Na tarde desta quarta-feira, 17, o Papa Bento XVI, reuniu-se com os bispos dos Estados Unidos, no Santuário Nacional da Imaculada Conceição, em Washington. Neste local, celebrou as primeiras vésperas e fez um discurso. Em sua palavras, incentivou a Igreja a acolher os imigrantes, que chegam aos EUA em busca de ‘uma vida nova’, à generosidade do povo americano e motivou os bispos a ‘conduzir seu povo ao encontro do Deus vivo’.
.: Leia discurso de Bento XVI na Casa Branca
Falando sobre as posições que contradizem ao catolicismo, Bento XVI disse: “Embora seja verdade que este País se distingue por um genuíno espírito religioso, a sutil influência do secularismo pode, todavia, marcar o modo com o qual as pessoas permitem que a fé influencie seus comportamentos”. E acrescentou: “É preciso resistir a todas as tendências a considerar a religião como um fato privado. Somente quando a fé permeia todo aspecto da vida, os cristãos se tornam realmente abertos ao poder transformador do Evangelho”.
O Papa explicou que Deus faz um convite ao povo para que viva como ‘uma comunidade redimida: “Desde o início, Deus viu que “não é um bem que o homem seja só”. Fomos criados como seres sociais, que s realizam somente no amor a Deus e ao próximo. Se quisermos manter fixo nosso olhar a Ele, fonte de nossa alegria, devemos fazê-lo como membros do Povo de Deus (cfr Spe salvi, 14). Se isso parecesse ir contra a cultura atual, seria simplesmente mais uma prova da necessidade urgente de uma nova evangelização da cultura”.
Bento XVI motivou a continuidade da tradicional educação religiosa americana e incentivou a etica nos procedimentos científicos. Com relação a discussão sobre questões sociais e morais da atualidade, o Santo Padre pediu aos fiíes leigos que sejam ‘fermento na sociedade’.
“A família é local primário da evangelização, na transmissão da fé, no ajudar os jovens a apreciar a importância da prática religiosa e do respeito do domingo”, disse ressaltando o papel da família.
O Santo Padre também incenticou os bispos à viverem a adoração ao Santíssimo e a fideliadde na vida de oração.
Leia a íntegra do discurso
Venerados irmãos no Episcopado,
É grande a minha alegria ao saudar-lhes hoje, no início de minha visita a este país, e agradeço o cardeal George pelas palavras gentis que me dirigiu em seu nome. Desejo agradecer cada um de vocês, especialmente os Oficiais da Conferência Episcopal, pelo difícil trabalho que enfrentaram na preparação desta viagem. Expresso meu grato apreço também à equipe de voluntários do Santuário nacional, que nos acolheram aqui, esta noite. Os católicos dos EUA são conhecidos por sua leal devoção à Sé de Pedro. Minha visita pastoral é uma ocasião para reforçar ainda mais os vínculos de comunhão que nos unem. Iniciamos com a celebração da Oração da Noite, nessa Basílica dedicada à Imaculada Conceição da Bem-aventurada Virgem Maria, santuário de significado especial para os católicos americanos, bem no coração de sua Capital. Unidos em oração com Maria, Mãe de Jesus, confiamos com amor, ao nosso Pai celeste, o Povo de Deus de todas as partes dos EUA.
Para as comunidades católicas de Boston, Nova York, Filadélfia e Louisville, este é um ano de celebrações especiais, pois marca o bicentenário da ereção destas Igrejas locais em dioceses. Uno-me a vocês ao agradecer os dons celestes concedidos às Igrejas nestes lugares, nos últimos dois séculos. Este ano assinala também o bicentenário da sede fundadora, Baltimore, a arquidiocese, e isto me oferece a oportunidade para recordar com admiração e gratidão a vida e o ministério de John Carrol, primeiro bispo de Baltimore e digno Pastor da comunidade católica em sua Nação, independente havia pouco tempo. Seus incansáveis esforços para difundir o Evangelho no grande território a ele confiado depuseram as bases da vida eclesial em seu País e permitiram à Igreja nos EUA crescer rumo ao amadurecimento. Hoje, a comunidade católica que servem é uma das maiores do mundo, e uma das mais influentes. Como é importante, portanto, fazer com que a sua luz brilhe diante de seus cidadãos e do mundo, ‘para que vejam as suas boas obras e glorifiquem seu Pai, que está no céu’.
