Prefácio de livro

Concílio é luz para levar a fraternidade ao mundo, escreve Papa

Prefácio escrito por Francisco para o livro “Fraternidade, sinal dos tempos. O magistério social do Papa Francisco” foi divulgado nesta terça-feira, 28

Da redação, com Vatican News

Papa Francisco /Foto: Daniel Ibanez – CNA

Foi divulgado nesta terça-feira, 28, o prefácio escrito pelo Papa Francisco para o livro “Fraternidade, sinal dos tempos. O magistério social do Papa Francisco”. A obra foi escrita pelo Cardeal Michael Czerny e pelo padre Christian Barone. O livro será publicado nesta quinta-feira, 30.

No dia do lançamento da obra haverá uma transmissão ao vivo pelo Vatican News, da Sala Barberini da Biblioteca Apostólica. Na ocasião será apresentado o livro. A secretária interina do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, irmã Alessandra Smerilli, participará do momento.

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Também estarão presentes: o presidente da Liga Braccianti e porta-voz dos Invisíveis em Movimento, dr. Aboubakar Soumahoro; o subsecretário adjunto da Congregação para a Doutrina da Fé. Padre Armando Matteo, e o correspondente do Vaticano para “América” – que será o moderador, dr. Gerard O’Connell.

Reino de Deus

“O coração do Evangelho é o anúncio do Reino de Deus, que é Jesus em pessoa, o Emanuel e Deus conosco. Nele, Deus cumpre definitivamente seu plano de amor pela humanidade, estabelecendo seu senhorio sobre as criaturas e introduzindo na história humana a semente da vida divina, que a transforma a partir de dentro”.

Com estas palavras o Santo Padre inicia o prefácio do livro “Fraternidade, sinal dos tempos. O magistério social do Papa Francisco”. No texto, o Pontífice afirma que o Reino de Deus é um fascinante e interessante “paradoxo”.

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“É o que Jesus, unido para sempre à nossa carne, já realiza aqui e agora, abrindo-nos a uma relação com Deus Pai e trabalhando uma libertação contínua na vida e na história que vivemos, porque n’Ele o Reino de Deus se aproximou agora”.

Ao mesmo tempo, o Papa frisa que o Reino permanece também uma promessa, um profundo anseio, um grito que se eleva da criação ainda marcada pelo mal, que geme e sofre até o dia de sua libertação plena (cf. Rm 8,19-24).

Conversão e fé ativa

Segundo o Santo Padre, o Reino anunciado por Jesus é uma realidade viva e dinâmica. Ele convida à conversão e pede que a fé saia da estática de uma religiosidade individual ou reduzida ao legalismo, para ser inquieta e contínua busca do Senhor e de Sua Palavra.

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“A cada dia nos chama a colaborar na obra de Deus nas diferentes situações da vida e da sociedade. De diferentes maneiras, muitas vezes silenciosas e anônimas, muitas vezes até mesmo dentro da história de nossos fracassos e feridas, o Reino de Deus está se realizando em nossos corações e na história ao nosso redor”, escreve.

O Pontífice destaca que Jesus introduz na história de homens e mulheres os sinais da nova vida que veio inaugurar. Jesus pede para colaborar com Ele na obra de salvação.

Kerygma da fé cristã: um conteúdo social

Francisco afirma que não se deve neutralizar a dimensão social da fé cristã. “Como também recordei na Evangelii Gaudium, o kerygma da fé cristã tem em si um conteúdo social, convidando a construir uma sociedade na qual triunfe a lógica das Bem-aventuranças e um mundo solidário e fraterno”, complementa.

O Deus de amor, que em Jesus convida todos a viverem o mandamento do amor fraterno, cura as relações interpessoais e sociais através do amor e chama todos a serem agentes de paz e construtores de fraternidade, ressalta.

“A proposta é o Reino de Deus (Lc 4,43). Trata-se de amar a Deus que reina no mundo. Na medida em que ele conseguir reinar entre nós, a vida social será um espaço de fraternidade, justiça, paz e dignidade para todos. Portanto, tanto o anúncio quanto a experiência cristã tendem a provocar consequências sociais” (Evangelii Gaudium, 180).

