Sergio Mattarella recebeu o prêmio na manhã desta segunda-feira, 29, na Sala Clementina do Palácio Apostólico
Da redação, com Vatican News
O serviço é o que faz da ação política uma forma de caridade, afirmou o Papa Francisco na manhã desta segunda-feira, 29, na Sala Clementina do Palácio Apostólico, por ocasião da entrega do prêmio que leva o nome do Papa Montini ao presidente da Itália, que renunciou o seu descanso depois de tantos anos de trabalho justamente para prestar seu serviço ao Estado.
O reconhecimento, criado por iniciativa do Instituto Paulo VI para assinalar personalidades eminentes que se distinguiram nos vários âmbitos da cultura e na promoção da justa convivência humana e que, de diferentes maneiras, testemunham a vitalidade do legado espiritual do Papa Montini, é conferido a Mattarella, “por sua dedicação ao bem comum em um compromisso político inspirado nos valores cristãos e, ao mesmo tempo, rigoroso no serviço das instituições civis”.
Em seu discurso, o Pontífice lembrou que o próprio Paulo VI, aos representantes da União dos Democratas Cristãos, em 1972, disse que aqueles que exercem o poder público devem se considerar “como servidores de seus compatriotas, com o desinteresse e a integridade que convém à sua alta função”. Em uma Audiência Geral, em 9 de outubro de 1968, Montini especificou que o dever do serviço é inerente à autoridade e que quanto maior o dever, maior a autoridade. Mas “a tentação generalizada, em todas as épocas, mesmo nos melhores sistemas políticos” é a de “servir-se da autoridade em vez de servir através da autoridade”, observa Francisco, destacando como “é fácil subir em um pedestal” e difícil, ao invés disso, “abaixar-se para servir aos outros”.
Serviço e responsabilidade
O Papa enfatizou que servir gera alegria e faz bem, antes de tudo, a quem serve e recordou, a esse respeito, o que Alessandro Manzoni, definido por Paulo VI como “gênio universal”, “tesouro inesgotável de sabedoria moral”, “mestre da vida”, escreveu em “I promessi sposi”: “deveria se pensar mais em se fazer o bem do que em estar bem: e assim também se acabaria ficando melhor”.
“Mas o serviço corre o risco de continuar sendo um ideal bastante abstrato sem uma segunda palavra que nunca pode ser separada dele: responsabilidade. Ela, como a própria palavra indica, é a capacidade de oferecer respostas, com base em seu próprio compromisso, sem esperar que sejam os outros a dá-las. Quantas vezes, Sr. Presidente, antes pelo exemplo do que pelas palavras, o senhor exigiu isso! Também nisso, não podemos deixar de notar, uma fecunda afinidade com Giovanni Battista Montini”.
O compromisso de cada um pelo bem comum
E ainda, de Paulo VI, Francisco recordou a Carta Apostólica Octogesima adveniens, onde se enfatiza que “as palavras servem para pouco ‘se não forem acompanhadas em cada um por uma consciência mais viva da própria responsabilidade'”, porque, continua o documento, “é muito fácil descarregar a responsabilidade da injustiça sobre os outros, se não se está convencido ao mesmo tempo de que cada um participa e de que a conversão pessoal é, antes de tudo, necessária”. Uma afirmação que ainda é atual, constatou o Papa, “quando acaba sendo quase automático culpar os outros, enquanto a paixão pelo todo enfraquece e o compromisso comum corre o risco de eclipsar as necessidades do indivíduo”.
“A responsabilidade, por outro lado, como tantos cidadãos da Emília-Romagna nos mostram nestes dias, chama cada um a andar contra a maré em relação ao clima de derrotismo e reclamação, para sentir as necessidades dos outros como se fossem as suas e a se redescobrir como partes insubstituíveis do único tecido social e humano ao qual todos nós pertencemos”, disse.
Compromisso com a legalidade
Falando, então, de responsabilidade, Francisco também abordou o “compromisso com a legalidade”, que “requer luta”, “determinação” e também “memória daqueles que sacrificaram suas vidas pela justiça”, como Piersanti Mattarella, irmão do chefe de Estado italiano, “as vítimas do massacre da máfia Capaci”.
Segundo o Pontífice, São Paulo VI observava que, nas sociedades democráticas, não faltam instituições, pactos e estatutos, mas “muitas vezes falta a observância livre e honesta da legalidade” e que ali “o egoísmo coletivo se eleve”. Também nessa área, o Santo Padre afirmou que o presidente representa um professor coerente de responsabilidade.
Sonho de Paulo VI: comunidades solidárias
Por fim, o Papa ressaltou a importância que São Paulo VI atribuiu à “responsabilidade de cada um pelo mundo de todos”, com seu convite, na Populorum Progressio, a “lutar sem resignação diante dos desequilíbrios da injustiça planetária” e a “enfrentar os desafios climáticos”, convencido de que o meio ambiente se tornaria intolerável para o homem “como consequência da atividade destrutiva do próprio homem que, ao dominar a criação, não se encontraria mais no controle dela”.
Montini “nos deixou o exigente legado de construir comunidades solidárias”, reconheceu Francisco, acrescentando que o sonho de seu predecessor de “comunidades de participação e vida”, que fariam o melhor “para construir uma solidariedade ativa e vivida”, “se chocou com vários pesadelos que se tornaram realidade”, como a “terrível história de Aldo Moro”.
E, no final de seu discurso, o Pontífice citou novamente o Papa Montini, que escreveu na Evangelii nuntiandi: “o homem contemporâneo escuta com mais boa vontade as testemunhas do que os mestres, ou, se escuta os mestres, o faz porque eles são testemunhas”.