Muitas das pessoas com as quais John Carrol e seus irmãos Bispos exerceram o ministério, dois séculos atrás, vieram de terras distantes. A diversidade de sua proveniência se reflete na rica variedade da vida eclesial da América de hoje. Queridos Irmãos Bispos, desejo encorajar vocês e suas comunidades a continuarem a acolher os imigrantes que se unem hoje a suas comunidades, a compartilhar suas alegrias e esperanças, a sustentá-los em seus sofrimentos e provações, e a ajudá-los a prosperar em sua nova casa. Por outro lado, isto é o que seus compatriotas fizeram, por tantas gerações. Desde os inícios, eles abriram as portas aos mais provados, aos pobres, às massas que se acalcavam tentando respirar na liberdade (cfr Soneto inciso na Estátua da Liberdade). Eram pessoas que a América fez suas.
Entre àqueles que aqui vieram para construir uma vida nova, muitos foram capazes de utilizar bem os recursos e oportunidades que aqui encontraram, e alcançar um elevado nível de prosperidade. Na verdade, os cidadãos deste País são conhecidos por sua grande vitalidade e criatividade. São conhecidos também por sua generosidade. Depois do ataque às Torres Gêmeas, em setembro de 2001, e ainda, depois do furacão Katrina, em 2005, os americanos mostraram sua prontidão em ajudar seus irmãos e irmãs que estavam em necessidade. Em nível internacional, a contribuição oferecida pelo povo da América às operações de socorro e salvamento depois do tsunami, em dezembro de 2004, foi mais uma demonstração desta compaixão. Permitam-me expressar especial apreço pelas inúmeras formas de assistência humanitária oferecida pelos católicos americanos através das Caritas católicas e outras agências. Sua generosidade deu frutos na atenção aos pobres e carentes, assim como na energia manifestada na construção da rede nacional de paróquias católicas, hospitais, escolas e universidades. Tudo isso oferece um sólido motivo de agradecimento.
A América é também terra de grande fé. Seu povo é bem conhecido pelo fervor religioso e é orgulhoso de pertencer a uma comunidade fiel. Tem confiança em Deus e não hesita em introduzir nos temas públicos razões morais enraizadas na fé bíblica. O respeito pela liberdade de religião é profundamente arraigado na consciência americana, um dado concreto que contribuiu a fazer com este país atraísse gerações de imigrantes, em busca de uma casa na qual professar seu culto a Deus livremente, segundo as próprias convicções religiosas.
Neste contexto, constato, com prazer, a presença, em meio de vocês, de Bispos de todas as veneráveis Igrejas orientais em comunhão com o Sucessor de Pedro: saúdo-os com alegria especial. Queridos irmãos, peço-lhes que assegurem às suas comunidades meu carinho profundo e orações incessantes, seja por elas como para os muitos irmãos e irmãs que permaneceram em suas terras de origem. Sua presença neste País é memória do testemunho corajoso por Cristo de tantos membros de suas comunidades, freqüentemente em meio a sofrimentos, nas próprias Pátrias. Isto é também um grande enriquecimento para a vida eclesial na América, pois oferece uma viva expressão da catolicidade da Igreja e da variedade de suas tradições litúrgicas e espirituais.
É neste fértil solo, nutrido por tão numerosas e diferentes fontes que vocês, Irmãos no Episcopado, são chamados hoje a espalhar a semente do Evangelho. Isto me leva a perguntar-me como, no século XXI, um Bispo possa cumprir melhor o seu chamado “a fazer novas todas as coisas em Cristo, nossa esperança?” Como ele pode conduzir seu povo “ao encontro de Deus vivo”, fonte de esperança que transforma a vida, de que fala o Evangelho? (cfr Spe salvi, 4). Talvez ele precise abater, antes de tudo, algumas barreiras que impedem este encontro. Embora seja verdade que este País se distingue por um genuíno espírito religioso, a sutil influência do secularismo pode, todavia, marcar o modo com o qual as pessoas permitem que a fé influencie seus comportamentos. É, talvez, coerente, professar a nossa fé aos domingos, e depois, durante a semana, promover práticas de negócios ou procedimentos médicos contrários a esta fé? É talvez coerente que os católicos praticantes ignorem ou explorem os pobres e marginalizados, promovam comportamentos sexuais contrários ao ensinamento moral católico, ou adotem posições que contradigam o direito à vida de todo ser humano, desde a concepção até a morte natural? É preciso resistir a todas as tendências a considerar a religião como um fato privado. Somente quando a fé permeia todo aspecto da vida, os cristãos se tornam realmente abertos ao poder transformador do Evangelho.
