Francisco participou de sessão do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola; no discurso, destaque para a questão rural no combate à fome
Da Redação, com Boletim da Santa Sé
Na manhã desta quinta-feira, 14, o Papa Francisco participou da abertura da 42ª Sessão do Conselho Diretivo anual do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA), organismo da ONU presente em 181 países do mundo. O encontro foi realizado na sede do Fundo das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), em Roma.
“Minha presença deseja trazer a esta Sede os desejos e necessidades da multidão dos nossos irmãos que sofrem no mundo. Gostaria que pudéssemos olhar para seus rostos sem ficarmos vermelhos de vergonha, pois finalmente seu clamor foi ouvido e suas preocupações foram atendidas”, disse o Papa logo na abertura de seu discurso, recordando as várias situações precárias de tantas pessoas que vivem com recursos naturais esgotados, rios contaminados, sem água suficiente para si e para o cultivo.
Francisco destacou que a sociedade é capaz de vencer a batalha contra a fome e a miséria se levá-las a sério, caminhando com decisão nessa luta. Mas para isso, é necessária a ajuda da comunidade internacional, da sociedade civil e de todos os que possuem recursos.
A Santa Sé e o combate à fome
O empenho da Santa Sé nesse processo foi outro ponto levantado pelo Papa. Ele recordou que, já em 1964, o Papa Paulo VI, hoje santo da Igreja, pediu a criação de um fundo mundial para combater a miséria e dar impulso decisivo à promoção integral das áreas mais empobrecidas da humanidade. Desde então, seus sucessores não deixaram de impulsionar iniciativas semelhantes, sendo o FIDA um desses exemplos mais notórios.
“A comunidade internacional, que elaborou a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, precisa dar passos para o alcance real dos 17 objetivos que a compõem. Nesse sentido, a contribuição do FIDA é essencial para que se possa cumprir os dois primeiros objetivos da Agenda, aqueles relacionados com a erradicação da pobreza, a luta contra a fome e a promoção da soberania alimentar”.
Nada disso será possível, segundo o Papa, sem alcançar o desenvolvimento rural, algo de que se fala há tempos, mas que não termina de se concretizar. Ele citou, nesse ponto, o paradoxo de que boa parte das mais de 820 milhões das pessoas que sofrem com a fome e má nutrição no mundo viva justamente em áreas rurais. Francisco destacou que o desenvolvimento local tem valor em si mesmo; é preciso que cada pessoa e comunidade possa desenvolver as próprias capacidades plenamente, vivendo uma vida digna.
“Exorto quantos têm responsabilidade nas nações e nos organismos intergovernamentais, assim como quem pode contribuir no setor público e privado, a desenvolver os canais necessários para que possam ser implementadas as medidas adequadas às regiões rurais da terra, para que possam ser artífices responsáveis de sua produção e progresso”.
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O protagonismo dos atores locais
Segundo o Papa, é preciso somar esforços, estreitar vínculos, dar protagonismo direto aos próprios afetados pela indigência, sem considerá-los meros receptores de ajuda que pode acabar gerando dependências. Ele acrescentou a necessidade de apostar na inovação, na capacidade de empreendimento, no protagonismo dos atores locais a fim de alcançar a transformação rural com vistas à erradicação da desnutrição e ao desenvolvimento sustentável do meio rural.
“Nesse contexto, é preciso fomentar uma ‘ciência com consciência’ e colocar a tecnologia realmente a serviço dos pobres. Por outro lado, as novas tecnologias não devem se contrapor às culturas locais e aos conhecimentos tradicionais, mas sim complementá-los e atuar em sintonia com eles”.
O Papa concluiu seu discurso pedindo que os trabalhos e decisões do FIDA sejam em benefício dos descartados, das vítimas da indiferença e do egoísmo – recordando aqui a “cultura do descarte”, tema tão presente em seu pontificado.
Saudação a indígenas
Durante a visita, depois de discursar para a Assembléia de Governadores durante a sessão de abertura, o Papa saudou um grupo de representantes dos povos indígenas e dirigiu um discurso de saudação ao pessoal do FIDA.