Paz e reconciliação

Papa a autoridades do Sudão do Sul: deixe-se para trás o tempo da guerra

Em seu primeiro dia no Sudão do Sul, Papa se encontrou com autoridades do país, apresentando um discurso enfático sobre a necessidade de paz

Jéssica Marçal
Da Redação

Papa Francisco discursa às autoridades sul-sudanesas / Foto: Vatican Media via Reuters

O primeiro discurso do Papa Francisco no Sudão do Sul foi no encontro com as autoridades, com a sociedade civil e com o corpo diplomático. O encontro aconteceu nesta sexta-feira, 3, no jardim do Palácio Presidencial em Juba.

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Dando as boas vindas ao Papa, o presidente do país, Salva Kiir Mayardit, agradeceu pelo Pontífice cumprir a promessa de visitar o país. Ele aproveitou a presença do Papa para anunciar, oficialmente, a disponibilidade de retomar as negociações de paz de Roma com os grupos de oposição do Sudão do Sul não signatários do acordo de paz (Nsssog). As negociações mediadas pela Comunidade de Sant’Egidio tinha sido suspensas, nos últimos meses, pelo governo local citando a “falta de empenho” dos grupos Nsssog.

O presidente expressou a esperança de que os “grupos de resistência” retribuam este gesto e se comprometam sinceramente para alcançar a paz no país.

Discurso do Papa

“Venho como peregrino de reconciliação, com o sonho de vos acompanhar no vosso caminho de paz: caminho tortuoso, mas inadiável”, disse o Papa dando a tônica de seu discurso. Ele lembrou que realiza esta visita acompanhado do arcebispo de Cantuária e do Moderador da Assembleia Geral da Igreja da Escócia, em uma peregrinação ecumênica pela paz.

O discurso de Francisco se baseou em uma metáfora com a imagem do rio Nilo, o grande rio que corta vários países da África, entre eles o Sudão do Sul. Segundo Francisco, o país recente, mas com história antiga, precisa de fontes frescas e vitais. “Assim como o rio deixa as nascentes para começar o seu curso, assim também o curso da história deixará para trás os inimigos da paz e nobilitará quem trabalha pela paz.”

Para que o Sudão do Sul volte a ser um jardim florido, Francisco pediu um enfático “basta”, por parte das autoridades, à violência, sem “se” nem “mas”. “Basta de sangue derramado, basta de conflitos, basta de violências e recíprocas acusações sobre quem as comete, basta de deixar à mingua de paz este povo dela sedento. Basta de destruição; é a hora de construir! Deixe-se para trás o tempo da guerra e surja um tempo de paz!

República: o serviço ao bem comum

Voltando à imagem do rio, o Pontífice mencionou que, nas fontes do país, há a palavra “República” que designa o rumo tomado pelo povo sul-sudanês em 2011. Segundo ele, ser uma república significa reconhecer-se como realidade pública, colocando-se ao serviço do bem comum. “Esta é a finalidade do poder: servir a comunidade.”, pontuou.

O Santo Padre enfatizou ainda que o desenvolvimento democrático é fundamental para a vida de uma República. E este defende uma benéfica distinção dos poderes, de forma que quem administra a justiça possa exercê-la sem condicionamentos. Citando João Paulo II, lembrou que sem justiça não há paz, e que sem liberdade não há justiça.

Retomar o diálogo sem fingimento

Retornando, uma vez mais, ao rio Nilo, o Papa observou que o rio entra na planície sul-sudanesa, tornando-se navegável. De modo análogo, o Papa deseja que o caminho de paz da República possa ser feito sem altos e baixos, sendo a hora de passar das palavras aos atos.

Francisco pediu empenho em prol da transformação urgente, pois o processo de paz e reconciliação exige um novo salto. “Deem-se as mãos para levar a bom termo o Acordo de paz, bem como o seu Roteiro.”

O desejo do Papa é de que essa peregrinação ecumênica possa ser ocasião para o Sudão do Sul começar a navegar em águas tranquilas, “retomando o diálogo sem fingimentos nem oportunismos.” “Seja para todos uma ocasião para relançar a esperança: possa cada cidadão compreender que já não é tempo de se deixar levar pelas águas insalubres do ódio, do tribalismo, do regionalismo e das diferenças étnicas, mas tempo de navegar juntos rumo ao futuro!”

O drama das inundações

Outro ponto do discurso do Papa foram as calamidades naturais, especificamente as inundações que já fizeram numerosas vítimas no país. Segundo Francisco, um fenômeno que fala de uma criação ferida e arruinada.

“Precisamos de cuidar dela, com um olhar clarividente a pensar nas gerações futuras. Penso, em particular, na necessidade de combater a desflorestação causada pela ganância do lucro.”

Estima e preocupação do Papa

Já no fim do discurso Francisco não deixou de mencionar a problemática das armas. O Papa reiterou que o Sudão do Sul tem muitas necessidades, mas não precisa de “mais instrumentos de morte”. Da mesma forma, pontuou a necessidade de políticas de saúde adequadas, de infraestrutura e de educação, pois os filhos daquela terra, como todos no mundo, “têm o direito de crescer tendo na mão cadernos e brinquedos, não ferramentas de trabalho e armas.”

Francisco disse que algumas de suas expressões no discurso podem ter sido ousadas e diretas, mas refletem sua estima e preocupação com as realidades do país. “O Senhor do Céu, que ama esta terra, conceda-lhe um tempo novo de paz e prosperidade. Deus abençoe a República do Sudão do Sul!”.

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