FELICITAÇÕES DE NATAL

Papa pede à Cúria escuta e discernimento: “só quem ama pode caminhar”

Francisco recebeu cardeais para felicitações de Natal nesta quinta-feira, 21, e falou sobre o desafio de transmitir paixão a quem já a perdeu

Da Redação, com Vatican News

Foto: REUTERS/Guglielmo Mangiapane

Na manhã desta quinta-feira, 21, o Papa Francisco se reuniu com os cardeais para transmitir as felicitações de Natal. Inspirado por alguns dos principais “personagens” do Natal, ele fez um discurso ressaltando as dimensões da escuta, do discernimento e do caminhar no contexto do serviço realizado pela Cúria.

No início de sua fala, o Pontífice destacou que o mistério do Natal desperta os corações para a maravilha do anúncio de que “Deus vem”. Diante de um cenário permeado pela violência da guerra, pelos riscos ligados às mudanças climáticas, pela pobreza, pelo sofrimento e pela fome, o Santo Padre reiterou a necessidade de ouvir e receber este anúncio.

“É reconfortante descobrir que mesmo nestes ‘lugares’ de dor como em todos os espaços da nossa frágil humanidade, Deus se faz presente neste berço, na manjedoura que hoje Ele escolhe para nascer e para levar o amor do Pai a todos; e o faz com o estilo de Deus: proximidade, compaixão, ternura”, declarou Francisco.

Na sequência, ele destacou três verbos que marcam o caminho de fé e o serviço realizado pela Cúria: “escutar”, “discernir” e “caminhar”. Para explicá-los, o Papa se referiu a alguns dos “personagens principais” do Natal.

Escutar como Maria

Em relação à escuta, o Papa citou Maria como inspiração a seguir, recordando o anúncio do Anjo e a abertura dela ao projeto de Deus. Além disso, ele frisou que Nossa Senhora escuta “de joelhos”, ou seja, escuta com humildade e maravilha diante da graça que recebeu de Deus.

“Escutar ‘de joelhos’ é o melhor modo para escutar de verdade, pois significa que estamos diante do outro, não na posição de quem pensa que sabe tudo, mas, ao contrário, abrindo-nos ao mistério do outro”, expressou o Pontífice.

Ele indicou ainda que, muitas vezes, corre-se o risco de ser como lobos vorazes e “devorar” as palavras do outro, sem verdadeiramente escutá-lo. “Escutemo-nos mais, sem preconceitos, com abertura e sinceridade; com o coração de joelhos”, completou o Santo Padre.

Discernir como João Batista

Passando para o discernimento, o Santo Padre apontou para João Batista. Ele explicou que o precursor de Jesus passou por uma grande crise de fé quando o Cristo iniciou seu ministério. Isso porque João havia anunciado a vinda iminente do Senhor como a de um Deus poderoso, que finalmente julgaria os pecadores.

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Diante deste choque, João Batista entendeu a necessidade de discernir para “receber novos olhos”. Da mesma forma, sinalizou Francisco, todos devem buscar o discernimento, para não cair na pretensão de saber tudo. Afinal, os mistérios de Deus sempre superam os homens.

“A vida é superior às ideias”, manifestou, “precisamos praticar o discernimento espiritual, examinar a vontade de Deus, questionar os movimentos internos do nosso coração, para então avaliar as decisões a serem tomadas e as escolhas a serem feitas”. Desta forma, frisou, o discernimento deve ajudar a Cúria a ser dócil ao Espírito Santo em seu trabalho.

Caminhar como os Reis Magos

Por fim, o terceiro verbo, “caminhar”, encontra inspiração nos Reis Magos. A alegria do Evangelho impulsiona o seguimento, o desejo de encontrar-se com o Senhor. A fé cristã não pretende conferir segurança ou conforto, nem dar respostas rápidas aos problemas complexos da vida: pelo contrário, quando Deus chama, sempre inspira um caminho, ensinou o Papa.

“Somos chamados a viajar e a caminhar, como fizeram os Magos, seguindo a Luz que quer sempre levar-nos mais longe e que por vezes nos faz procurar caminhos inexplorados e nos leva por caminhos novos”, prosseguiu o Pontífice.

Transmitir a paixão pelo Evangelho

Neste contexto, ele pediu aos presentes que permaneçam vigilantes contra a fixidez da ideologia, e afirmou que é preciso coragem para caminhar, para ir mais longe, sendo esta uma questão de amor. Uma paixão que se torna cada vez mais difícil de se transmitir nos dias de hoje àqueles que já a perderam.

“Sessenta anos depois do Concílio (Vaticano II), ainda há um debate sobre a divisão entre ‘progressistas’ e ‘conservadores’, mas esta não é a diferença: a verdadeira diferença central está entre ‘apaixonados’ e ‘acostumados’. Esta é a diferença. Só quem ama pode caminhar”, exprimiu o Santo Padre.

Concluindo o seu discurso, ele agradeceu aos cardeais pelo trabalho realizado e pela dedicação. Francisco também pediu aos presentes que não percam o senso de humor, “que é saudável”, e rogou a Jesus, Verbo Encarnado, que conceda a alegria no serviço humilde e generoso.

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