Queridos amigos!
Viestes em grande número e estais aqui muitos mais unidos espiritualmente para encontrar o Sucessor de Pedro e, comigo, proclamar a todos a alegria de acreditar em Jesus Cristo e renovar o compromisso de ser seus discípulos fiéis neste nosso tempo. Semelhante encontro ocorreu nesta mesma cidade, a 7 de junho de 1992, com o amado Papa João Paulo II. Com as feições um pouco diferentes mas o mesmo amor no coração, aqui tendes o atual Sucessor de Pedro, que vos abraça em Jesus Cristo, que “é o mesmo ontem, hoje e para sempre” (Hb 13, 8).
Antes de tudo, quero agradecer-vos por esta festa que me fazeis, por esta festa que sois, pela vossa presença e a vossa alegria. Dirijo uma saudação afetuosa aos venerados irmãos no Episcopado e no Sacerdócio e aos vossos animadores. De coração, agradeço e saúdo àqueles que prepararam este encontro e, de modo particular, à Comissão Episcopal da Juventude e Vocações, com o seu presidente, Dom Kanda Almeida, a quem agradeço as cordiais boas-vindas que me dirigiu. Saúdo todos os jovens, católicos e não católicos, à procura de uma resposta para os seus problemas, alguns dos quais certamente referidos pelos vossos representantes cujas palavras ouvi com gratidão. O abraço que lhes dei vale naturalmente para todos vós.
Encontrar os jovens faz bem a todos! Talvez tenham tantas dificuldades, mas trazem consigo tanta esperança, tanto entusiasmo e tanta vontade de recomeçar. Jovens amigos, guardais dentro de vós próprios a dinâmica do futuro. Convido-vos a olhá-lo com os olhos do apóstolo João: “Vi um novo céu e uma nova terra (…) e também a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, da presença de Deus, bela como noiva adornada para o seu esposo. E do trono ouvi uma voz forte que dizia: “Eis a morada de Deus com os homens” (Ap 21, 1-3). Queridos amigos, Deus faz a diferença. Desde a serena intimidade entre Deus e o casal humano no jardim do Éden, passando pela glória divina que irradiava da Tenda da Reunião no meio do povo de Israel ao longo da sua travessia pelo deserto, até à encarnação do Filho de Deus que se uniu indissoluvelmente ao homem em Jesus Cristo. Este mesmo Jesus retoma a travessia do deserto humano, passando pela morte e chega à Ressurreição, arrastando consigo toda a humanidade para Deus. Agora Jesus já não está confinado num espaço e tempo determinados, mas o seu Espírito – o Espírito Santo – emana d’Ele e entra nos nossos corações, unindo-nos assim com o próprio Jesus e com Ele ao Pai – com o Deus uno e trino.
Sim, meus caros amigos! Deus faz a diferença. Mais ainda: Deus nos faz diferentes, nos faz novos. Tal é a promessa que Ele mesmo nos faz: “Vou renovar todas as coisas” (Ap 21, 5). E é verdade! Quem nos diz é o apóstolo São Paulo: “Se alguém está em Cristo, é uma nova criatura. Passou o que era velho, eis que tudo se fez novo. Tudo isto vem de Deus, que por meio de Jesus Cristo nos reconciliou consigo” (2 Cor 5, 17-18). Tendo subido aos céus e entrado na eternidade, Jesus Cristo ficou Senhor de todos os tempos. Por isso, Ele pode se fazer nosso companheiro no presente, e tem o livro dos nossos dias na sua mão: nela segura firmemente o passado, com as fontes e os alicerces do nosso ser; nela guarda ansiosamente o futuro, nos deixando vislumbrar a mais bela alvorada de toda a nossa vida que d’Ele irradia, ou seja, a ressurreição em Deus. O futuro da nova humanidade é Deus. Antecipação inicial disso mesmo é a sua Igreja. Quando puderdes, lede com atenção a sua história: vos darei conta de que a Igreja, com o passar dos anos, não envelhece; antes, torna-se cada vez mais jovem, porque caminha ao encontro do Senhor, aproximando-se cada vez mais, da única e verdadeira fonte donde brota a juventude, a novidade, a regeneração, a força da vida.
Amigos que me escutais, o futuro é Deus. Como há pouco ouvimos, “Ele enxugará todas as lágrimas dos olhos; nunca mais haverá morte, nem luto, nem gemidos, nem dor, porque o mundo antigo desapareceu” (Ap 21, 4). Entretanto, vejo aqui presentes alguns dos milhares de jovens angolanos mutilados em consequência da guerra e das minas, penso nas muitas lágrimas que muitos de vós derramaram pela perda dos familiares, e não é difícil imaginar as nuvens cinzentas que ainda cobrem o céu dos vossos sonhos melhores… E leio no vosso coração uma dúvida, que me lançais: “Isto temos. Aquilo que nos diz, não se vê. A promessa tem a garantia divina – e nós o cremos – mas Deus, quando se levantará para renovar todas as coisas?”. A resposta de Jesus é a mesma que Ele deu aos seus discípulos: “Não se perturbe o vosso coração. Se acreditais em Deus, acreditai também em Mim. Em casa de meu Pai, há muitas moradas. Se assim não fosse, Eu vos teria dito, pois irei vos preparar um lugar” (Jo 14, 1-2). Mas vós, queridos jovens, insistis: “De acordo! Mas quando sucederá isto?” A idêntica pergunta feita pelos apóstolos, Jesus respondeu: “Não vos compete saber os tempos nem os momentos que o Pai fixou com a sua autoridade. Mas ides receber uma força, a do Espírito Santo, que descerá sobre vós e sereis minhas testemunhas (…) até aos confins do mundo” (At 1, 7-8). Reparai que Jesus não nos deixa sem resposta; diz-nos claramente uma coisa: a renovação começa dentro, sereis dotados de uma força do Alto. A força dinâmica do futuro está dentro de vós.
