Fiéis falam da admiração e devoção pelo Papa João Paulo II; Igreja celebra, nesta segunda-feira, 18, cem anos do nascimento do santo
Julia Beck
Da redação
Cem anos do nascimento de São João Paulo II. Esta é a data celebrada pela Igreja nesta segunda-feira, 18, e que foi recordada pelo Papa Francisco na missa celebrada nesta manhã, na capela do túmulo de São João Paulo II, no Vaticano. As comemorações, que foram iniciadas em outubro passado, revelam o significado deste santo que continua cativando devotos mesmo após 15 anos de sua morte.
Papa mariano, da juventude, do perdão e da paz. Esses são alguns adjetivos atribuídos a São João Paulo II, que ocupou a cátedra de São Pedro durante quase 27 anos – entre os anos de 1978 e 2005. A advogada Maria Clara do Nascimento, 23 anos, conta que conheceu o santo em um trabalho de escola, quando ele já havia morrido. “A professora nos pediu para fazer um trabalho que retratasse sua vida e a importância dele para o mundo”, recordou.
A devoção tornou-se ainda mais forte quando Maria Clara foi presenteada, no dia em que fez seu ato de consagração a Nossa Senhora, com uma medalha de madeira de São João Paulo II. “Atrás estava uma dedicatória e aquilo me marcou”. Desde então, a advogada recorre ao santo antes de tomar importantes decisões.
“Foi um ser humano completo. Soube viver no mundo sem ser do mundo. Soube conversar e administrar com harmonia e humanidade uma igreja que vivia em crise”.
A advogada destaca que São João Paulo II representa aquilo que todo jovem busca: um sentido para a vida. “São João Paulo II consegue, através de seus ensinamentos, sorrisos e de sua própria vida, mostrar que a igreja acolhe muito mais que julga. Que a alegria e a vivacidade são dons que os jovens precisam espalhar pelo mundo”.
A busca incansável pela paz, apontada por Maria Clara como um forte testemunho de vida do santo, é também para o jogador de futebol de 18 anos, João Gabriel Maria Latini, um marco na vida de São João Paulo II. “Ele é um dos maiores santos da história da Igreja Católica. Pescador de jovens, e mensageiro da Paz”. O jovem reafirmou sua admiração pela oposição às guerras, tanto defendida pelo santo, além de seu incentivo ao diálogo e ao amor.
O amor pela Virgem Maria também foi elencado por João Gabriel como um testemunho da vida de São João Paulo II que cativou muitos com seu espírito “jovem”. “Ele era um santo de calça jeans, um atleta e fã de futebol assim como eu”.
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E foi realizando uma de suas atividades de lazer preferidas que o editor de vídeos de 27 anos, Eduardo José Nogueira, conheceu a história do santo. “Li toda história dele e me apaixonei pelo seu jeito”. Nogueira frisa que o atentado sofrido pelo Papa João Paulo II em 13 de maio de 1981, é uma das situações que mais o marcou quando leu sobre sua biografia. “Ele sobreviveu por interseção de Nossa Senhora. Neste ponto percebi o quão devoto da Virgem Maria ele era”.
O editor de vídeo classifica o santo como um exemplo para a juventude e reforça que um de seus ensinamentos mais significativos é sobre a família. “Ensinou-me que a família é o pilar da sociedade”.
Para a produtora Marcelle Coimbra Girolamy, de 28 anos, São João Paulo II é o Papa da sua infância e o santo de sua juventude. “Sempre tive um carinho e amor especial por São João Paulo II, desde quando ele era Papa. O fato de seu papado ter acontecido durante a minha infância, ou seja, eu ter vivido esse momento e crescido com sua imagem e ensinamentos, marcou minhas lembranças e me fez tê-lo como alguém de extremo respeito e admiração. Então, o carinho foi desde sempre, mas a devoção veio esse ano”, contou.
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A jovem afirma que resolveu se aprofundar na vida do santo após realizar um teste católico na internet sobre santos amigos da juventude. “No meu coração eu já tinha a vontade de me aproximar mais sobre ele e isso foi uma confirmação”. Ao encontrar mais jovens devotos de São João Paulo II, Marcelle destacou: “Acho isso lindo. A imagem que temos dele é de alguém que transmite paz”.
O perdão é para Marcelle um dos maiores ensinamentos do santo, assim como a devoção a Nossa Senhora. “A atitude dele em perdoar alguém que tentou tirar sua própria vida é algo grande demais e que precisamos ter como exemplo fiel a ser seguido. Quando perdoamos, libertamos não só a pessoa, mas principalmente nós mesmos do veneno do ódio e do rancor. E se somos livres, somos felizes”.
Exemplo de sacerdócio
O Vigário Paroquial da Catedral de São Francisco Xavier em Itaguaí (RJ), Padre Wagner Emídio de Souza, define São João Paulo II como um homem que se fez ver e ouvir por todos os povos.
