No Angelus na festa de Santo Estêvão, Francisco deu destaque aos gestos que mudam a história e abrem as portas para a luz de Jesus
Da redação, com Vatican News
“Santo Estêvão, enquanto recebia as pedras do ódio, retribuía com palavras de perdão. Assim mudou a história. Também nós podemos, a cada dia, transformar o mal em bem”. No Angelus na festa de Santo Estêvão, celebrado neste sábado, 26, o Papa Francisco propôs como modelo o testemunho do primeiro mártir do cristianismo, enfatizando que gestos de amor mudam a história, mesmo aqueles pequenos, e que Deus guia a história pela coragem humilde de quem reza, ama e perdoa.
Com a Praça São Pedro praticamente deserta devido às medidas adotadas pelo governo italiano neste período festivo, para conter o contágio do coronavírus, a oração do Angelus foi rezada na Biblioteca do Palácio Apostólico, e não da janela do apartamento pontifício.
Dirigindo-se a quem o acompanhava pelos meios de comunicação, o Pontífice começou falando de Santo Estêvão, como “testemunha de Jesus”, “ brilha na escuridão”. Francisco afirmou que esse brilho é a luz de Jesus. “As testemunhas brilham com a luz de Jesus, não têm luz própria. Também a Igreja não tem luz própria. Por isso os antigos Padres chamavam a Igreja de ‘o mistério da lua’. Como a lua não tem luz própria, as testemunhas não têm luz própria, são capazes de pegar a luz de Jesus e refleti-la”.
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O Santo Padre recorda que Santo Estêvão foi falsamente acusado e brutalmente apedrejado, mas na escuridão do ódio, que havia naquele tormento da lapidação, fez resplandecer a luz de Jesus: reza por seus assassinos e os perdoa, como Jesus na Cruz. “É o primeiro mártir, isto é, a primeira testemunha, o primeiro de uma lista de irmãos e irmãs que, até hoje, continuam a iluminar nas trevas: pessoas que respondem ao mal com o bem, que não cedem à violência e à mentira, mas quebram a espiral do ódio com a mansidão do amor.
O Pontífice questionou: “Mas como se torna uma testemunha?”. Para isso, o Papa afirmou que é preciso imitar Jesus, pegando a luz d’Ele. Esse é o caminho para todo cristão, revelou: imitar Jesus, pegar a luz de Jesus. Santo Estêvão dá este exemplo, frisou Francisco, ele tenta imitar o Senhor todos os dias e o faz até o final: como Jesus, é capturado, condenado e morto fora da cidade e, como Jesus, reza e perdoa. Enquanto estava sendo apedrejado, São Estevão disse: “Senhor, não lhes leve em conta esse pecado”.
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Testemunho de Estêvão: conversão de Paulo
Diante da maldade difusa no mundo, poderiam surgir questionamentos sobre a serventia desses testemunhos de bondade, observou o Santo Padre: “Que serventia tem rezar e perdoar? Somente para dar um belo exemplo?”. Não, há muito mais, respondeu. “Descobrimos isso por um detalhe. Entre aqueles por quem Estêvão rezava e perdoava, havia, diz o texto, “um jovem, chamado Saulo” que “aprovava a sua morte”. Pouco depois, por graça de Deus, Saulo se converte, recebe a luz de Jesus, aceita-a, se converte e se torna Paulo, o maior missionário da história. Paulo nasce precisamente da graça de Deus, mas por meio do perdão de Estevão, por meio do testemunho de Estêvão. Eis a semente de sua conversão. É a prova de que os gestos de amor mudam a história: mesmo aqueles pequenos, escondidos, cotidianos”.
Deus guia a história pela coragem humilde de quem reza, ama e perdoa, destacou Francisco. O Papa recorda que há tantos santos escondidos, os santos da porta ao lado, testemunhos escondidos de vida, com pequenos gestos de amor que mudam a vida, pequenos gestos que deixam a luz de Jesus entrar e mudam a história. O Pontífice reforça que o Senhor deseja que todos façam da vida uma obra extraordinária por meio de gestos ordinários, os gestos de cada dia.
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“Ali onde vivemos, em família, no trabalho, onde quer que seja, somos chamados a ser testemunhas de Jesus, ainda que apenas dando a luz de um sorriso, luz que não é nossa, é de Jesus e mesmo somente fugindo das sombras das fofocas e dos mexericos. E depois, quando vemos algo que não está certo, ao invés de criticar, falar pelas costas e reclamar, rezemos por quem errou e por aquela situação difícil. E quando surge uma discussão em casa, em vez de tentar prevalecer, procuremos desarmar; e recomeçar a cada vez, perdoando quem ofendeu. Pequenas coisas, mas mudam a história, porque abrem a porta, abrem a janela para a luz de Jesus”.
Santo Estêvão, enquanto recebia as pedras do ódio, lembrou o Santo Padre, retribuía com palavras de perdão e, assim, mudou a história. “Também nós podemos, a cada dia, transformar o mal em bem, como sugere um belo provérbio que diz: “Faça como a palmeira: atiram pedras nela e ela deixa cair tâmaras”.
Oração pelos cristãos perseguidos
O Pontífice concluiu sua reflexão, pedindo orações por todos aqueles que sofrem pela fé professada em Jesus: “Rezemos hoje por aqueles que sofrem perseguição por causa do nome de Jesus. São muitos, infelizmente. São mais do que nos primeiros tempos da Igreja. Confiemos a Nossa Senhora esses nossos irmãos e irmãs, que respondem à opressão com a mansidão e, como verdadeiras testemunhas de Jesus, vencem o mal com o bem”.
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Colaboração com as autoridades
Após rezar o Angelus, ao saudar aqueles que acompanhavam o “momento de oração” pelos meios de comunicação, Francisco explicou o porquê de a oração ser realizada nestes dias na Biblioteca do Palácio Apostólico: “Devemos fazer assim, para evitar que as pessoas venham para a Praça [de São Pedro]. Assim, para colaborar com as disposições dadas pelas Autoridades, para ajudar a todos nós a escapar desta pandemia”.