Missionários

Papa ao clero: sejam pastores armados apenas de oração e caridade

O primeiro compromisso do Papa Francisco na manhã deste sábado, 4, em Juba, no Sudão do Sul, foi o encontro com os bispos, os sacerdotes, os diáconos, seminaristas, e consagrados

Da redação, com Vatican News

Papa no encontro com o clero em Juba. Foto: reprodução Vatican Media

O Papa Francisco segue em viagem ao Sudão do Sul. Neste sábado, 4, encontrou-se com bispos, sacerdotes, diáconos, consagrados e consagradas e seminaristas na Catedral de Santa Teresa. No discurso aos presentes, abordou novamente a figura do rio Nilo, como o fez no encontro de ontem com as autoridades, mas desta vez numa perspectiva bíblica. 

“Por um lado, no leito deste curso de água, vertem-se as lágrimas dum povo imerso no sofrimento e na dor, torturado pela violência; mas, por outro lado, as águas do grande rio fazem-nos lembrar a história de Moisés e, por isso, são sinal de libertação e salvação.”

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O Pontífice lembrou que Moisés foi salvo daquelas águas e, conduzindo o seu povo pelo meio do Mar Vermelho, tornou-se instrumento de libertação, ícone do socorro de Deus que vê a aflição dos seus filhos, ouve o seu clamor e desce para os libertar. “Tendo diante dos olhos a história de Moisés, que guiou o Povo de Deus através do deserto, perguntemo-nos que significa ser ministros de Deus numa história permeada pela guerra, o ódio, a violência e a pobreza”

Docilidade

Tentando responder, o Papa disse que iria se deter em duas atitudes de Moisés: a docilidade e a intercessão. A primeira coisa que impressiona na história de Moisés, disse, é a sua docilidade à iniciativa de Deus. Mas nem sempre foi assim. Enquanto pensava ser o centro, contando apenas com suas forças, Moisés ficou prisioneiro dos piores métodos humanos, como aquele de responder à violência com a violência. 

“Algo semelhante pode acontecer às vezes também na nossa vida de sacerdotes, diáconos, religiosos e seminaristas: no fundo, pensamos que somos nós o centro, que podemos confiar-nos, se não na teoria, pelo menos na prática, quase exclusivamente à nossa perícia”. Aqui Francisco esclareceu: “A nossa obra vem de Deus: Ele é o Senhor e nós somos chamados a ser instrumentos dóceis nas suas mãos.”

Segundo o Papa, Moisés aprende isto quando, um dia, Deus foi ao seu encontro, aparecendo-lhe ‘numa chama de fogo, no meio da sarça’. Moisés deixou-se atrair, colocou-se numa atitude de docilidade deixando-se orientar pelo fascínio daquele fogo.

Para o Pontífice, este deixar-se plasmar docilmente é que faz viver de maneira renovada o ministério. O Papa, então, recomendou que se faça a exemplo de Moisés na presença de Deus: “descalcemos as sandálias, com humilde respeito, despojemo-nos da nossa presunção humana, deixemo-nos atrair pelo Senhor e cultivemos o encontro com Ele na oração”. 

Intercessão

Purificado e iluminado pelo fogo divino, Moisés torna-se instrumento de salvação para o seu povo que sofre, explicou Francisco. O Pontífice ressaltou que Deus não fica indiferente ao clamor do seu povo, mas desce para o libertar. “Deus vem para o meio de nós chegando ao ponto de assumir, em Jesus, a nossa carne, experimentar a nossa morte e descida à mansão dos mortos. Sempre desce para nos levantar”.

“Com efeito”, continuou Francisco, “interceder não significa simplesmente ‘rezar por alguém’, como muitas vezes pensamos. Etimologicamente significa ‘dar um passo para o meio’, dar um passo de modo a colocar-se no meio duma situação”. Para Francisco interceder é descer para se colocar no meio do povo, ‘fazer-se ponte’ que o liga a Deus.

Em seguida, o Papa dirigiu-se aos presentes exortando: “Os pastores são chamados a desenvolver precisamente esta arte de ‘caminhar no meio’: no meio das tribulações e das lágrimas, no meio da fome de Deus e da sede de amor aos irmãos”.

Francisco destacou que nunca se deve exercer o ministério visando o prestígio religioso e social, mas caminhando juntos no meio do povo. “Quero repetir aquela importante palavra”, acrescenta: “juntos. Bispos e padres, padres e diáconos, pastores e seminaristas, ministros ordenados e religiosos, procuremos entre nós vencer a tentação do individualismo, dos interesses parciais”. 

Francisco fez, nesse sentido, um apelo aos religiosos: “Irmãos e irmãs, para interceder a favor do nosso povo, também nós somos chamados a erguer a voz contra a injustiça e a prevaricação, que esmagam as pessoas e valem-se da violência para, à sombra dos conflitos, melhor gerir os próprios negócios”.

Mãos levantadas para o céu

Por fim, o Papa citou a imagem das “as mãos levantadas para o céu”. “Quando o povo cai no pecado e constrói um bezerro de ouro, Moisés volta a subir ao Monte, pensemos nesta grande paciência! e pronuncia uma oração que é uma verdadeira luta com Deus para que não abandone Israel”.

O Papa chamou a atenção para o fato de que Moisés coloca-se da parte do povo até ao fim, levanta a mão em seu favor. “Não pensa em salvar-se sozinho, não vende o povo em troca dos seus interesses!”. 

O Pontífice concluiu seu discurso exortando esses membros da Igreja local a se deixarem surpreender pela graça de Deus. “Faço votos, queridos irmãos e irmãs, de que sejais sempre generosos Pastores e testemunhas, armados apenas de oração e caridade, que docilmente se deixam surpreender pela graça de Deus e se tornam instrumentos de salvação para os outros; profetas de proximidade que acompanham o povo, intercessores com os braços erguidos”.

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