COMUNICAÇÕES SOCIAIS

"Enxergar o outro como ser humano", incentiva coordenador da Pascom

No Dia Mundial das Comunicações Sociais recorde o que o Papa Francisco pede aos jornalistas e àqueles que atuam na comunicação da Igreja: “falar com o coração”

Thiago Coutinho,
Da redação

Cartaz para o 57º Dia Mundial das Comunicações Sociais / Foto: Reprodução Vatican News

“Falar com o coração. Testemunhando a verdade no amor” foi o tema escolhido, em janeiro, pelo Papa Francisco para o 57º Dia Mundial das Comunicações Sociais. E o Sucessor de Pedro foi sucinto sobre suas aspirações relacionadas à comunicação católica: “Sonho uma comunicação eclesial que saiba deixar-se guiar pelo Espírito Santo, gentil e ao mesmo tempo profética, capaz de encontrar novas formas e modalidades para o anúncio maravilhoso que é chamada a proclamar no terceiro milênio”.

Meios de comunicação que comungam dos mesmos valores que a Igreja só podem “falar com o coração” quando escutam com ele. É o que afirma Marcus Tullius, coordenador-geral da Pastoral da Comunicação (Pascom). “Penso que este seja o caminho mais fecundo que o Papa Francisco propõe aos comunicadores, e à Igreja de maneira geral, com as suas duas últimas mensagens para o Dia Mundial das Comunicações Sociais”, acrescenta.

É essencial, para Tullius, que o comunicador consiga enxergar o outro como ser humano, como imagem e semelhança do Pai. “Só assim se consegue praticar uma comunicação cordial”, diz. “Reconhecendo que a escuta é essencial, isto exige o discernimento para dizer a coisa certa, na hora certa, do jeito certo e, muitas vezes, até o silêncio certo”.

Uma tarefa árdua diante do mundo contemporâneo: guerra, doenças e políticas raivosas que são postas à vista todos os dias. “Penso que aí está o desejo de comunicar coisas boas, mesmo sabendo que o mal existe entre nós”, pondera o coordenador da Pascom. “Contudo, se privilegiamos comunicar coisas boas, vamos rompendo o ciclo vicioso de disseminação do mal”.

Não tenhamos medo de proclamar a verdade

Ainda em sua mensagem, o Santo Padre vaticina: “não devemos ter medo de proclamar a verdade”. Sob esta ótica, é sabido que as famigeradas fake news geram problemas tanto para os meios de comunicação seculares quanto àqueles voltados à Igreja.

“Proclamar a verdade deve ser entendido, pelos comunicadores, como uma exigência do Evangelho”, adianta Tullius. ” É preciso comunicar de forma responsável e comprometida com a verdade, pois, para o cristão, esta não é apenas uma escolha moral, mas é a sua configuração a Jesus Cristo, que se apresenta como caminho, verdade e vida no Evangelho de São João (cf. 14,6)”.

Ainda segundo Tullius, ser um comunicador cristão e disseminar notícias são como óleo e água: não se misturam, não convergem. “Uma responsabilidade individual de verificar qualquer conteúdo recebido, de se comprometer para desmentir e também uma responsabilidade comunitária, agindo com discernimento do Espírito para formar as pessoas, para instruir e corrigir com caridade”, alerta.

União dentro da Igreja

Enquanto o mundo sofre com opiniões díspares e polarizadas, que tornam os debates acirrados, quando não violentos, a Igreja tenta se manter longe deste clima. Mas, “infelizmente, nem a comunidade eclesial está imune”, disse o Sucessor de Pedro em sua mensagem pelo 57º Dia Mundial das Comunicações Sociais. “Precisamos recuperar o sentido da comunidade, a partir de uma autêntica cultura do encontro e do estabelecimento de boa relação entre as pessoas. A diversidade não pode ser causa de divisão, não pode ser usada para fomentar a rivalidade”, pondera Tullius.

A chave seria o diálogo. Ouvir e ser ouvido, buscar se colocar no lugar do outro e encontrar um caminho que atenda a todos. “Quando reconhecemos que o outro é nosso irmão, buscamos trilhar juntos um caminho de comunhão e este é o maior testemunho que podemos dar. É preciso caminharmos juntos e unidos, em comunidade”.

São Francisco de Sales

Ainda em sua mensagem, o Pontífice cita São Francisco de Sales como uma inspiração para seu texto — especialmente no que se refere às redes sociais, em que, de acordo com o Papa, “a comunicação é feita para mostrar não aquilo que somos, mas o que desejamos ser”.

“Este parece ser um modelo recorrente no ambiente digital, de ficar somente com a primeira impressão, de não criar vínculos e não buscar um conhecimento mais profundo das realidades”, lamenta Tullius. “A parábola do samaritano aparece já na primeira mensagem para o Dia Mundial das Comunicações, em 2014, e a define como parábola do comunicador. Esta analogia foi retomada diversas vezes e agora, novamente, é o fio condutor do documento ‘Rumo à presença plena’, do Dicastério para a Comunicação”.

Não à cultura do cancelamento

A internet, infelizmente, tornou-se um instrumento para muitos difamarem e humilharem outros — e isso acontece muito rapidamente. Para Tullius, é necessário que o jornalismo cristão se volte a uma comunicação desarmada e pacificadora. “Na gramática do Evangelho, os verbos amar e armar não se conjugam juntos. Quando cancelamos alguém, estamos, metaforicamente, matando aquela pessoa. Portanto, o destino da paz passa por uma sociedade e por uma Igreja desarmada, com condições para se converter cotidianamente”, declara.

É importante também dar fim a esta mentalidade bélica que tanto se tem visto nos últimos tempos. “Isso passa por uma comunicação cordial — que escuta e que fala com o coração, logo uma comunicação não-violenta”, finaliza.

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