“Ele foi uma verdadeira explosão da maravilha do Evangelho para o mundo, enquanto durou seu pontificado. O Papa da poesia, da sensibilidade e de uma invejável disposição (…). Foi o Papa da Juventude!”.
Padre Wagner Souza
O sacerdote relata que sua história com São João Paulo II iniciou no dia da morte do santo. Ativo em sua comunidade paroquial desde muito novo, o sacerdote conta que participou da missa dedicada à memória do Papa. “Lembro que no altar estava a foto do Papa e a bandeira do Vaticano”.
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“Na homilia, o padre destacou que João Paulo II havia sido o Papa mais mariano, empenhado pela juventude e que mais viajou pelo mundo, em toda a história. Saí dali curioso, maravilhado e comecei a pesquisar em jornais, revistas e todos os impressos possíveis sobre a sua morte. (…) Depois, pesquisas na internet, livros, filmes e leitura dos documentos publicados por ele foram a maneira pela qual nos tornamos amigos. No Seminário e hoje no ministério, eu o tenho como fonte de inspiração e força de capacitação”.
Os fatos que mais chamam atenção do padre sobre a vida de São João Paulo II são a celebração do grande Jubileu dos 2000 anos do nascimento de Cristo, a abertura da Porta Santa e o pedido de perdão pelos erros cometidos pela Igreja ao longo dos séculos. “Isto me fez ver a grandeza de sua alma e a sua sensibilidade de pastor”. Os últimos momentos da vida do santo também foram destacados por padre Wagner.
“Um testemunho de santidade que jamais se apagará da história”.
Padre Wagner Souza
Por fim, o sacerdote comentou sobre pontos da história do santo que o fazem próximo da sua: “Eu sempre gostei de me comunicar e estar diante do público, ele era ator. Sou um grande devoto de Nossa Senhora e ele profundamente mariano… Lutou e sofreu muito para conseguir a ordenação, chegando até a estudar em um seminário clandestino. Eu, embora não tenha vivido a mesma experiência, passei também por experiências muito desafiadoras. Mas acredito que o mais forte de tudo e que me ajudou no discernimento vocacional foi quando descobri que quando ele decidiu ser padre era órfão de pai e mãe. De igual maneira, quando me ordenei sacerdote, meus pais já haviam falecido”.
Conhecendo um santo
Os missionários da Comunidade Canção Nova, Márcia Regina Corrêa e Rodrigo Luiz dos Santos, compartilham, além da missão, de uma mesma experiência: conheceram o Papa João Paulo II. A missionária de 56 anos comenta que seu encontro com o santo aconteceu em 2005, quando foi até Roma para realizar um curso de formadores. Márcia conta que recebeu um convite para participar da Audiência Geral do Papa e foi quando o conheceu pessoalmente.
“Na presença do Papa tive a oportunidade de dizer: ‘Papa, somos da Canção Nova, do Brasil!’. Ele respondeu: ‘Buono, não não, BOM, BOM!’. Foi um momento inesquecível! Fiquei tão extasiada que o segurança do Papa me tocou no ombro para me levantar, pois nem conseguia sair do lugar!”.
Márcia Côrrea, missionária da Comunidade Canção Nova
Para a missionária, o amor de São João Paulo II pela juventude, sua disposição e facilidade de dialogar com todos foram bons exemplos deixados para todas as gerações.
Enviado para Roma em 2002, quando tinha 20 anos, o jornalista Rodrigo – hoje com 38 anos, revela que nunca imaginava que conheceria um Papa. Logo que chegou em Roma, recebeu a notícia que visitaria o Papa por intermédio de um bispo local. “Não acreditei. Foi emocionante, na hora eu não sabia o que dizer”.
Rodrigo conta que duas pessoas se encontraram com o santo antes e, ao se apresentarem, contaram que eram do Brasil e pertenciam à Canção Nova. Quando foi sua vez, Rodrigo conta que o Papa perguntou se ele também era missionário da Canção Nova. “Ele me identificou na minha vocação”.
Rodrigo esteve com São João Paulo II em quatro ocasiões e chegou a trabalhar no Vaticano. Ao observar o Papa, o missionário conta que aprendeu a rezar com ele, passou a admirar seu bom humor, resistência, força, superação e perseverança. Um dos momentos marcantes de sua estadia em Roma foi o velório de João Paulo II. Rodrigo realizou a cobertura jornalística do momento e destaca a multidão que se fez presente no adeus ao santo e o respeito de grandes líderes mundiais que compareceram ao Vaticano para prestar homenagens ao Papa.
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“O mundo nunca mais foi o mesmo depois de São João Paulo II. (…) Ele marcou a história. (…) Ele é um exemplo de vida, é alguém que não desanimou nunca e seguiu em frente. Uma frase que ouvi dele é: ‘Jovens vós sois a esperança da Igreja, vós sois a minha esperança’. Naquele momento senti ele falando para mim, que eu era para ele a esperança da Igreja”, concluiu Rodrigo.