Especialista em Bíblia explica diferencial do Evangelho de São Mateus e destaca mudança na vida do apóstolo com o encontro com Jesus
Kelen Galvan
Da redação
São Mateus foi um dos doze apóstolos de Jesus e o um dos evangelistas, que escreveu sobre a vida e a morte de Cristo. Seus escritos receberam o nome de Evangelho e é um dos quatro considerados canônicos. O santo apóstolo é celebrado nesta quinta-feira, 21 de setembro.
O especialista em Bíblia e Cientista da Religião, Denis Duarte, explica que o diferencial do Evangelho de São Mateus é que ele “é muito catequético”. “Ele é dividido em grandes blocos e o principal tema são os ensinamentos de Jesus. O pano de fundo é a lei de Moisés e Jesus ensinando sobre essa lei diz: ‘Não penseis que vim abolir a Lei e os Profetas. Não vim para abolir, mas para dar-lhes pleno cumprimento’ (Mt 5, 17). Por isso, sempre há muitos debates entre Jesus e os doutores da lei”, aponta.
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Segundo Denis, essa característica fez com que este Evangelho fosse muito utilizado, principalmente, no início do Cristianismo e tomou grande importância.
Neste Ano Líturgico A, o Evangelho segundo São Mateus é lido diariamente nas Santas Missas. A tradição aponta que ele foi escrito, em Israel, na língua aramaica, por volta do ano 50.
Contribuições distintas
Para o Mestre em Ciências Biblicas e Arqueologia, padre Antonio Xavier, o Evangelho de Mateus tem várias contribuições distintas em relação aos evangelhos de Marcos, Lucas e João.
“Possui uma divisão temática da vida de Jesus em cinco temas: A nova lei (cap 3-7); Missão (cap. 8-10); O Reino dos Céus (cap. 11-13); vida da comunidade (cap. 13-18); Escatologia (cap. 24-25), iniciando com o evangelho da infância e terminando com a paixão morte e ressurreição de Jesus”, destaca.
O sacerdote também aponta ainda que este evangelho é o que mais faz referências ao Antigo Testamento para afirmar que Jesus cumpre as profecias. E diferente de Lucas, Mateus insere quatro mulheres na genealogia de Jesus. Ele também aborda mais questões relacionadas ao judaísmo por ter sido escrito para cristãos de origem judaica. “É o único que cita a visita dos magos, a morte dos inocentes e a ida da Sagrada Família para o Egito; tem parábolas únicas como a parábola das dez virgens (Mt 25,1-13) e a parábola dos talentos (Mt 25,14-30)”, exemplifica.
A linguagem do evangelho é muito vívida e objetiva, resume Padre Xavier. Outro aspecto que ele destaca é que o texto também contém muitas citações de moedas e valores monetários daquele tempo, devido ao fato de Mateus ter sido cobrador de impostos.
De cobrador de impostos a discípulo
Antes de sua conversão, ele se chamava Levi e trabalhava como cobrador de impostos. Ao receber o chamado de Jesus, deixou tudo para segui-lo (Mt 9,9; Lc 5,27; Mc 2,14).
Denis Duarte explica que o cobrador de impostos era um judeu que recolhia os impostos dos “seus irmãos” judeus e entregava aos romanos. Na época, Israel estava sob o domínio militar de Roma.
“Mateus era odiado por seus irmãos [judeus]. Porque eles diziam ‘como pode você, nosso irmão judeu, pegar nosso dinheiro e entregar aos pagãos, os romanos, aqueles que nos dominam. Então você não é um filho de Deus, porque você não é filho de Abraão e membro do nosso povo. Você é um dos romanos’. Só que, em contrapartida, os romanos também diziam ‘você não é um cidadão de Roma (uma identidade muito importante para o romano)’. Então, ele não tinha identidade. E a identidade para o judeu é muito importante”, explica.
E, neste momento, Mateus encontra Jesus, que passa adiante dele e diz: “Vem e segue-me” (Mc 2,14 ). “E ele imediatamente seguiu Jesus. Porque Jesus restaurou a identidade dele. Jesus dizendo: ‘eu sou filho de Deus, eu vou inserir você novamente no povo judeu, você continua tendo uma missão dada pelo próprio Deus’. Essas são algumas das características do chamamento de São Mateus”.
As riquezas podem enganar o coração
Padre Xavier afirma que o chamado de Mateus tem muito a ensinar. “Ao vermos aquele cobrador de impostos de Cafarnaum (que nem era tão bem visto pelo povo de seu tempo devido à sua profissão), que responde prontamente ao chamado de Jesus, percebemos como as riquezas podem enganar o coração do homem e quanto as vantagens podem nos cegar”.
O sacerdote explica que certamente Mateus já tinha escutado as pregações de Jesus em outros momentos, porque estava sempre ali na entrada da cidade, porém ao receber o chamado de Jesus respondeu prontamente.
“Quando o olhar e a atenção de Jesus se voltou para ele, respondeu com prontidão não se importando com mais nada. Rapidamente deu uma festa para levar Jesus aos seus amigos e depois o seguiu com docilidade e persistência”, enfatizou.
Ele recorda que na passagem bíblica do jovem rico, quando Jesus diz: “Se queres ser perfeito, vai, vende o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no Céu; depois, vem e segue-me” (Mt 19, 21)”, é possível entender perfeitamente a atitude de São Mateus.
“Uma vida de desapegos e comunhão profunda com nosso Senhor. (…) Sua atividade apostólica ocorreu na Judeia e depois foi martirizado na Etiópia não sendo certo se foi apedrejado ou morto com uma lança”, destaca padre Xavier.