Para uma sociedade rica, outro obstáculo ao encontro com Deus vivo é a sutil influência do materialismo, que, infelizmente, pode facilmente concentrar a atenção no “cem vezes isso”, prometido por Deus nesta vida, à custa da vida eterna que ele promete para o tempo que virá. As pessoas precisam hoje ser recordadas sobre o objetivo final da existência. Precisam reconhecer que dentro delas, existe uma sede profunda de Deus. Precisam ter a oportunidade de se nutrir no poço de seu amor infinito. É fácil se seduzir pelas possibilidades quase ilimitadas que a ciência e a técnica nos oferecem. É fácil cometer o erro de pensar em poder obter, com os nossos próprios esforços, a realização de nossas necessidades mais profundas. Isto é uma ilusão. Sem Deus, que nos doa aquilo que não podemos obter sozinhos, (cfr Spe salvi, 31), nossas vidas ficam definitivamente vazias. As pessoas precisam ser continuamente convidadas a cultivar uma relação com Ele, que veio para que tenhamos vida em abundância. O objetivo de todas as nossas atividades pastorais e catequéticas, o alvo de nossa pregação, o próprio centro de nosso ministério sacramental deve ser ajudar as pessoas a estabelecer e alimentar uma relação semelhante, vital, com “Jesus Cristo, nossa esperança”.
Em uma sociedade que dá muito valor à liberdade pessoal e á autonomia, é fácil perder de vista a nossa dependência dos outros, assim como a responsabilidade que temos para com eles. Esta acentuação do individualismo influenciou até mesmo a Igreja (cfr Spe salvi, 13-15), dando origem a uma forma de piedade que por vezes ressalta a nossa relação pessoal com Deus, em detrimento do chamado a sermos membros de uma comunidade redimida. Desde o início, Deus viu que “não é um bem que o homem seja só”. Fomos criados como seres sociais, que s realizam somente no amor a Deus e ao próximo. Se quisermos manter fixo nosso olhar a Ele, fonte de nossa alegria, devemos fazê-lo como membros do Povo de Deus (cfr Spe salvi, 14). Se isso parecesse ir contra a cultura atual, seria simplesmente mais uma prova da necessidade urgente de uma nova evangelização da cultura.
Aqui nos EUA, vocês são abençoados com um laicato católico de variedade cultural notável, que coloca seus múltiplos dons a serviço da Igreja e da sociedade, em geral. Ele olha a vocês para receber encorajamento, orientações e rumos. Em uma época saturada de informações, a importância de oferecer uma sólida formação de fé não deve ser subestimada. Os católicos americanos reservaram por tradição um grande valor à educação religiosa, seja nas escolas, seja nos programas de formação para os adultos: é preciso mantê-los e expandi-los.
Os numerosos homens e mulheres que se dedicam generosamente às obras de caridade devem ser ajudados a renovar seu empenho mediante a “formação do coração”: um “encontro com Deus em Cristo que suscite neles o amor e abra sua alma aos outros” (Deus caritas est, 31). Em uma época em que os progressos das ciências médicas trazem novas esperanças a muitos, podem surgir desafios éticos antes inimagináveis. Isto torna mais importante do que nunca assegurar uma sólida formação dos ensinamentos morais da Igreja aos católicos empenhados na esfera da saúde. Um guia sábio é necessário em todos esses campos de apostolado, para que possam oferecer frutos abundantes. Se eles querem realmente promover o bem integral da pessoa, devem eles mesmos se tornar novos em Cristo nossa esperança.
