Presidente da Comissão para o Ecumenismo e o Diálogo Inter-religioso da CNBB afirma que Francisco é ecumênico e dá testemunho do caminho que os católicos devem trilhar
Julia Beck
Da redação
“O Papa Francisco é ecumênico e nos dá um luminoso testemunho (…) do caminho que devemos trilhar em favor do ecumenismo e do diálogo inter-religioso, na busca da unidade na diversidade”. Foi o que afirmou o presidente da Comissão para o Ecumenismo e o Diálogo Inter-religioso da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Teodoro Mendes Tavares, ao comentar a viagem do Papa Francisco à Mongólia – que começa nesta quinta-feira, 31.
A passagem do Pontífice pelo país asiático, não diferente das viagens anteriores do Santo Padre, também estabelece uma conotação fraterna com as outras religiões da Mongólia (cuja a maioria da população é “não-católica”, predominantemente budista) . Um ponto de destaque na viagem, nesse sentido, será o Encontro Ecumênico e Inter-Religioso no “Teatro Huno”, em Ulaanbaatar, prevista na programação para o domingo, 3.
Dom Tavares destaca o pluralismo do mundo e a necessidade da convivência pacífica a partir de um diálogo sincero e construtivo. “O mundo de hoje, bastante dividido, espera que as Igrejas e as religiões, os membros de outros credos e nós, cristãos católicos, em particular, promovamos a cultura do encontro, o diálogo, a fraternidade, a amizade social e a paz”, pontua.
Não se fechar por medo, ignorância, preconceito, indiferença ou por outra atitude negativa é o pedido do presidente da Comissão para o Ecumenismo e o Diálogo Inter-religioso da CNBB. Segundo ele, é preciso saber viver e testemunhar a fé católica no contexto plural, valorizando mais o que une do que aquilo que separa.
Luta comum contra o mal
“O diálogo inter-religioso (…) visa não só conhecer, apreciar e respeitar as outras experiências religiosas, mas também cooperar junto com as outras religiões na solução dos grandes problemas que afligem a humanidade: justiça, paz, ecologia, pobreza, direitos humanos, defesa da vida, promoção da dignidade, busca da paz e da reconciliação entre os povos, entre outras questões”, defende o bispo.
Deve estar na “agenda comum” das diferentes tradições religiosas o combate ao mal, reforça Dom Tavares. “A Igreja Católica reconhece o valor do diálogo em si e destaca sua importância decisiva nas relações interpessoais, na evangelização, colaboração ecumênica e cooperação entre as diferentes religiões”.
O presidente da Comissão reitera ainda que o próprio Papa Francisco ensina na sua Carta Encíclica Fratelli Tutti que é possível trilhar um caminho de paz entre as religiões, as quais devem estar a serviço da fraternidade e da paz no mundo.
“Deste modo, o diálogo com as outras religiões é recomendado, valorizado e promovido. (…) Além disso, o Santo Padre defende um direito humano fundamental, que não pode ser ignorado no caminho da fraternidade e da paz: é a liberdade religiosa para os crentes de todas as religiões (cf. Fratelli Tutii, 279). Ele pede aos políticos do mundo inteiro que, onde os cristãos são minoria (como é o caso da Mongólia), lhes seja dada liberdade religiosa”.
Católicos confirmados na fé
A visita apostólica do Papa à Mongólia, para além do ecumenismo e diálogo inter-religioso, será especialmente importante para os fiéis católicos daquele país, observa Dom Tavares.
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“Eles terão uma oportunidade de “ver o Papa”, de se encontrar com ele, celebrar a beleza da nossa fé cristã; estou convencido que sentir-se-ão felizes, encorajados, revigorados e confirmados na fé, num país onde os cristãos são minoria. Este é aliás, o objetivo precípuo da visita apostólica do Santo Padre aos católicos, em qualquer país ou lugar: confirmar na fé os irmãs e irmãs em Cristo. O Papa, Sucessor de Pedro, tem essa nobre missão, como disse Jesus a Pedro (cf. Lc 22,32)”.
Promotor da paz
O Papa Francisco é um homem de Deus e de paz, prossegue Dom Tavares. Ainda de acordo com ele, o Pontífice se identifica tanto com São Francisco de Assis, chamado “o irmão universal”, que consegue “atualizar a sua figura” e ser, nos dias atuais, “um irmão de todos”, “um grande mensageiro e promotor da paz”, “da abertura aos outros”, “da cultura do encontro”.
“Também nós, obedientes ao Papa Francisco e em comunhão com ele, somos convidados e interpelados a participar ativamente da vida e ação da Igreja em favor do ecumenismo, como expressão da vontade do Senhor Jesus, o qual rezou ao Pai para que vivamos na unidade e para que o mundo creia (cf. Jo 17,21-23)”, disse Dom Tavares ao retomar o viés ecumênico da viagem.
Ao se envolver em encontros como o que acontecerá em Ulaanbaatar, o Santo Padre sinaliza para toda a Igreja que está sendo fiel à sua missão, sublinha o bispo. “Nosso desejo, ideal cristão e compromisso com o ecumenismo e diálogo inter-religioso visam à unidade, à paz e cooperação entre as pessoas de diferentes confissões religiosas, ou seja, com todos os povos. Sigamos o exemplo do Papa Francisco!”, exorta.
Ecumenismo e o diálogo inter-religioso: uma necessidade não só na Mongólia
No Brasil, Dom Tavares reflete que, apesar da maioria da população ser católica, a sociedade enfrenta vários desafios no que concerne ao ecumenismo, ao pluralismo religioso e à necessidade imperiosa do diálogo entre as igrejas, com as religiões e a sociedade em geral.
“Precisamos de paz e união, em vez de guerras e divisão; de pontes, e não de grades e muros que separam as pessoas; de diálogo, em vez de confrontação; enfim, de amor, em vez de ódio!”, defende.
Infelizmente, o bispo cita também a divisão entre as Igrejas e comunidades cristãs. “A base do ecumenismo está no diálogo. A Igreja Católica, na sua missão evangelizadora, deve entrar em diálogo com as outras Igrejas cristãs, com as outras religiões, com todas as pessoas, com a sociedade e com mundo em que vive. A teologia cristã é essencialmente dialógica”, esclarece.
O presidente da Comissão para o Ecumenismo e o Diálogo Inter-religioso da CNBB frisa que é urgente a prática e promoção da cultura do encontro e diálogo, como tem feito o Papa Francisco. O ecumenismo e diálogo inter-religioso, ressalta, são meios adequados e eficazes para buscar e alcançar a unidade, a reconciliação e a paz entre os povos.