Durante o seu discurso dominical no Angelus, Francisco advertiu contra a tentação de pensar que a fé e a vida cotidiana são duas coisas distintas, chamando esta forma de pensar uma espécie de ‘esquizofrênica’
Da redação, com Vatican News
Para aqueles que são tentados a pensar que a fé e a vida quotidiana não têm a ver uma com a outra, o Papa Francisco diz que isto, francamente, não é verdade. O Santo Padre fez esta observação durante o seu Angelus deste domingo, 22, na Praça de São Pedro, enquanto refletia sobre a passagem do Evangelho de segundo São Mateus. Ele também ressaltou que pertencemos ao Senhor e não a qualquer poder terreno.
Francisco comentou o episódio extraído de São Mateus, que narra a cilada que alguns fariseus e herodianos armam contra Jesus. Vão até Ele e lhe perguntam: “É lícito ou não pagar imposto a César?”.
“É uma farsa”, explica o Pontífice. Pois se Jesus legitimar o imposto, coloca-se da parte de um poder político pouco tolerado pelo povo, enquanto se disser para não o pagar, pode ser acusado de rebelião contra o império. O Mestre, porém, foge desta trapaça. Pede que lhe mostrem uma moeda, que traz impressa a imagem de César, e lhes diz: “Dai pois a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” (v. 21).
Essas palavras de Jesus se tornaram de uso comum, prossegue o Papa, mas, às vezes, foram utilizadas de modo errôneo para falar das relações entre Igreja e Estado. Jesus não quer separar “César” e “Deus”, ou seja, a realidade terrena e daquela espiritual.
“Às vezes, também nós pensamos assim: uma coisa é a fé com as suas práticas e outra coisa é a vida de todos os dias. Não. Esta é uma ‘esquizofrenia’, como se a fé não tivesse nada a ver com a vida concreta, com os desafios da sociedade, com a justiça social, com a política e assim por diante.”
Na realidade, Jesus dá a César e Deus sua devida importância. A César — isto é, à política, às instituições civis, aos processos sociais e econômicos — pertence o cuidado com a ordem terrena e os cidadãos contribuem promovendo o direito, a justiça e pagando honestamente os impostos. Mas a Deus pertence o homem, todo o homem e todo ser humano.
“Isso significa que nós não pertencemos a nenhuma realidade terrena, a nenhum ‘César’ deste mundo. Somos do Senhor e não devemos ser escravos de nenhum poder mundano. Sobre a moeda, portanto, há a imagem do imperador, mas Jesus nos recorda que, na nossa vida, está impressa a imagem de Deus, que nada nem ninguém pode obscurecer. A César pertencem as coisas do mundo, mas o homem e o próprio mundo pertencem a Deus: não o esqueçamos!”
Francisco então dirige algumas perguntas aos fiéis: “Sobre a moeda deste mundo está a imagem de César, mas você, que imagem leva dentro de si? De quem você é imagem na sua vida? Nós nos lembramos de pertencer ao Senhor ou nos deixamos plasmar pelas lógicas do mundo e fazemos do trabalho, da política e do dinheiro os nossos ídolos a adorar?”
E concluiu fazendo votos de que a Virgem Santa nos ajude a reconhecer e honrar a nossa dignidade e a de cada ser humano.