Como anunciadores do Evangelho e guias da comunidade católica, vocês são chamados também a participar do intercâmbio de idéias na pública arena, para ajudar a modelar comportamentos culturais adequados. Em um contexto em que a liberdade de palavra é apreciada e um debate robusto e honesto é encorajado, a voz de vocês é respeitada, e muito pode oferecer à discussão sobre questões sociais e morais da atualidade. Ao fazer de modo que o Evangelho seja ouvido claramente, vocês não só formam as pessoas de sua comunidade, mas, no âmbito da mais vasta platéia da comunicação de massa, ajudam a difundir a mensagem da esperança cristã em todo o mundo.
A influência da Igreja no debate público, é claro, se efetua em muitos níveis diferentes. Nos Estados Unidos, como em outros lugares, existem atualmente muitas leis já em vigor ou em discussão que suscitam preocupação do ponto de vista da moralidade e a comunidade católica, sob seu guia, deve oferecer um testemunho claro e unitário sobre tais matérias. Ainda mais importante, todavia, é a abertura gradual das mentes e dos corações da comunidade mais ampla à verdade moral: aqui ainda há muito por fazer. Neste âmbito, é crucial o papel dos fiéis leigos em agir como “fermento” na sociedade. Todavia, não se deve dar como óbvio que todos os cidadãos católicos pensem segundo o ensinamento da Igreja acerca das questões éticas fundamentais de hoje. Mais uma vez, é dever de vocês fazer de modo que a formação moral oferecida em todos os níveis da vida eclesial reflita o autêntico ensinamento do Evangelho da vida. A propósito, um argumento de profunda preocupação para todos nós é a situação da família dentro da sociedade. É verdade: o Cardeal George primeiramente recordou como vocês colocaram o fortalecimento do matrimônio e da vida familiar entre as prioridades de sua atenção nos próximos anos. Na mensagem deste ano para o Dia Mundial da Paz, falei da contribuição essencial que uma vida familiar saudável oferece à paz dentro e entre as nações. Na casa da família experimentamos “algumas componentes fundamentais da paz: a justiça e o amor entre irmãos e irmãs, a função da autoridade manifestada pelos pais, o serviço carinhoso aos membros mais débeis porque pequenos, doentes ou idosos, a mútua ajuda nas necessidades da vida, a disponibilidade para acolher o outro e, se necessário, perdoar-lhe” (n.3). Além disso, a família é local primário da evangelização, na transmissão da fé, no ajudar os jovens a apreciar a importância da prática religiosa e do respeito do domingo. Como não permanecer desconcertados ao observar o rápido declínio da família como elemento basilar da Igreja e da sociedade? O divórcio e a infidelidade estão aumentando, e muitos jovens homens e mulheres escolhem adiar o matrimônio ou até mesmo ignorá-lo completamente. Para alguns jovens católicos, o vínculo sacramental do matrimônio aparece escassamente distinguível de um laço civil, ou é visto até mesmo como um simples acordo para viver com outra pessoa de modo informal e sem estabilidade. Como conseqüência, se vê um alarmante decréscimo de matrimônios católicos nos Estados Unidos junto a um aumento de coabitações, nas quais o recíproco doar-se dos esposos à maneira de Cristo, mediante o sigilo de uma promessa pública de viver as exigências de um compromisso indissolúvel para toda a existência, está simplesmente ausente. Em tais circunstâncias, é negado aos filhos o ambiente seguro do qual necessitam para crescer como seres humanos, e são também negados à sociedade aqueles estáveis pilares que são necessários se se deseja manter a coesão e o centro moral da comunidade.
Como o meu predecessor o Papa João Paulo II ensinava, “o primeiro responsável da pastoral familiar na Diocese é o Bispo… ele deve aliar interesse, solicitude, tempo, pessoas, recursos; sobretudo, porém, apoio pessoas às famílias e àqueles…. que o ajudam na pastoral da família” (Familiaris consortio, 73). É tarefa de vocês proclamar com força os argumentos de fé e razão que falam da instituição do matrimônio, entendido como compromisso para a vida entre um homem e uma mulher, aberto à transmissão da vida. Tal mensagem deveria ressoar diante das pessoas de hoje, porque é essencialmente um “sim” incondicionado e sem reservas à vida, um “sim” ao amor e um “sim” às aspirações do coração da nossa comum humanidade, enquanto nos esforçamos de realizar o nosso profundo desejo de intimidade com os outros e com o Senhor.
