Mensagem

Frear a ganância humana que está nos levando ao abismo, pede Papa

Neste sábado, 16, Francisco enviou uma mensagem ao IV Encontro Mundial dos Movimentos Populares

Da redação, com Vatican News

Papa Francisco durante mensagem de vídeo/ Foto: Reprodução – Vatican News

O Santo Padre enviou neste sábado , 16, uma videomensagem aos membros dos Movimentos Populares, reunidos em sua segunda sessão do IV Encontro Mundial.

Ao agradecer por permitirem que faça parte dessa caminhada, o Papa Francisco os chama de “poetas sociais” e explicou: “Chamo-os assim por terem a capacidade e a coragem de suscitar esperança onde reinam rejeição e exclusão”.

Poesia, disse Francisco, significa criatividade; e os Movimentos Populares criam esperança e, com suas mãos, sabem formar a dignidade de cada um, das famílias, da sociedade e em todos os lugares: casa, trabalho, zelo, comunidade e cuidado com a terra.

O Santo Padre agradeceu aos membros dos Movimentos pela sua dedicação, que é anúncio da esperança. “Sua presença lembra que não estamos condenados a construir um futuro baseado na exclusão, na desigualdade ou na indiferença, onde a cultura do privilégio é um poder invisível e irreprimível e a exploração e o abuso são um método habitual de sobrevivência”.

Pandemia silenciosa

A atual situação, causada pela pandemia, precisa de novos encontros, discernimento, escolhas e ação conjunta, afirmou o Pontífice. Os povos foram afetados por tantas desigualdades sociais; o modo de vida mudou drasticamente, tanto em família como entre os amigos.

Todos passaram por momentos de sofrimento, sobretudo, os migrantes e os que perderam o trabalho, caindo em uma dilacerante pobreza que não faz mais notícia. Esta situação afetou de modo especial as crianças e os jovens, que – segundo o Papa – viveram uma “pandemia silenciosa”, provocada pelo estresse e ansiedade crônica, vinculada a distintos fatores, como a hiperconetividade, o desconcerto e a falta de perspectiva.

Mais 20 milhões de pessoas caíram na extrema pobreza, de modo particular em países como Síria, Haiti, Congo, Senegal, Iêmen, Sudão do Sul. Parece que as mortes por causa da fome superam as da Covid. “Ignorar estes nossos irmãos é ignorar a nossa humanidade”, afirmou.

Transformar o “sistema de morte”

Para Francisco, o pessoal médico e paramédico e as classes populares, que enfrentaram a situação pandêmica com amor nas trincheiras das favelas, podem ser considerados “mártires” da solidariedade, um “exército invisível”, parte fundamental de uma humanidade que luta pela vida, “diante de um sistema de morte”.

Aqui, o Papa fez seu premente apelo, em nome da bem-aventuranças de Jesus, para que se estendam, permeiem e atinjam todos os lugares onde a vida é ameaçada: que os modelos socioeconômicos tenham um rosto humano; que todos os países, povos, seres humanos tenham acesso às vacinas e às necessidades básicas; que as grandes empresas extrativistas deixem de  destruir o meio ambiente, e deixem de poluir rios e mares e de envenenar pessoas e alimentos; que os gigantes da tecnologia parem de explorar a fragilidade humana e suas vulnerabilidades para obter ganhos pessoais.

Tudo isso, o Papa pede “em nome de Deus!”. E adverte: “Este sistema, com sua lógica implacável de ganância, está escapando a todo domínio humano. É hora de frear a locomotiva, uma locomotiva descontrolada que está nos levando ao abismo. Ainda estamos em tempo.”

Neste contexto, o Santo Padre faz um apelo pelo direito à educação das crianças pobres; aos meios de comunicação, pede que acabem com a lógica da pós-verdade, da desinformação, da difamação, da calúnia, mas contribuam para a fraternidade humana e a solidariedade com as pessoas feridas; aos poderosos, que parem com as agressões, bloqueios e sanções unilaterais contra qualquer país.

“Não ao neocolonialismo!”, aos governos e políticos, que trabalhem pelo bem comum e estejam a serviço dos povos; aos líderes religiosos, que nunca usem o nome de Deus para fomentar guerras ou golpes de Estado, mas estejam ao lado dos povos, trabalhadores, humildes, para o desenvolvimento humano, pediu Francisco.

Samaritanos coletivos

É preciso construir pontes de amor contra a intolerância, xenofobia e ódio aos pobres; é preciso ter a poesia e a capacidade de sonhar juntos. “Os movimentos populares são, além de poetas sociais, ‘samaritanos coletivos’”, afirmou.

A Doutrina Social da Igreja, acrescentou, não tem todas as respostas a todos os sonhos, mas contém princípios que podem ajudar e lamenta que quando fala destes princípios, o próprio Papa é catalogado “com uma série de epítetos que se utilizam para reduzir qualquer reflexão a mera adjetivação depreciativa”. “Não me enoja, me entristece. É parte da trama da pós-verdade que tenta anular qualquer busca humanista alternativa à globalização capitalista.”

Enfim, o Santo Padre recordou apenas dois princípios para cumprirmos bem nossa missão: a solidariedade e a subsidiariedade. Com estes dois princípios, o cristão pode dar ao próximo um meio para passar do sonho à ação. Pois chegou a hora de agir!

“Irmãs e irmãos, estou convencido de que o mundo se vê mais claramente a partir das periferias. Sigam impulsionando sua agenda de terra, teto e trabalho. Sigam sonhando juntos. E obrigado – obrigado seriamente – por deixar-me sonhar com vocês.”

 

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