Francisco recebeu em audiência, nesta quinta-feira, 30, os membros da Comissão Teológica Internacional
Da redação, com Vatican News
O Papa Francisco se reuniu nesta quinta-feira, 30, com os membros da Comissão Teológica Internacional. O órgão foi criado por Paulo VI na então Congregação para a Doutrina da Fé em 1969 – uma proposta da primeira assembleia do Sínodo dos Bispos – para ajudá-la a examinar as questões doutrinárias mais importantes.
Recuperando-se da inflamação em seus pulmões, o Santo Padre entregou o discurso preparado, mas não o leu. De modo espontâneo, no entanto, o Pontífice compartilhou alguns pensamentos para reiterar a importância da reflexão teológica e agradecer à Comissão por seu trabalho. O Papa fez questão de expressar uma observação: “perdoem minha sinceridade!” – devido à escassa presença de mulheres no grupo: “Uma, duas, três, quatro mulheres: coitadas! Elas estão sozinhas! Ah, desculpe-me: cinco! Mas, quanto a isso, devemos seguir em frente”.
As mulheres “têm uma capacidade de reflexão teológica diferente da que nós homens temos”, enfatizou, lembrando seus estudos dos livros de “uma boa mulher alemã”, a filósofa e escritora Hanna-Barbara Gerl, sobre Romano Guardini. “Ela havia estudado essa história e a teologia dessa mulher não é tão profunda, mas é bela, é criativa”.
Dimensão feminina da Igreja
A “dimensão feminina da Igreja”, acrescentou o Pontífice, ainda falando de improviso, “também estará no centro dos próximos trabalhos do C9”, o grupo de cardeais que auxilia o Papa no governo da Igreja. O tópico é, portanto, central porque “a Igreja é mulher”.
“Se não entendermos o que é uma mulher, o que é a teologia de uma mulher, nunca entenderemos o que é a Igreja. Um dos grandes pecados que cometemos foi “masculinizar” a Igreja.”
“Isso não é resolvido pela via ministerial; isso é outra coisa”, enfatizou Francisco, referindo-se às discussões sobre o sacerdócio feminino. “É solucionado pela via mística, pela via real”, afirmou.
Princípio petrino e princípio mariano
Em seguida, o Santo Padre reforçou o “princípio petrino e o princípio mariano” da matriz balthasariana que lhe deu “tanta luz”. “Pode-se discutir isso, mas os dois princípios estão lá. É mais importante o mariano do que o petrino, porque há a Igreja como noiva, a Igreja como mulher, sem se tornar masculina”, observou.
“E vocês podem se perguntar: para que serve esse discurso? Não apenas para dizer que devemos ter mais mulheres aqui – este é um ponto – mas para ajudá-los a refletir. A Igreja é mulher, a Igreja é noiva. E essa é uma tarefa que peço a vocês, por favor. Desmasculinizem a Igreja.”
“Obrigado pelo que vocês fazem”, reiterou o Papa, ao final, recitando com os presentes um Pai Nosso “cada um em sua língua” e pedindo, como de costume, orações: “Rezem por mim. Rezem a favor, não contra, porque este trabalho não é fácil.”
Conversão missionária da Igreja
No discurso entregue aos membros da comissão, o Santo Padre refletiu sobre “o chamado a dedicar toda a energia do coração e da mente a uma conversão missionária da Igreja”. Francisco, destaca a mensagem contida em sua Carta dirigida ao novo Prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé: “Precisamos de um modo de pensar que saiba apresentar de forma convincente um Deus que ama, que perdoa, que salva, que liberta, que promove as pessoas e as convoca para o serviço fraterno” (1º de julho de 2023).
O pedido do Pontífice aos membros da comissão é para que se encarreguem, de forma qualificada, por meio da proposta de uma teologia evangelizadora, na promoção do diálogo com o mundo da cultura.
“E é essencial que vocês, teólogos, façam isso em sintonia com o Povo de Deus, eu diria “de baixo para cima”, ou seja, com um olhar privilegiado para os pobres e os simples, e ao mesmo tempo se colocando “de joelhos”, porque a teologia nasce da adoração a Deus.”
1700 anos do Concílio de Nicéia
Ao encorajar a continuação dos estudos sobre o Concílio de Nicéia, que no Jubileu de 2025 completará 1700 anos, o Papa compartilhou três motivos que tornam a redescoberta de Nicéia promissora. O primeiro é o motivo espiritual: “em Nicéia, a fé foi professada em Jesus, o único Filho do Pai: Aquele que se tornou homem por nós e para nossa salvação é Deus de Deus, luz da luz. Cabe aos teólogos espalhar novos e surpreendentes lampejos da luz eterna de Cristo na casa da Igreja e na escuridão do mundo,” ressaltou.