Entre os sinais contrários ao Evangelho da vida que se podem encontrar na América, mas também em outros lugares, há um que causa profunda vergonha: o abuso sexual dos menores. Muitos de vocês me falaram da enorme dor que suas comunidades sofreram quando homens da Igreja traíram suas obrigações e tarefas sacerdotais com semelhante comportamento gravemente imoral. Enquanto vocês buscam eliminar este mal onde quer aconteça, estejam certos do apoio de oração do Povo de Deus em todo o mundo. Justamente, vocês dão prioridade à manifestação de compaixão e suporte às vítimas: é responsabilidade que vem de Deus, como Pastores, curar as feridas causadas a cada violação da confiança. De favorecer a cura, de promover a reconciliação e de se aproximar com tenra preocupação de quem foi assim seriamente prejudicado.
Responder a uma situação assim não foi fácil, e, como indicado pelo Presidente de sua Conferência Episcopal, “algumas vezes foi administrada de modo péssimo”. Agora, que a dimensão e a gravidade do problema estão mais claros, vocês puderam adotar medidas de remédio e disciplinares mais adequadas, e promover um ambiente seguro, que oferece mais proteção aos jovens. Enquanto devemos recordar que a grande maioria dos sacerdotes e dos religiosos na América desempenham uma excelente obra, ao levar a mensagem libertadora do Evangelho às pessoas confiadas a seu cuidado e atenção pastoral, é de importância vital que os sujeitos vulneráveis sejam sempre protegidos daqueles que podem causar feridas. A este respeito, os seus esforços para aliviar e proteger estão produzindo grandes frutos, não apenas naqueles que estão diretamente sob seus cuidados pastorais, mas em toda a sociedade.
Se quisermos que alcancem seu pleno objetivo, todavia, é preciso que as medidas e estratégias adotadas pelos senhores sejam inseridas em um contexto mais amplo. As crianças têm o direito de crescer com uma saudável compreensão da sexualidade e o papel que lhes cabe nos relacionamentos humanos. A eles devem ser poupadas manifestações degradantes e a vulgar manipulação da sexualidade, tão comum hoje em dia. Elas têm o direito de ser educadas nos autênticos valores morais enraizados na pessoa humana. Isto nos propõe uma consideração sobre a centralidade da família e a necessidade de promover o Evangelho da vida. O que significa falar de proteção das crianças quando a pornografia e a violência podem ser vistas em tantas casas através dos meios de comunicação, amplamente disponíveis hoje? Devemos reafirmar, com urgência, os valores que sustentam a sociedade, a fim de oferecer aos jovens e aos adultos uma sólida formação moral. Todos têm um papel a desempenhar nesta tarefa, não apenas os pais, os orientadores religiosos, os professores e os catequistas, mas também a informação e a indústria do entretenimento. Sim, todo membro da sociedade pode contribuir nesta renovação moral e receber benefícios dela. Cuidar realmente dos jovens e do futuro de nossa civilização significa reconhecer nossa responsabilidade de promover e viver os únicos valores morais autênticos que tornam a pessoa humana capaz de prosperar. É sua tarefa de pastores que têm como modelo Cristo, Bom pastor, proclamar, de modo forte e claro esta mensagem e enfrentar, portanto, o pecado do abuso no contexto mais amplo dos comportamentos sexuais. Além disso, ao reconhecer o problema e enfrentá-lo, quando se verifica num contexto eclesial, vocês podem oferecer uma orientação aos outros, pois esta chaga não se encontra somente em suas Dioceses, mas em todos os setores da sociedade. Ela exige uma resposta determinada e coletiva.
