DIA MUNDIAL DOS POBRES

Papa: “os pobres têm necessidade do nosso coração aberto ao amor”

Santa Sé divulga mensagem para o Dia Mundial dos Pobres, que será celebrado em 19 de novembro, com exortação de Francisco a gestos concretos

Da Redação, com Boletim da Santa Sé

Dia Mundial dos Pobres em 2023 será no dia 15 de novembro / Foto: Imagem de Ben Kerckx por Pixabay

A Sala de Imprensa da Santa Sé divulgou, nesta terça-feira, 13, a mensagem para o VII Dia Mundial dos Pobres. Entre os assuntos abordados, o Papa Francisco pede gestos concretos ao ajudar os pobres, com real atenção às necessidades de cada irmão que sofre.

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.: Texto completo da mensagem do Papa

A data é celebrada no domingo anterior à Solenidade de Jesus Cristo, Rei do Universo. Em 2023, o Dia Mundial dos Pobres será comemorado em 19 de novembro. A mensagem do Papa para esse evento é divulgada sempre em 13 de junho, na memória de Santo Antônio, padroeiro dos pobres.

No início da mensagem, o Papa Francisco ressalta que a data tem contribuído para o redescobrimento do conteúdo central do Evangelho. Contudo, também alerta que, apesar do empenho diário no acolhimento aos pobres, ainda não é suficiente. “A pobreza permeia as nossas cidades como um rio que engrossa sempre mais até extravasar; e parece submergir-nos, pois o grito dos irmãos e irmãs que pedem ajuda, apoio e solidariedade ergue-se cada vez mais forte”, escreve.

Gestos concretos

Muitas reflexões apresentadas vêm do livro de Tobias, cujo pai, Tobite, deixou um “testamento espiritual”. Entre os trechos citados, está aquele em que Tobite diz ao filho: “lembra-te sempre, filho, do Senhor, nosso Deus, em todos os teus dias, evita o pecado e observa os seus mandamentos. Pratica a justiça em todos os dias da tua vida e não andes pelos caminhos da injustiça” (cf. Tb 4,5).

O Santo Padre menciona esse versículo para reforçar que são necessários gestos concretos, que consistem na prática das boas obras e na observância da justiça. E Tobite ainda vai além, especificando: “dá esmolas, conforme as tuas posses. Nunca afastes de algum pobre o teu olhar, e nunca se afastará de ti o olhar de Deus” (cf. Tb 4,7).

Dando testemunho de caridade, Tobite foi perseguido pelo rei dos assírios, que tomou seus bens e o deixou na pobreza completa. Nem isso, nem a cegueira que afligiu Tobite logo após sepultar um morto (cf. Tb 2, 1-10), desanimaram o velho sábio a seguir cuidando dos pobres. Assim, Francisco questiona: “De onde tira Tobite a coragem e a força interior que lhe permitem servir a Deus no meio dum povo pagão e amar o próximo até o ponto de pôr em risco a própria vida?”.

Ele mesmo responde, na sequência, quando recorda que as Sagradas Escrituras indicam que Deus não poupa as provações a quem pratica o bem. Mas isso não acontece para humilhar aqueles que obedecem o Senhor – pelo contrário, tem como objetivo tornar firme a fé n’Ele.

Ir ao encontro de todo pobre

A mensagem também ressalta que, quando Tobite recomenda a Tobias que não desvie o olhar de algum pobre, refere-se a todo pobre. “Não importa a cor da pele, a condição social, a proveniência… Se sou pobre, posso reconhecer de verdade quem é o irmão que precisa de mim. Somos chamados a ir ao encontro de todo pobre e de todo tipo de pobreza, sacudindo de nós mesmos a indiferença e a naturalidade com que defendemos um bem-estar ilusório”, escreve o Pontífice.

Continuando, ele denuncia que o atual momento, no qual o apelo ao bem-estar é cada vez mais alto, não é favorável aos pobres, cujas vozes são silenciadas. Francisco afirma que o mundo virtual se sobrepõe ao real, “transformando” os pobres em meras imagens, e que a pressa diária impede de parar e socorrer quem necessita de ajuda. Neste contexto, ele louva a Deus pelo trabalho de milhares de pessoas que atuam em prol dos pobres, atendendo as necessidades tanto materiais quanto espirituais.

Problemas que geram pobreza

O Santo Padre também retoma as palavras de seu antecessor, João XXIII. O autor da Carta Encíclica Pacem in Terris, que completou 60 anos, já falava sobre os direitos de toda pessoa. E Francisco reconhece: “quanto trabalho temos ainda pela frente para tornar realidade estas palavras, inclusive através dum sério e eficaz empenho político e legislativo”, ao passo que solicita o envolvimento de quem realmente vive a pobreza na vivência deste processo.

Na sequência, o Papa cita diversos problemas contemporâneos, que também geram pobreza: as especulações financeiras que levam a um aumento dramático dos preços e do custo de vida, a desordem ética no mundo do trabalho, a cultura que leva jovens a se sentirem “falidos” e até mesmo ao suicídio, e os cenários de guerra são denunciados.

“É fácil cair na retórica quando se fala dos pobres. Tentação insidiosa é também parar nas estatísticas e nos números. Os pobres são pessoas, têm rosto, uma história, coração e alma. São irmãos e irmãs com os seus valores e defeitos, como todos, e é importante estabelecer uma relação pessoal com cada um deles”, ressalta a mensagem.

Humanidade e amor

Francisco pede gestos concretos; mais que esmolas apressadas, o restabelecimento das justas relações interpessoais que foram afetadas pela pobreza. Ele exorta ao “realismo evangélico”, voltado para as necessidades concretas do outro. “Aquilo de que seguramente têm urgente necessidade é da nossa humanidade, do nosso coração aberto ao amor”, indica.

Para finalizar, o Papa recorda o aniversário de 150 anos do nascimento de Santa Teresinha do Menino Jesus, e cita um trecho dos escritos da jovem em História de uma alma: “Compreendo agora que a caridade perfeita consiste em suportar os defeitos dos outros, em não se escandalizar com as suas fraquezas, em edificar-se com os mais pequenos atos de virtude que se lhes vir praticar; mas compreendi, sobretudo, que a caridade não deve ficar encerrada no fundo do coração: ‘Ninguém, disse Jesus, acende uma candeia para a colocar debaixo do alqueire, mas coloca-a sobre o candelabro para alumiar todos os que estão em casa’. Creio que essa luz representa a caridade, que deve iluminar e alegrar, não só os que são mais queridos, mas todos aqueles que estão na casa, sem excetuar ninguém”.

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