No prefácio, o Pontífice ressalta a importância do cuidado com a Casa Comum e o compromisso de construir uma sociedade solidária na qual “todos são irmãos”. Esta ideia, pontua, não é apenas um aspecto social da fé cristã, mas uma realidade que tem um fundamento teológico:

“O amor de Deus pela humanidade e Seu plano de amor e fraternidade que Ele cumpre na história através de Jesus Cristo, seu Filho, a quem os fiéis estão intimamente unidos através do Espírito”.

Concílio Vaticano II

O Santo Padre agradeceu o cardeal Michael Czerny e o padre Christian Barone pelo livro. Segundo o Papa, a obra apresenta uma contribuição sobre a fraternidade e traz à luz e torna explícita a profunda ligação entre o atual Magistério social e as afirmações do Concílio Vaticano II.

Ao recordar sua experiência como membro da Igreja na América Latina, Francisco afirma que o Concílio se tornou o horizonte da crença daquele continente, de linguagens e práxis, ou seja, logo se tornou o ecossistema eclesial e pastoral.

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“Não tínhamos o hábito de citar com frequência os decretos conciliares ou de nos determos em reflexões especulativas. Muito simplesmente, o Concílio tinha entrado em nosso modo de ser cristãos e de ser Igreja, e, no decorrer da vida, minhas intuições, percepções e espiritualidade foram simplesmente geradas pelas sugestões da doutrina do Vaticano II”, explica.

De acordo com o Papa, não havia necessidade de citar os textos do Concílio. Hoje, passadas várias décadas e mudança profundas do mundo, o Santo Padre defende a necessidade de tornar mais explícitos os conceitos-chave do Concílio Vaticano II, os fundamentos de seus argumentos, seu horizonte teológico e pastoral, os argumentos e o método que utilizou.

Fraternidade

Na primeira parte do livro, o Pontífice relata que os autores leem e interpretam o Magistério social que ele está tentando levar adiante. Eles trazem à tona o ensinamento do Concílio como base fundamental, ponto de partida, lugar que gera perguntas e ideias e que, portanto, também orienta o convite que hoje o Papa dirige à Igreja e ao mundo inteiro sobre a fraternidade.

“A fraternidade, que é um dos sinais dos tempos que o Vaticano II traz à luz, é o que precisam o nosso mundo e nossa Casa comum, na qual somos chamados a viver como irmãos e irmãs”, sublinha.

Dentro deste horizonte, o livro apresenta também a vantagem de reler nos dias de hoje a intuição conciliar de uma Igreja aberta, em diálogo com o mundo, escreveu. O Pontífice citou a Gaudium et Spes e o caminho traçado pelos padres conciliares.

Uma Igreja a serviço da humanidade

“Percebemos que há necessidade não só de uma Igreja no mundo moderno e em diálogo com ela, mas sobretudo de uma Igreja que se coloque a serviço da humanidade, cuidando da criação, anunciando e realizando uma nova fraternidade universal, na qual as relações humanas sejam curadas do egoísmo e da violência e se baseiem no amor recíproco, na aceitação e na solidariedade”.

O livro também oferece uma reflexão sobre a metodologia utilizada pela teologia pós-conciliar e pelo próprio Magistério social. Ele mostra como está intimamente ligada à metodologia utilizada pelo Concílio, ou seja, um método histórico-teológico-pastoral, no qual a história é o lugar da revelação de Deus, a teologia desenvolve as orientações através da reflexão, e pastoral as encarna nas práxis eclesial e social, aponta Francisco.

“Neste sentido, o Magistério do Santo Padre precisa sempre ouvir a história e precisa da contribuição da teologia. (…) É assim que devemos caminhar: o Magistério, a teologia, a prática pastoral e a liderança. Sempre juntos. A fraternidade será mais crível se também começarmos na Igreja a sentir-nos “todos irmãos” e a viver os nossos respectivos ministérios como um serviço ao Evangelho, à construção do Reino de Deus e ao cuidado da Casa comum”, finaliza.

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