e missão. E descobriu-se mistério de graça gerado pelo amor: descobriu-se povo de Deus, corpo de Cristo, templo vivo do Espírito Santo!”.
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Ver a Igreja com os olhos de Deus
Francisco destacou que o primeiro olhar que se deve ter sobre a Igreja é esse olhar do alto, com os olhos enamorados de Deus. Alertou sobre a tentação de se partir do próprio eu, colocando as agendas antes do Evangelho e se deixando levar pelo mundanismo.
“Mas tenhamos cuidado: seja o progressismo que segue o mundo, seja o tradicionalismo que lamenta um mundo passado não são provas de amor, mas de infidelidade. São egoísmos pelagianos, que antepõem os próprios gostos e planos ao amor que agrada a Deus, ou seja, o amor simples, humilde e fiel que Jesus pediu a Pedro”.
Celebrando os 60 anos do Concílio, o Papa propõe que se volte a este grande evento para voltar-se ao essencial: uma Igreja louca de amor pelo seu Senhor e por todos os homens por Ele amados. Esta é a rota que o Concílio indica à Igreja: voltar às fontes do primeiro amor.
“Irmãos, irmãs, voltemos às puras fontes de amor do Concílio. Reencontremos a paixão do Concílio e renovemos a paixão pelo Concílio!”.
Estar no mundo com os outros, nunca acima
O segundo olhar que o Concílio ensina é o olhar no meio, observou o Papa. Trata-se de estar no mundo com os outros, sem nunca se sentir acima, mas sim servidores. “Como é atual o Concílio! Ajuda-nos a rejeitar a tentação de nos fecharmos nos recintos das nossas comodidades e convicções, para imitar o estilo de Deus”.
O Pontífice lembrou ainda que a Igreja não celebrou o Concílio para se fazer admirar, mas para se dar: de fato, a Igreja existe para amar, frisou. “Voltemos ao Concílio para sair de nós mesmos e superar a tentação da autorreferencialidade. (…) E, se é justo prestar uma atenção particular, que esta seja para os prediletos de Deus: os pobres, os descartados”.
Não à polarização, sim à comunhão
Por fim, o Papa citou o terceiro olhar que o Concílio propõe: o olhar do conjunto, da comunhão. Aqui alertou que o diabo quer semear a divisão, mas não se pode ceder à tentação da polarização.
“Quantas vezes, depois do Concílio, os cristãos se empenharam por escolher uma parte na Igreja, sem se dar conta de dilacerar o coração da sua Mãe! Quantas vezes se preferiu ser ‘adeptos do próprio grupo’ em vez de servos de todos, ser progressistas e conservadores em vez de irmãos e irmãs, ‘de direita’ ou ‘de esquerda’ mais do que ser de Jesus; arvorar-se em ‘guardiões da verdade’ ou em ‘solistas da novidade’, em vez de se reconhecer como filhos humildes e agradecidos da santa Mãe Igreja.”
Não é esse o desejo de Deus, ponderou o Papa Francisco, dizendo que Deus quer seu rebanho unido, superando as polarizações. Francisco agradeceu, inclusive, pela presença, na celebração, de representantes de outras comunidades cristãs, como ocorreu durante o Concílio.
“Nós Vos damos graças, Senhor, pelo dom do Concílio. Vós que nos amais, livrai-nos da presunção da autossuficiência e do espírito da crítica mundana. Vós, que nos apascentais com ternura, fazei-nos sair dos recintos da autorreferencialidade. Vós que nos quereis rebanho unido, livrai-nos do artifício diabólico das polarizações”, concluiu.