Mensagem

Papa frisa cultura do encontro a evento sobre diálogos do Mediterrâneo

Em carta enviada à Conferência para os Diálogos sobre o Mar Mediterrâneo, Francisco recordou que da mesma forma que as fronteiras podem separar, devem unir e pediu diálogo entre as nações

Da redação, com Boletim da Santa Sé

Migrantes esperam para serem resgatados por tripulantes do navio de resgate da ONG ‘Ocean Viking’ no Mar Mediterrâneo no dia 26 de outubro de 2022/ Foto: Camille Martin Juan/Sos Mediterranee  via REUTERS

O Papa Francisco enviou uma mensagem aos participantes da VIII Conferência Roma Med – Diálogos do Mediterrâneo que está sendo realizada em Roma desde ontem, 1º, até este sábado, 3. A mensagem foi publicada pela Santa Sé nesta sexta-feira, 2. 

O Pontífice evidenciou o compromisso assumido pelo Ministério Italiano das Relações Exteriores e Cooperação Internacional e pelo Instituto de Estudos Políticos Internacionais. Os organismos promovem, a partir da iniciativa Roma-Med, políticas partilhadas na zona mediterrânica.

“O método desta Conferência é significativo e importante em si mesmo, nomeadamente o compromisso com o diálogo, a discussão, a reflexão comum, a procura de soluções ou mesmo apenas abordagens coordenadas para aqueles que são – e só podem ser – os interesses comuns dos povos que, na diversidade de suas respectivas culturas, ignoram o mar mediterrâneo”.

Fronteiras que unem

Francisco enfatizou que o Mediterrâneo tem um grande potencial de aproximar três continentes. “Uma ligação que historicamente, também através das migrações, tem sido extremamente fecunda. África, Ásia e Europa fazem fronteira com ele, mas muitas vezes esquecemos que as linhas que delimitam são também as que ligam, e que a ambivalência do termo “fronteira” também pode aludir a um objetivo comum”.

Com pesar, o Pontífice constatou na mensagem que o Mar Mediterrâneo, berço da civilização, hoje, dificilmente pode ser vivido como lugar de encontro, troca, partilha e colaboração. Compreende também que é nesta mesma encruzilhada da humanidade que muitas oportunidades são esperadas. “Devemos, portanto, retomar a cultura do encontro da qual tanto nos beneficiamos, e não apenas no passado. Assim será possível reconstruir o sentido de fraternidade, desenvolvendo, além de relações econômicas mais justas, também relações mais humanas, inclusive com os migrantes”.

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Olhando para a Conferência, o Papa disse que ela tem a vantagem de relançar a centralidade do Mediterrâneo. Isso pode ser feito através da discussão de uma agenda particularmente rica em temas, que vão desde as questões geopolíticas e de segurança, à proteção das liberdades humanas fundamentais, ao desafio das migrações, ao clima e à crise ambiental.

O Pontífice tocou em assuntos como a possível incapacidade de pela falta de diálogo encontrar soluções comuns para a mobilidade humana na região, assim como a migração que se torna essencial para o bem-estar da área. Pediu atenção para as situações desafiadoras afirmando que “ninguém se salva sozinho”.

“Esta globalização dos problemas reaparece hoje no contexto do dramático conflito bélico em curso na Europa, entre a Rússia e a Ucrânia, do qual, para além dos prejuízos incalculáveis ​​de cada guerra em termos de vítimas, a crise energética, financeira e humanitária de tantos inocentes forçados a deixar suas casas e perder seus bens, como também a crise alimentar, que atinge um número crescente de pessoas em todo o mundo, especialmente nos países mais pobres.”

O Conflito na Ucrânia

Ao falar do conflito ucraniano, o Santo padre recordou que a situação já possui enormes repercussões nos países do norte da África, que dependem em 80% do trigo da Ucrânia ou da Rússia.

“Portanto, assim como não é possível pensar em enfrentar a crise energética desvinculada da crise política, não se pode ao mesmo tempo resolver a crise alimentar desvinculada da persistência dos conflitos, ou a crise climática sem levar em consideração o problema migratório, ou o resgate às economias mais frágeis ou mesmo a proteção das liberdades fundamentais.

Antes de concluir, chamou atenção para o grito do planeta devastado que torna-se inseparável do grito da humanidade sofredora.

O Pontífice finalizou pedindo atenção para o compromissos que cada homem e mulher de boa vontade deve assumir. “Estejam no horizonte de vocês o diálogo. Com estes votos desejo-vos um trabalho sereno e frutífero, assegurando-vos a minha oração e invocando a bênção de Deus sobre todos vocês”.

A Conferência

Iniciada  em 2015, o Roma Med – Diálogos,  tornou-se o centro global para diálogos de alto nível sobre o Mediterrâneo, envolvendo líderes proeminentes de governos mediterrâneos, empresas, sociedade civil, mídia e academia.

As edições anteriores reuniram mais de 1.000 líderes internacionais, incluindo Chefes de Estado e Ministros (entre eles, o Rei da Jordânia, o Presidente do Iraque e do Líbano, Ministros das Relações Exteriores da Rússia, Irã, Arábia Saudita, Iraque, Emirados Árabes Unidos, Estados Unidos Secretário de Estado, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados e o Enviado para a Síria, bem como o Alto Representante da UE para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança e o primeiro Vice-Presidente da Comissão e muitos outros).

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