Urbi et Orbi

Papa: a esperança é mais forte que as dificuldades, pois Jesus nasceu

Diante das tantas crises, tragédias esquecidas e sofrimentos ao redor do mundo, Francisco pediu que aprendamos com Cristo a escutar e dialogar para alcançar a paz

Da redação, com Vatican News

Papa durante benção Urbi et Orbi /Foto: Reprodução Vatican News

“O Verbo fez-Se carne para dialogar conosco. Deus não quer construir um monólogo, mas um diálogo. Pois o próprio Deus, Pai e Filho e Espírito Santo, é diálogo, comunhão eterna e infinita de amor e de vida”. É o que afirmou o Papa Francisco em sua Mensagem de Natal neste sábado, 25, ao conceder a benção Urbi et Orbi (à cidade de Roma e ao mundo).

Diálogo é a palavra a partir da qual o Pontífice desenvolveu sua reflexão pronunciada da sacada central da Basílica de São Pedro. Mesmo com o dia chuvoso, milhares de peregrinos e turistas de várias partes do mundo estavam presencialmente na Praça São Pedro para acompanhar este compromisso do Papa.

Depois da Mensagem de Natal o Papa rezou o Angelus, seguido pelo anúncio da concessão da Indulgência Plenária pelo cardeal protodiácono Renato Raffaele Martino, que então passou novamente a palavra ao Santo Padre para a Bênção, extensiva também a todos que acompanhavam pelos meios de comunicação.

Diálogo, única solução para conflitos

“Quando veio ao mundo, na pessoa do Verbo encarnado, Deus mostrou-nos o caminho do encontro e do diálogo” e “como seria o mundo sem o diálogo paciente de tantas pessoas generosas, que mantiveram unidas famílias e comunidades?”, perguntou o Papa.

O Santo Padre observou que a pandemia deixou isso muito claro ao afetar as relações sociais, aumentar “a tendência para fechar-se, arranjar-se sozinho, renunciar a sair, a encontrar-se, a fazer as coisas juntos”. E a nível internacional, a complexidade da crise “induziu a optar por atalhos”, mas só o diálogo é capaz de conduzir “à solução dos conflitos e a benefícios partilhados e duradouros”.

As tragédias esquecidas

Ao lançar seu olhar para o panorama internacional, o Pontífice observou que contemporaneamente ao “anúncio do nascimento do Salvador, fonte da verdadeira paz, é possível ver “ainda tantos conflitos, crises e contradições. Parecem não ter fim, e já quase não os notamos”.

“De tal maneira nos habituamos, que há tragédias imensas das quais já nem se fala; corremos o risco de não ouvir o grito de dor e desespero de tantos irmãos e irmãs nossos.”

Oriente Médio e Afeganistão

Dentre as tragédias esquecidas por todos, estão o sofrimento das populações da Síria, Iraque, Iêmen, em particular das crianças. Mas também o conflito entre israelenses e palestinos, “com consequências sociais e políticas cada vez mais graves”.

Belém, “lugar onde Jesus viu a luz”, vive tempos difíceis “pelas dificuldades econômicas devidas à pandemia que impede os peregrinos de chegarem à Terra Santa, com consequências negativas na vida da população”.

Crise sem precedentes que atinge também o Líbano. Mas no coração da noite, surgiu um sinal de esperança. E neste dia, Francisco pediu ao Menino Jesus, “a força de nos abrirmos ao diálogo”, implorando a Ele “que suscite, no coração de todos, anseios de reconciliação e fraternidade.

“Menino Jesus, dai paz e concórdia ao Médio Oriente e ao mundo inteiro. Amparai a quantos se encontram empenhados em prestar assistência humanitária às populações forçadas a fugir da sua pátria; confortai o povo afegão que, há mais de quarenta anos, está submetido a dura prova por conflitos que impeliram muitos a deixar o país.”

Myanmar e Ucrânia

Ao Rei dos Povos, o Papa pediu que ajude as autoridades políticas a  pacificar “as sociedades abaladas por tensões e contrastes”, em particular Myanmar, “onde intolerância e violência se abatem, não raro, também sobre a comunidade cristã e os locais de culto, e turbam o rosto pacífico daquela população.”

Também rogou por “luz e amparo” para quem acredita e trabalha em prol do encontro e do diálogo na Ucrânia. Não permitir que “metástases de um conflito gangrenado” se espalhem pelo país.

África

O Santo Padre voltou então seu olhar para os países africanos atribulados por conflitos, divisões, desemprego, desigualdades econômicas, pedindo ao Príncipe da Paz pela Etiópia para que descubra o caminho da paz e da reconciliação.

Que ouça o clamor “das populações da região do Sahel, que sofrem a violência do terrorismo internacional”, bem como pelas vítimas dos conflitos internos no Sudão e Sudão do Sul, rezou Francisco.

América

Para as populações do continente americano, o Pontífice pediu que “prevaleçam os valores da solidariedade, reconciliação e convivência pacífica, através do diálogo, do respeito mútuo e do reconhecimento dos direitos e valores culturais de todos os seres humanos.”

Vítimas de violência, abusos, abandono

O Papa também rogou ao Filho de Deus conforto para as mulheres vítimas de violência, esperança para as crianças e adolescentes vítimas de bullying e abusos, consolação e carinho aos idosos, sobretudo os mais abandonados e serenidade e unidade às famílias, “lugar primário da educação e base do tecido social.”

Na saúde, generosidade dos corações

Para os doentes o Santo Padre pediu saúde, bem como inspiração às pessoas de boa vontade para que encontrem “as soluções mais adequadas para superar a crise sanitária e as suas consequências”:

“Tornai generosos os corações, para fazerem chegar os tratamentos necessários, especialmente as vacinas, às populações mais necessitadas. Recompensai todos aqueles que mostram solicitude e dedicação no cuidado dos familiares, dos doentes e dos mais fragilizados.”

Não renegar a humanidade que nos une

Mas não só: o olhar de Francisco também abarca civis e militares prisioneiros de guerras, migrantes, deslocados e refugiados, cujos olhos “pedem-nos para não voltarmos o rosto para o outro lado, para não renegarmos a humanidade que nos une, para assumirmos as suas histórias e não nos esquecermos dos seus dramas.”

O ambiente que deixaremos para gerações futuras

E para que as gerações futuras possam viver num ambiente respeitoso da vida, o Papa exortou as autoridades políticas a encontrarem acordos eficazes e assim sermos mais solícitos pela nossa Casa Comum, “também ela enferma pelo descuido com que frequentemente a tratamos”.

Caminhar pelas sendas da paz

“Queridos irmãos e irmãs, muitas são as dificuldades do nosso tempo, mas a esperança é mais forte, porque «um menino nasceu para nós». Ele é a Palavra de Deus que Se fez “in-fante”, capaz apenas de chorar e necessitado de tudo. Quis aprender a falar, como qualquer criança, para que nós aprendêssemos a escutar Deus, nosso Pai, a escutar-nos uns aos outros e a dialogar como irmãos e irmãs. Ó Cristo, nascido para nós, ensinai-nos a caminhar convosco pelas sendas da paz. Feliz Natal para todos!”

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