O Papa Francisco falou sobre a importância do diálogo e afirmou que este ato, muitas vezes, requer momentos de silêncio
Da redação, com Rádio Vaticano
Neste sábado, 22, memória litúrgica de São João Paulo II, o Papa Francisco encontrou na Praça São Pedro cerca de 100 mil peregrinos e fiéis, provenientes de diversos países para a Audiência Jubilar, que se realiza no Vaticano durante este Ano Santo da Misericórdia.
Em sua catequese, o Pontífice refletiu sobre o encontro de Cristo com a samaritana, narrado pelo evangelista São João, abordando o tema diálogo: “tão presente em nossos dias”. De fato, Jesus mantém um diálogo intenso com a mulher, um dos aspectos importantes da misericórdia divina.
“O diálogo permite que as pessoas se conheçam e compreendam reciprocamente suas exigências. Trata-se de um sinal de respeito, porque coloca as pessoas em atitude de escuta e na condição de perceber os melhores aspectos do interlocutor.”
Em segundo lugar, explica Francisco, o diálogo é expressão da caridade, porque, sem ignorar as diferenças, leva à busca e à partilha do bem comum. Além disso, o diálogo convida-nos a colocar-nos diante do outro e a vê-lo como dom de Deus, que nos interpela e nos pede para ser reconhecido.
“Muitas vezes, não encontramos os irmãos, embora vivamos ao seu lado, sobretudo quando fazemos prevalecer a nossa posição sobre a do outro. Não dialogamos quando não escutamos o suficiente ou temos a tendência de interromper o outro para demonstrar que temos razão.”
O Papa afirma que o verdadeiro diálogo, pelo contrário, requer momentos de silêncio, nos quais se percebe o dom extraordinário da presença de Deus no irmão. “Caros irmãos e irmãs, dialogar ajuda as pessoas a humanizar as relações e a superar as incompreensões. Há tanta necessidade de diálogo em nossas famílias e como se resolveriam mais facilmente as questões se aprendêssemos a escutar reciprocamente.”
A mesma coisa, recordou o Pontífice, acontece na relação entre marido e mulher, entre pais e filhos. Quanta ajuda poder-se-ia obter também do diálogo entre professores e alunos ou entre dirigentes e operários, para descobrir as melhores exigências do trabalho.
“De diálogo vive também a Igreja com os homens e as mulheres de todos os tempos, para compreender as necessidades do coração de cada pessoa e contribuir para a realização do bem comum. Pensemos ao grande dom da Criação e à responsabilidade que todos temos de preservar a nossa casa comum: o diálogo sobre um tema tão central assim torna-se uma exigência inevitável.”
Neste sentido, o Pontífice convidou os fiéis a dirigir seu pensamento também ao diálogo entre as religiões, para descobrir a profunda verdade sobre sua missão no meio dos homens e contribuir para a construção da paz e de uma rede de respeito e fraternidade.
“Todas as formas de diálogo são expressão da grande exigência de amor de Deus, que vai ao encontro de todos e em cada um, planta uma semente da sua bondade, para que possa colaborar com a sua obra criadora. O diálogo abate os muros das divisões e das incompreensões; cria pontes de comunicação e não permite que ninguém se isole, fechando-se no seu pequeno mundo.”
Jesus sabia muito bem o que acontecia no coração da samaritana, no entanto, Ele não lhe negou o direito de se expressar e, aos poucos, penetrou no mistério da sua vida, frisou o Pontífice.
Por fim, o Santo Padre ressaltou que este ensinamento vale também para nós, pois, por meio do diálogo, pode-se fazer crescer os sinais da misericórdia de Deus, tornando-o instrumento de acolhida e de respeito.
Ao término da sua catequese na Audiência Jubilar, Francisco passou a cumprimentar os diversos grupos de peregrinos, presentes na Praça São Pedro.
Aos fiéis da Polônia, que vieram em peregrinação nacional para agradecer a Deus pelo Batismo que seu povo recebeu há 1050 anos, Francisco aproveitou para recordar a grande figura de São João Paulo II, cuja memória litúrgica celebra-se hoje, e sua Viagem Apostólica ao país, em julho passado.
“Estou imensamente agradecido a Deus, que me permitiu conhecer a sua nação, a pátria de São João Paulo II, onde pude visitar o Santuário mariano de Jasna Gora, o da Divina Misericórdia em Cracóvia e o centro João Paulo II intitulado ‘Não tenham medo’. Agradeço também pela visita silenciosa ao Campo de extermínio em Auschwitz-Birkenau”.
Aos peregrinos de língua italiana, Francisco recordou que há 38 anos, ressoava, precisamente na Praça São Pedro, as palavras que São João Paulo II dirigia ao mundo no início do seu Pontificado: “Não tenham medo. Abram, ou melhor, escancarem as portas a Cristo”. Tais palavras expressam a profunda espiritualidade do Santo polonês, plasmada pela herança histórica e cultural do seu povo.
Por fim, o Santo Padre se dirigiu aos presentes de língua portuguesa. “Dirijo uma cordial saudação aos peregrinos de língua portuguesa, de modo particular ao grupo de Póvoa de Varzim. Recordemos que a Virgem Maria nos ensina a ouvir no silêncio e a meditar todas as coisas no coração, de modo que possamos ir ao encontro das necessidades do próximo. Que seu exemplo possa nos ajudar a servir sempre mais os nossos irmãos e irmãs. Que Deus abençoe a vocês e aos seus entes queridos.”