Para o professor e historiador Mário José Dias a presença do Papa Francisco em Mianmar e Bangladesh traz importante apelo à abertura ao diálogo
Kelen Galvan
Da redação
Papa Francisco chegou nesta segunda-feira, 27, a Mianmar, para uma viagem de seis dias ao continente asiático. Nesta oportunidade, o Santo Padre visitará também Bangladesh.
Esta é a primeira vez que um Papa visita Mianmar. Com uma população de 53 milhões, de maioria budista, os católicos representam apenas 1,27%. Em Bangladesh, a maioria da população, de 163 milhões, é muçulmana, os católicos representam apenas 0,24%.
Nos dois países, de minoria cristã, Francisco deseja que sua visita seja uma “fonte de esperança” a todos, e espera encorajar os católicos locais, confirmando-os na fé.
Para o professor e historiador, Mário José Dias, a presença do Papa Francisco em Mianmar e Bangladesh tem um significado importante de apelo ao mundo para uma abertura profunda ao diálogo entre e com as pessoas independentemente de suas posições políticas, religiosas e sociais. “Esta é a única forma viável para vencer as violências instauradas, principalmente nesta região visitada pelo Papa Francisco, onde a desigualdade social é gritante, principalmente por conta do número de refugiados, das 30 mil crianças desabrigadas e órfãos tanto pelo abandono dos pais como da condição de apátridas”.
Embora seja uma minoria cristã, Dias acredita que a visita de Francisco aos países será marcante, principalmente pelo carisma do Papa, que trata a todos que se aproximam dele de forma simples e direta, e também pelo seu “testemunho de vida cristã autêntica”.
“As sementes serão lançadas e, acredito, que caberá a todos nós cristãos nos envolvermos para que elas possam crescer em terreno fértil movidos pela fé e pelo testemunho”, destaca.
Rohingyas
Um dos grandes desafios vivido nestes países refere-se à presença dos rohingyas em Mianmar. O grupo étnico muçulmano foi obrigado a fugir do país, em agosto deste ano, e se refugiar em Bangladesh, devido à perseguição de membros militares em Mianmar. Dias antes da chegada do Papa Francisco, os dois países fecharam um acordo para o retorno de mais de 600 mil rohingyas às suas casas, mas ainda há grande preocupação sobre a real segurança destas pessoas no país.
O historiador afirma que o problema é histórico e remete à ocupação da região tanto por grupos nômades como por religiosos e se agravou durante a Segunda Guerra Mundial. Na ocasião, os japoneses invadiram o território britânico e criaram o Estado da Birmânia.
Ele lembra que a chegada dos rohingyas à Mianmar remonta a colonização inglesa do século XIX, por necessidade de mão de obra para trabalhar na região. O grupo étnico é considerado apatriado e por isso, seus integrantes não são reconhecidos como cidadãos, apesar de vários apelos internacionais.
“Acredito que com a visita do Papa Francisco estas questões voltem à mesa de discussão e possam ter desdobramentos positivos na busca à dignidade e valorização da pessoa em sua inteireza”, afirma professor Mário.
Desenvolvimento dos países
O historiador afirma que a conturbada história destes dois países elevam suas questões sociais e impactam na economia local. “Por adotar medidas protecionistas e de não adesão as causas humanitárias estes países acabam adotando medidas de autossuficiência isolando-os dos demais países. Essa economia fechada acaba por permitir o comércio ilegal e aumentar as desigualdades sociais, além de acumular uma dívida pública que inviabiliza ações de melhorias na qualidade de vida”.
Dias destaca ainda que a presença de milícias e a tentativa de uma “limpeza étnica” acabam por ampliar os desníveis sociais e impedir o avanço econômico da região. “Calcula-se, por exemplo, que cerca de 1000 estudantes foram mortos pelo regime na década de 80/90, por não concordarem com a condução política do país”.
O Papa Francisco permanece na região até o dia 2 de dezembro. Nesta 21ª viagem internacional, a terceira à Ásia, o Santo Padre irá percorrer mais de 17 mil quilômetros, com uma agenda que inclui encontros com a antiga Prêmio Nobel da Paz Aung San Suu Kyi, responsáveis políticos, líderes católicos e com o Conselho Supremo dos Monges Budistas de Mianmar. Além de um momento inter-religioso de oração pela paz.