Em encontro com os deslocados internos em Juba, no Sudão do Sul, Papa se concentrou nos principais dilemas sofridos por aqueles que, com suas famílias inteiras, saíram de suas casas para buscar apoio em outro lugar do país
Da redação, Boletim da Santa Sé
Como parte da programação da Visita do Papa Francisco ao Sudão do Sul, neste sábado, 4, o Pontífice se encontrou com os deslocados internos. Estes são forçados a mudar dentro do próprio país em busca de proteção e melhores condições de vida.
Acesse
.: Íntegra do discurso
.: Todas as notícias sobre a viagem do Papa ao Congo e Sudão do Sul
O encontro aconteceu no Clube Social Freedom Hall, localizado em Juba. Francisco agradeceu pelas orações, pelos testemunhos dados por alguns deslocados e pelo cântico. Depois, concentrou-se no questionamento feito por um deslocado. “Porque é que estamos a sofrer no campo de desalojados?”.
“Na verdade, é devido às devastações provocadas pela violência humana e também pelas inundações que milhões de nossos irmãos e irmãs como vós, incluindo tantas mães com os filhos, tiveram que deixar as suas terras e abandonar as suas aldeias, as suas casas. Infelizmente, neste martirizado país, ser desalojado ou refugiado tornou-se uma experiência habitual e coletiva.”
Francisco renovou, então, o mais sentido apelo para que se faça cessar todo o conflito e se retome seriamente o processo de paz. “Para que acabem as violências e o povo possa voltar a viver dignamente. Só com a paz, a estabilidade e a justiça poderá haver desenvolvimento e reintegração social.”
O futuro não pode ser nos campos de desalojados
Segundo o Papa, não se pode esperar mais. “Um número enorme de crianças nascidas nos últimos anos só conheceu a realidade dos campos de desalojados, esquecendo-se do ambiente de casa, perdendo a ligação com a própria terra de origem, com as raízes, com as tradições.” E acrescentou: “O futuro não pode ser nos campos de desalojados. (…) Há necessidade de crescer como sociedade aberta, misturando-se, formando um único povo através dos desafios da integração, inclusivamente aprendendo as línguas faladas em todo o país e não apenas na própria etnia.”
O Papa explicou que é preciso assumir o risco estupendo de conhecer e acolher quem é diferente, para encontrar a beleza duma fraternidade reconciliada e experimentar a aventura inestimável de construir livremente o próprio futuro juntamente com o da comunidade inteira.
“E é absolutamente necessário evitar a marginalização de grupos e o levantamento de guetos dos seres humanos. Mas, para todas estas carências, há necessidade de paz e da ajuda de muitos, de todos.”
Cuidar da mulher
Diante da situação no país, Francisco agradeceu à Representante Especial Adjunta Sara Beysolow por toda ajuda concedida, onde “fixou nos olhos as mães”, presenciando a tristeza que sentem pela situação dos filhos. Também subscreveu aquilo que Sara disse sobre as mães: “As mulheres são a chave para transformar o país. Se lhes forem concedidas as justas oportunidades, elas, com a sua laboriosidade e destreza para guardar a vida, terão a capacidade de mudar a fisionomia do Sudão do Sul, de lhe dar um desenvolvimento sereno e coeso.”
Em seguida, o Papa pediu que as mulheres sejam cuidadas. “Que a mulher seja protegida, respeitada, valorizada e honrada. Por favor, protegei, respeitai, valorizai e honrai toda a mulher, menina, adolescente, jovem, adulta, mãe, avó. Sem isso, não haverá futuro.”
Mãos vazias, mas o coração cheio de fé
Ao continuar o discurso, o Papa pediu aos presentes, enquanto observava o olhar deles – que descreveu como cansados mas luminosos – que não perdessem a esperança. E falou-lhes que mesmo que carregassem dentro de si um passado doloroso, não parassem de sonhar com um futuro melhor.
Ao fazer uma metáfora, Francisco afirmou aos presentes que eles mesmos são a semente de um novo Sudão do Sul, a semente para o crescimento fértil e exuberante do país. Um dia, ponderou o Papa, a árvore dará frutos, absorverá a poluição de anos de violência e restituirá o oxigênio da fraternidade.
Ao assemelhar os presentes às sementes do Sudão do Sul, o Papa também recordou as raízes e a sua importância, dizendo que nunca devem ser esquecidas. “Os antepassados lembram-nos quem somos e qual deve ser a nossa estrada. Sem eles, estamos perdidos, temerosos e sem bússola. Não há futuro, sem passado”.
Gratidão a quem ajuda a população
O Para também quis agradecer a todos aqueles que são auxílio para a população local, em condições, muitas vezes, difíceis se não mesmo de emergência. “Obrigado às comunidades eclesiais pelas suas obras, que merecem ser apoiadas, aos missionários, às organizações humanitárias e internacionais, em particular às Nações Unidas pelo grande trabalho que realizam. Claro que um país não pode viver longamente de apoios externos, sobretudo tendo um território tão rico de recursos!”.
O Papa também prestou homenagem aos numerosos agentes humanitários que perderam a vida e exortou ao respeito por quem ajuda e pelas estruturas de apoio à população, que não podem ser alvo de assaltos e vandalismo. “A todos peço, com o coração nas mãos: ajudemos o Sudão do Sul, não deixemos sozinha a sua população, que tanto sofreu e continua a sofrer!”.
Palavra aos refugiados que não conseguem voltar
Por fim, o Papa dirigiu um pensamento aos muitos refugiados sul-sudaneses que se encontram fora do país e não conseguem voltar porque o seu território foi ocupado. O Pontífice disse estar solidário a eles e espera que possam voltar a ser protagonistas do futuro de sua terra. E se referindo a um dos deslocados internos que deram testemunho, encerrou:
“Nyakuor Rebecca, pediste-me uma bênção especial para as crianças do Sudão do Sul, precisamente para poderdes crescer todos juntos na paz. Será uma bênção verdadeiramente especial, porque dá-la-ei juntamente com os meus irmãos Justin e Iain. Com ela, chegue até vós a bênção de tantos irmãos e irmãs cristãos no mundo, que vos abraçam e encorajam, sabendo que em vós, na vossa fé, na vossa força interior, nos vossos sonhos de paz, resplandece toda a beleza do ser humano.”