Francisco celebrou nesta quarta-feira, 8, missa de aniversário dos 7 anos de sua histórica visita à Lampedusa – ilha símbolo de sofrimento para os imigrantes
Da redação, com Vatican News
Já se passaram 7 anos da primeira viagem do Papa Francisco à Lampedusa, ilha entre a Tunísia e a Itália, que se tornou um símbolo de angústia e sofrimento para os imigrantes que se viram obrigados a fugir dos seus países para lutar pela vida. Longe do Mediterrâneo, mas sempre próximo à história de cada um deles, está o Papa Francisco que, nesta quarta-feira, 8, celebrou uma missa na capela da Casa Santa Marta. Junto aos colaboradores da Seção Migrantes e Refugiados do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral – os únicos que puderam fazer parte da cerimônia, por causa das restrições da pandemia –, o Pontífice recordou a viagem feita, em 2013, quando encontrou, no olhar de cada migrante, a face de Deus.
A reflexão de Francisco, na homilia, partiu justamente dessa atitude que é “fundamental na vida de quem crê”, como descreve o Salmo Responsorial de hoje, que “convida a uma busca constante da face do Senhor” (Sl 104): “A busca da face de Deus é garantia de sucesso da nossa viagem neste mundo, que é um êxodo em direção à verdadeira Terra Prometida, a Pátria celestial. A face de Deus é o nosso destino e também é a nossa estrela polar, que nos permite a não perder o nosso caminho.”
O Santo Padre trouxe, então, o exemplo do povo “perdido” de Israel, descrito pelo profeta Oseias na primeira leitura (Os 10, 1-3.7-8.12). Na época, os israelitas vagavam “no deserto da iniquidade”, devido à distância que tomaram do Senhor por causa da “prosperidade e riqueza abundante” que geraram um coração cheio de “falsidade e injustiça”. “É um pecado do qual até nós, cristãos de hoje, não somos imunes”, alertou Francisco, ao relembrar e reforçar o que disse, em 2013, sobre a “globalização da indiferença” criada pela atual cultura do bem-estar, “que nos leva a pensar em nós mesmos” e acaba nos tornando “insensíveis aos gritos dos outros”.
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O apelo de Oseias de semear justiça e colher amor, procurando o Senhor, disse o Papa, chega até nós, hoje, “como um convite renovado à conversão”. Os 12 apóstolos, como também fala o Evangelho de hoje (cf. Mt 10, 1-7), “tiveram a graça de encontrá-lo fisicamente em Jesus Cristo, Filho de Deus encarnado”. Foi um encontro pessoal com o Senhor, olho no olho, quando conseguiram “fixar o olhar no seu rosto, escutaram a sua voz, viram as suas maravilhas”:
“Esse encontro pessoal com Jesus Cristo também é possível para nós, discípulos do terceiro milênio. Orientados na busca da face do Senhor, podemos reconhecê-lo no rosto dos pobres, dos doentes, dos abandonados e dos estrangeiros que Deus coloca em nosso caminho. E esse encontro se torna também para nós um tempo de graça e salvação, investindo-nos com a mesma missão confiada aos Apóstolos.”
Por ocasião do aniversário de 7 anos da visita do Pontífice a Lampedusa, a Palavra de Deus reforça a importância do “encontro com o outro” que também é “um encontro com Cristo”. Acolher – ou não – quem bate à nossa porta, seja ele um estranho ou um doente que precisa “ser encontrado e ajudado”, é acolher – ou não – Jesus, “no bem e no mal”:
“Essa advertência é, hoje, de uma atualidade ardente. Todos nós deveríamos usá-la como um ponto fundamental do nosso exame de consciência diário. Penso na Líbia, nos campos de detenção, nos abusos e na violência que sofrem os migrantes, nas viagens da esperança, nos resgates e nas rejeições. ‘Todas as vezes que fizestes isso… foi a mim que o fizestes’ (Mt 25, 40).”
Ao final da homilia, o Papa recordou o lado pessoal do ‘encontro com Deus’ ao descrever o dia do ‘encontro com os imigrantes de Lampedusa’. No seu próprio idioma, contou o Pontífice, eles davam testemunho do sofrimento e das coisas terríveis que viveram para chegar até a Itália. E os intérpretes procuravam traduzir, “bem, mas de forma breve”, muito sucinta. Ao voltar para o Vaticano, acrescentou Francisco, uma senhora que havia visto a transmissão e compreendia o idioma etíope dos conterrâneos disse que a tradução era “uma versão destilada” de toda tortura e sofrimento que passaram durante a viagem:
“Eles me deram uma versão ‘destilada’. Isso acontece hoje com a Líbia: nos dão uma versão ‘destilada’. A guerra, sim, é ruim, nós sabemos, mas vocês não imaginam o inferno que se vive ali, naqueles campos de detenção. E essas pessoas somente vinham com a esperança, e atravessar o mar.”