Os sacerdotes também precisam de sua orientação e sua proximidade durante este tempo difícil. Eles experimentaram a vergonha por aquilo que aconteceu e muitos deles sentem ter perdido parte da confiança que recebiam antes. Não poucos deles se sentem ainda mais próximos de Cristo em sua Paixão, enquanto se esforçam em enfrentar as conseqüências da atual crise. O Bispo, como pai, irmão e amigo de seus sacerdotes, pode lhes ajudar a ter proveitos espirituais desta união com Cristo, conscientizando-os da consoladora presença do Senhor em meio a seus sofrimentos, e encorajando-os a caminhar com o Senhor no caminho da esperança. (cfr Spe salvi, 39). Como observou o Papa João Paulo II seis anos atrás, “devemos ter confiança de que este tempo de provações levará a uma purificação de toda a comunidade católica”, que conduzirá a “um sacerdócio mais santo, a um episcopado mais santo e a uma Igreja mais santa” (Mensagem aos Cardeais dos Estados Unidos, 23 de abril de 2002, 4). Existem muitos sinais de que, na fase sucessiva, tal purificação existiu realmente. A constante presença de Cristo em meio a nossos sofrimentos está gradualmente transformando nossas trevas em luz: todas as coisas são renovadas realmente em Cristo Jesus, nossa esperança.
Neste momento, parte vital de nossa tarefa é reforçar o relacionamento com seus sacerdotes, especialmente nos casos em que houve tensões entre padres e Bispos, em conseqüência da crise. É importante que continuem a demonstrar-lhes sua preocupação, seu apoio e sua orientação, com o exemplo. Assim, certamente ajudarão a encontrar Deus vivo, e os orientarão rumo àquela esperança que transforma a existência de que o Evangelho fala. Se vocês mesmos viverem em um modo estritamente conforme a Cristo, Bom Pastor, que deu a vida por seus cordeiros, os senhores inspirarão seus irmãos sacerdotes a dedicarem-se novamente ao serviço do rebanho com a generosidade que caracterizou Cristo. Na verdade, se quisermos seguir adiante, é preciso concentrar-se mais claramente na imitação de Cristo na santidade de vida. Devemos redescobrir a alegria de viver uma existência centralizada em Cristo, cultivando as virtudes e imergindo-se na oração. Quando os fiéis sabem que seu pastor é um homem que reza e dedica a própria vida a seu serviço, respondem com o calor e com o afeto que nutre e sustenta a vida de toda a comunidade.
O tempo passado na oração nunca é jogado fora, por mais importantes que sejam os outros deveres. A adoração de Cristo nosso Senhor no Santíssimo Sacramento prolonga e intensifica aquela união a Ele que se constitui mediante a Celebração eucarística (cfr Sacramentum caritatis, 66). A contemplação dos mistérios do Terço emite toda a sua força salvífica conformando-nos, unindo-nos e consagrando-nos a Jesus Cristo (cfr Rosarium Virginis Mariae, 11.15). A fidelidade à Liturgia das Horas assegura que todo o nosso dia seja santificado, recordando-nos continuamente a necessidade de nos concentrarmos na realização da obra de Deus, não obstante todas as urgências e as eventuais distrações em relação aos deveres a cumprir. Desta forma, a devoção nos ajuda a falar e a agir in persona Christi, a ensinar, governar e santificar os fiéis em nome de Jesus, levando a sua reconciliação, a sua cura e o seu amor a todos os seus amados irmãos e irmãs. Esta configuração radical a Cristo Bom Pastor está no centro de nosso ministério pastoral e se abrirmos nós mesmos, mediante a oração, à força do Espírito, Ele nos concederá os dons de que precisamos para realizar o nosso formidável dever, tanto que não devemos jamais nos preocupar “sobre como e do que falar” (Mt 10,19).
Ao concluir este meu discurso a vocês, esta noite, confio de modo especial a Igreja que está em seu País à materna solicitude e à intercessão de Maria Imaculada, Padroeira dos Estados Unidos. Que ela, que levou em seu próprio ventre a esperança de todas as Nações, possa interceder pelo povo desta Nação, a fim de que todos se renovem em Cristo Jesus, seu Filho. Queridos irmãos Bispos, asseguro a cada um dos senhores, aqui presentes, a minha profunda amizade e participação em suas preocupações pastorais. A vocês todos, ao clero, aos religiosos e aos fiéis leigos, concedo cordialmente a Benção Apostólica, repleto de alegria e de paz em Cristo Ressuscitado.