Francisco presidiu na manhã deste segundo domingo da Páscoa, 8, a Santa Missa da Divina Misericórdia
Da redação, com Boletim da Santa Sé
“Para experimentar o amor, é preciso passar por ele: deixar-se perdoar”. A frase é parte da homilia da Santa Missa da Divina Misericórdia, presidida pelo Papa Francisco neste segundo domingo da Páscoa, 8. O evangelho do dia (Jo 20, 19-31) – que retrata a incredulidade e desejo de Tomé de ver e tocar as marcas da crucificação de Jesus – é, de acordo com o Santo Padre, um convite aos cristãos, para assim como o apóstolo, terem a experiência de tocar com as mãos a misericórdia de Deus.
Agradecer a Tomé, esta é a postura que os fiéis devem ter diante da liturgia deste domingo, segundo o Pontífice. Para Francisco, o discípulo ensina sobre a percepção dos sinais de Deus, do toque das chagas de Cristo e da compreensão do mistério do amor e do perdão divino. “Entrar nas suas chagas significa contemplar o amor sem medidas que brota do seu coração. Esse é o caminho. Significa entender que o seu coração bate por mim, por ti, por cada um de nós. Queridos irmãos e irmãs, podemos nos considerar e chamar-nos cristãos, e falar sobre muitos belos valores da fé, mas, como os discípulos, precisamos ver Jesus tocando o seu amor”, afirmou o Papa.
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“Meu Senhor e meu Deus!”, a exclamação de Tomé após ver e tocar as chagas de Jesus chama atenção, de acordo com o Santo Padre, para o uso do pronome “meu”. “Trata-se de um pronome possessivo e, se refletimos sobre isso, podia parecer fora do lugar referi-lo a Deus: como Deus pode ser meu? Como posso fazer que o Todo-poderoso seja meu? Na realidade, dizendo meu, não profanamos a Deus, mas honramos a sua misericórdia, pois foi Ele que quis ‘fazer-se nosso’”, refletiu o Pontífice, que prosseguiu afirmando que Deus não se ofende em criar laços e pertencer à humanidade, pois o amor requer confiança, assim como a misericórdia.
Para saborear o amor e a misericórdia de Deus, Francisco reafirmou aos cristãos a necessidade de deixarem-se perdoar. Nesta realidade do perdão, o Papa exaltou o sacramento da confissão e rogou a Deus para que dê aos fiéis a graça de vê-la não por meio da vergonha, mas pela oportunidade do encontro com Cristo. “Quando nos sentimos envergonhados, devemos ser agradecidos: quer dizer que não aceitamos o mal, e isso é bom. A vergonha é um convite secreto da alma que precisa do Senhor para vencer o mal. O drama está quando não se sente vergonha por coisa alguma. Não devemos ter medo de sentir vergonha! E assim passemos da vergonha ao perdão!”, pediu Francisco.
Contudo, o Santo Padre afirmou haver também outra porta fechada diante do perdão: a resignação. “Os discípulos a experimentaram quando, na Páscoa, constatavam que tudo tivesse voltado a ser como antes: ainda estavam lá, em Jerusalém, desalentados; o ‘capítulo Jesus’ parecia terminado e, depois de tanto tempo com Ele, nada tinha mudado: ‘-Resignemo-nos’”, contou o Pontífice, e observou para a presença deste sentimento também entre os cristãos que não conseguem vislumbrar mudanças, mas somente seus pecados.
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“O Senhor nos interpela: ‘Não acreditas que a misericórdia é maior do que a tua miséria? Estás reincidente no pecado? Sê reincidente em clamar por misericórdia, e veremos quem leva a melhor!’. E depois – quem conhece o sacramento do perdão o sabe – não é verdade que tudo permaneça como antes. Em cada perdão recebemos novo alento, somos encorajados, pois nos sentimos cada vez mais amados, mais abraçados pelo Pai. E quando, sentindo-nos amados, caímos mais uma vez, sentimos mais dor do que antes. É uma dor benéfica, que lentamente nos separa do pecado. Descobrimos então que a força da vida é receber o perdão de Deus, e seguir em frente, de perdão em perdão”, afirmou o Papa.
Após citar a vergonha e a resignação, Francisco direcionou o olhar para o pecado. O Santo Padre retomou a dificuldade do perdão pessoal, enfrentado por muitos cristãos e questionou: “Se eu, com toda a honestidade, não quero me perdoar, por que o faria Deus?”. O Pontífice prosseguiu anunciando que tal atitude é uma forma de fechar a porta para um encontro com Deus e frisou que Cristo nunca decide separar-se da humanidade.
“Quando nos confessamos, tem lugar o inaudito: descobrimos que precisamente aquele pecado, que nos mantinha distantes do Senhor, converte-se no lugar do encontro com Ele. Ali o Deus ferido de amor vem ao encontro das nossas feridas. E torna as nossas chagas miseráveis semelhantes às suas chagas gloriosas”, suscitou. Por fim, o Papa convidou os cristãos a encontrarem no perdão de Deus, a alegria, e, na misericórdia, a esperança.