“Não existe liberdade sem amor. A liberdade egoísta de fazer o que eu quero não é liberdade”, disse Francisco na Catequese desta quarta-feira, 20
Da redação, com Vatican News
“A liberdade se realiza na caridade”. Este foi o tema da catequese do Papa Francisco desta quarta-feira, 20. Na Audiência Geral, o Pontífice deu continuidade ao ciclo de catequeses sobre a Carta de São Paulo aos Gálatas.
Uma criança se aproximou do Papa e ele aproveitou a ocasião para recordar o que Jesus diz a propósito da espontaneidade e da liberdade das crianças. “Este menino teve a liberdade de se aproximar e se mover como se estivesse em casa”, disse o Pontífice, lembrando as palavras de Jesus:
“Se vocês não se tornarem como crianças, vocês não entrarão no Reino do Céu.” Ter a “coragem de aproximar-se do Senhor, de estar aberto ao Senhor, de não ter medo do Senhor.”
Testemunho que vem do coração
“Agradeço a este menino pela lição que nos deu a todos. Que o Senhor o ajude em sua limitação, em seu crescimento, porque ele deu este testemunho que veio de seu coração. As crianças não têm um tradutor automático do coração para a vida: o coração continua”, afirmou o Santo Padre.
Francisco prosseguiu destacando que São Paulo, na sua Carta aos Gálatas, introduz homens e mulheres gradualmente na grande novidade da fé. Renascidos em Cristo, é possível que os fiéis passem de uma religiosidade feita de preceitos para uma fé viva, que tem o seu centro na comunhão com Deus e com os irmãos, ou seja, na caridade.
“Passamos da escravidão do medo e do pecado para a liberdade dos filhos de Deus. (…) A liberdade não é uma forma libertina de viver, segundo a carne, ou segundo o instinto, desejos individuais e impulsos egoístas; pelo contrário, a liberdade de Jesus nos leva a estar – escreve o Apóstolo – ‘ao serviço uns dos outros'”, sublinhou.
A liberdade em Cristo tem alguma dimensão de escravidão, que nos leva ao serviço, a viver para os outros, continuou o Pontífice. Em outras palavras, o Papa revelou que a verdadeira liberdade é plenamente expressa na caridade. Desse modo, mais uma vez a humanidade se encontra perante o paradoxo do Evangelho: “somos livres para servir; e não em fazer o que queremos. Encontramo-nos plenamente na medida em que nos doamos; possuímos a vida se a perdemos. Isto é Evangelho puro”.
Não existe liberdade sem amor
A resposta que explica a questão do paradoxo, revelou Francisco, é simples e exigente: o amor. “Não existe liberdade sem amor. A liberdade egoísta de fazer o que eu quero não é liberdade, porque ela volta para si mesma. Não é fecunda. Foi o amor de Cristo que nos libertou, e é ainda o amor que nos liberta da pior escravidão, a do nosso ego; por conseguinte, a liberdade cresce com o amor. Mas atenção: não com o amor intimista, das novelas, não com a paixão que simplesmente procura o que nos convém e o que gostamos, mas com o amor que vemos em Cristo, a caridade: este é o amor verdadeiramente livre e libertador”, explicou.
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O Pontífice frisou que para Paulo a liberdade não significa “fazer o que lhe apetece”. Esse tipo de liberdade, prosseguiu, sem um fim e sem referências, seria uma liberdade vazia. Uma liberdade de circo. Segundo o Santo Padre, este tipo de liberdade deixa um vazio interior.
“Quantas vezes, depois de termos seguido apenas o nosso instinto, nos damos conta de que ficamos com um grande vazio interior e que abusamos do tesouro da nossa liberdade, da beleza de poder escolher o verdadeiro bem para nós mesmos e para os demais. Só essa liberdade é plena, concreta e nos insere na vida real de cada dia”.
Recordar-se dos pobres
Na primeira Carta aos Coríntios, o Apóstolo responde àqueles que têm uma ideia errada de liberdade. “Tudo é lícito!”, dizem eles. “Sim, mas nem tudo é benéfico”, responde Paulo. “Tudo é lícito!” – “Sim, mas nem tudo edifica”, objetou o Apóstolo. E acrescenta: “Ninguém procure o próprio interesse, senão os dos outros”.
Esta é uma regra para desmascarar qualquer liberdade egoísta, frisou o Papa. Aqueles que são tentados a reduzir a liberdade apenas aos próprios gostos, Paulo apresenta a exigência de amor. Francisco afirmou que a liberdade guiada pelo amor é a única que liberta os outros e a nós mesmos, que sabe ouvir sem impor, que sabe amar sem forçar, que constrói e não destrói, que não explora os demais para a sua conveniência e que pratica o bem sem procurar o próprio benefício.
Em suma, o Santo Padre comentou que se a liberdade não estiver a serviço do bem, corre o risco de ser estéril e de não dar frutos. Por outro lado, a liberdade animada pelo amor conduz aos pobres, reconhecendo no seu rosto o de Cristo.
“Recordar-se dos pobres.” Depois da luta ideológica entre Paulo e os apóstolos eles concordaram que o importante é seguir adiante e “não se esquecer dos pobres, ou seja, que a sua liberdade como pregador deve ser uma liberdade a serviço dos outros, não para si mesmo, para fazer o que quer”.
A pandemia nos ensinou que precisamos uns dos outros
Francisco recordou uma das mais difundidas concepções modernas de liberdade: “A minha liberdade acaba onde começa a sua”. “Mas aqui falta a relação! Trata-se de uma visão individualista. A dimensão social é fundamental para os cristãos”, apontou, permite-lhes “olhar para o bem comum e não para o interesse particular”.
O Papa sublinhou que, neste momento histórico, é preciso redescobrir a dimensão comunitária, não individualista, da liberdade.
“A pandemia nos ensinou que precisamos uns dos outros, mas não é suficiente sabê-lo, precisamos escolhê-lo concretamente todos os dias. Decidir sobre aquela estrada. Os outros não são um obstáculo à minha liberdade, mas a possibilidade de a realizar plenamente. A nossa liberdade nasce do amor de Deus e cresce na caridade”.