Está dentro… como? Como a vida está dentro de uma semente: assim o explicou Jesus, numa hora crítica do seu ministério. Este começara com grande entusiasmo, pois a gente via os doentes curados, os demônios expulsos, o Evangelho anunciado; mas, quanto ao resto, o mundo continuava como antes: os romanos dominavam ainda; a vida era difícil no dia a dia, apesar desses sinais, dessas lindas palavras. E o entusiasmo foi esmorecendo, a ponto de muitos discípulos abandonarem o Mestre (cf. Jo 6, 66), que pregava, mas não mudava o mundo. E todos se interrogavam: Afinal que vale esta mensagem? Que traz este Profeta de Deus? Então Jesus falou de um semeador que semeia no campo do mundo, explicando que a semente é a sua Palavra (cf. Mc 4, 3-20), são as curas realizadas: verdadeiramente pouca coisa, se comparada com as enormes carências e “macas” (dificuldades) da realidade de todos os dias. E, todavia, na semente está presente o futuro, porque a semente traz em si o pão de amanhã, a vida de amanhã. A semente parece quase nada, mas é a presença do futuro, é promessa já presente hoje; quando cai em terra boa, frutifica trinta, sessenta e até cem vezes mais.
Meus amigos, vós sois uma semente lançada por Deus à terra, que traz no coração uma força do Alto, a força do Espírito Santo. Mas, para passar da promessa de vida ao fruto, o único caminho possível é dar a vida por amor, é morrer por amor. Foi o próprio Jesus que o disse: “Se a semente, caindo na terra, não morrer, fica ela só; mas, se morrer, dá muito fruto. Quem ama a sua vida, perdê-la-á; e quem neste mundo perde a sua vida, conservá-la-á para a vida eterna” (cf. Jo 12, 24-25). Assim falou Jesus, e assim o fez: a sua crucifixão parece o falimento total, mas não! Jesus, animado pela força de “um Espírito eterno, ofereceu-Se a Si mesmo a Deus como vítima sem mancha” (Hb 9, 14). E deste modo, caindo em terra, Ele pôde dar fruto o tempo todo e em todos os tempos. E aí tendes o novo Pão, o Pão da vida futura, a Santíssima Eucaristia que nos alimenta e faz desabrochar a vida trinitária no coração dos homens.
Jovens amigos, sementes dotadas com a força do mesmo Espírito eterno, desabrochai ao calor da Eucaristia, onde se realiza o testamento do Senhor: Ele se dá a nós, e nós respondemos nos dando aos outros por amor d’Ele. Tal é o caminho da vida; mas só o podereis percorrer graças a um constante diálogo com o Senhor e um verdadeiro diálogo entre vós. A cultura social predominante não vos ajuda a viver nem a Palavra de Jesus nem o dom de vós mesmos a que Ele vos convida segundo o desígnio do Pai. Queridos amigos, a força está dentro de vós, como o estava em Jesus que dizia: “O Pai que está em mim, é que faz as obras. (…) Aquele que acredita em mim fará também as obras que Eu faço; e fará obras maiores do que estas, porque Eu vou para o meu Pai” (Jo 14, 10.12). Por isso, não tenhais medo de tomar decisões definitivas. Generosidade não vos falta, eu sei! Mas, perante o risco de se comprometer para uma vida inteira quer no matrimônio quer numa vida de especial consagração, sentis medo: “O mundo vive em contínuo movimento e a vida está cheia de possibilidades. Poderei eu dispor agora da minha vida inteira, ignorando os imprevistos que me reserva? Não será que eu, com uma decisão definitiva, jogo a minha liberdade e me prendo com as minhas próprias mãos?” Tais são as dúvidas que vos assaltam e que a atual cultura individualista e hedonista aviva. Mas quando o jovem não se decide, corre o risco de ficar uma eterna criança!
Eu vos digo: Coragem! Ousai decisões definitivas, porque na verdade são as únicas que não destroem a liberdade, mas lhe criam a justa direção, possibilitando seguir em frente e alcançar algo de grande na vida. Sem dúvida, a vida só pode valer, se tiverdes a coragem da aventura, a confiança de que o Senhor nunca vos deixará sozinhos. Juventude angolana, liberta dentro de ti o Espírito Santo, a força do Alto! Confiado nela, como Jesus, arrisca este salto, por assim dizer, no definitivo e, com isso, dá uma possibilidade à vida! Assim serão criadas entre vós, ilhas, oásis e depois grandes superfícies de cultura cristã, onde se tornará visível aquela “cidade santa que desce do céu, da presença de Deus, bela como noiva adornada para o seu esposo”. Tal é a vida que vale a pena ser vivida e que de coração vos desejo. Viva a juventude de Angola!
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