Em encontro sobre antropologia das vocações humanas, Francisco frisa importância da diferença entre homens e mulheres e suas missões no mundo
Da Redação, com Vatican News
O Papa Francisco recebeu em audiência, nesta sexta-feira, 1°, os participantes do encontro internacional “Homem-Mulher, imagem de Deus. Por uma antropologia das vocações”. O evento é promovido pelo Centro de Pesquisa e Antropologia das Vocações (CRAV), coordenado pelo prefeito emérito do Dicastério para os Bispos, Cardeal Marc Ouellet.
O encontro reúne vários estudiosos, filósofos, teólogos e pedagogos para refletir sobre a antropologia cristã, o pluralismo, o diálogo entre culturas e o futuro do cristianismo. As atividades se estenderão até este sábado, 2.
Por ainda estar resfriado, o Papa Francisco pediu ao colaborador da secretaria de Estado, Dom Filippo Ciampanelli lesse o discurso que havia preparado. Contudo, antes deste momento, o Pontífice dirigiu breves palavras aos participantes do evento, ressaltando a importância deste encontro.
“Hoje o perigo mais feio é a ideologia de gênero, que anula as diferenças. Pedi para fazer estudos sobre essa ideologia ruim do nosso tempo, que apaga as diferenças e torna tudo igual. Cancelar a diferença é cancelar a humanidade. Homem e mulher, porém, vivem uma ‘tensão’ fecunda”, declarou o Santo Padre.
Ele recordou um livro do início do século XX, escrito pelo filho do arcebispo de Cantuária, explicando que “o romance fala do futurismo e é profético, pois mostra essa tendência de cancelar todas as diferenças”.
A vida é uma vocação
Na sequência, Dom Ciampanelli fez a leitura do discurso do Papa, que destaca o objetivo da conferência de, primeiramente, considerar e valorizar a dimensão antropológica de cada vocação. “A vida do ser humano é uma vocação”, proferiu, enfatizando que “a dimensão antropológica, subjacente a cada chamado no âmbito da comunidade, tem a ver com uma característica essencial do ser humano como tal: isto é, que o próprio homem é vocação”.
Francisco ressalta, no texto, que cada indivíduo “descobre e se expressa como chamado, como uma pessoa que se realiza na escuta e na resposta, compartilhando seu ser e seus dons com os outros para o bem comum”. Esta descoberta, observa, tira o homem do isolamento de um “eu autorreferencial”, levando-o a olhar para si próprio como uma identidade em relação.
“Eu existo e vivo em relação a quem me gerou, à realidade que me transcende, aos outros e ao mundo que me circunda, em relação ao qual sou chamado a abraçar com alegria e responsabilidade uma missão específica e pessoal”, explica o Pontífice.
Busca do homem pela felicidade
Prosseguindo, ele registra que essa verdade antropológica está relacionada ao desejo de realização humana e de felicidade. “No contexto cultural atual, às vezes há uma tendência a esquecer ou obscurecer essa realidade, com o risco de reduzir o ser humano apenas às suas necessidades materiais ou exigências primárias, como se fosse um objeto sem consciência ou vontade, simplesmente arrastado pela vida como parte de uma engrenagem mecânica”, descreve.
Neste sentido, o Santo Padre recomenda não sufocar a “saudável tensão interior” que cada um carrega dentro de si, ou seja, o chamado “à felicidade, à plenitude da vida, a algo grande a que Deus nos destinou”.
“A vida de cada um de nós, sem exceção, não é um acidente de percurso; a nossa existência no mundo não é mero fruto do acaso, mas fazemos parte de um plano de amor e somos convidados a sair de nós mesmos e realizá-lo, para nós e para os outros”, complementa Francisco em seu discurso.
Fidelidade ao Espírito Santo
Ele frisa que cada ser humano tem uma missão, sendo chamado a dar sua contribuição para melhorar o mundo e moldar a sociedade. Neste contexto, incentiva as pesquisas, os estudos e as oportunidades de debates sobre as vocações, os diferentes estados de vida e a multiplicidade de carismas.
Por fim, o Pontífice encoraja os participantes do encontro “para não terem medo nestes momentos tão ricos na vida da Igreja”. “O Espírito Santo nos pede algo importante: fidelidade. Mas a fidelidade está a caminho e muitas vezes a fidelidade nos leva a arriscar. (…) Sigam em frente, com a coragem de discernir e se arriscar, buscando a vontade de Deus”, concluiu a leitura Dom Ciampanelli.