No dia internacional da mulher, psicóloga e advogada destacam a importância da sociedade na proteção à mulher
Julia Beck
Da redação
“A sociedade precisa se comprometer: é um problema de todos”. A frase é da psicóloga e coordenadora do curso de psicologia do Centro Universitário Salesiano de São Paulo (Unisal) – localizado em Lorena, Ana Carlota Pinto Teixeira. Carlota alertou no dia internacional da mulher, comemorado nesta quinta-feira, 6, da importância de encarar a violência contra a mulher como um problema social generalizado.
A violência contra a mulher é caracterizada pela psicóloga como qualquer ato que cause ou tenha a probabilidade de causar dano físico, sexual e psicológico, proveniente de sofrimento, ameaças, coerção e privação da liberdade. Comumente praticado de forma privada, a violência causa, segundo Carlota, consequências psicológicas, médicas e sociais, capazes de prejudicar a autoimagem da mulher e despertar sentimentos de humilhação, severos transtornos psíquicos — como depressão e ansiedade —, além de transtornos alimentares, distúrbios sexuais e de humor, abuso de substâncias e prejuízo à qualidade de vida.
A realidade desse tipo de violência é, de acordo com a advogada do Núcleo de Prática Jurídica do Unisal, Fábia Maruco, muito presente na dimensão familiar, inclusa em 80% dos casos de divórcio atendidos pela universidade. “Tudo começa com o ciclo familiar. As relações familiares na sua maioria têm origem num elo de afetividade, confiança e reciprocidade (…). Por isso, é uma violência silenciosa, na qual o agressor submete a mulher as suas próprias vontades”, comentou Fábia.
Justificar o comportamento do agressor, ser otimista quanto à mudança do companheiro e a dependência financeira são fatores que, segundo a advogada, fazem com que a mulher não denuncie a violência. Fábia sinaliza ter constatado que a violência é predominante entre mulheres das classes média e alta. “Quanto mais instruída, mais vergonha a mulher tem de expor a situação para colegas e pessoas à sua volta. Ela não quer que saibam que está passando por aquilo, porque para ela, é vergonhoso”, relata.
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Cultura e sociedade
De acordo com Carlota, a mulher é vista culturalmente em um contexto social e histórico, como um ser fragilizado, limitado e subordinado, condição esta que, na construção psíquica da mulher, a torna sensível à falta de uma proteção interna atribuída, muitas vezes, à figura do homem e do marido.
“Ele é visto como quem irá protegê-la, mas muitas vezes não é assim. Também esse homem está em um contexto social e histórico que dá prejuízo à sua construção psicológica e que o condiciona como um ser que precisa usar da força para conquistar. Isso inclui suas relações afetivas. Então o homem acaba também sendo vítima dessa cultura”, afirma a psicóloga.
De acordo com Fábia, a partir dos casos de denúncia foi constatado que, na maioria dos casos, o agressor já foi vítima de violência. “A pessoa que comete essa agressão, em alguma vez na vida também foi vítima de violência. Ele quer compensar tudo isso, agredindo a companheira”, afirmou a advogada, que mesmo diante dessa realidade, reafirma a necessidade de punição.
A importância da denúncia
A violência contra a mulher ganhou destaque nas discussões nacionais após a criação de uma lei direcionada para esta realidade: a lei Maria da Penha. Segundo a advogada, essa lei surgiu após a Maria da Penha denunciar o marido por duas tentativas de homicídio. O caso foi julgado e o marido, declarado culpado, cumpriu pena mínima pelos crimes cometidos.
“A história foi levada pelo Centro de Justiça de Direito Internacional ao Comitê Latino-americano para a Defesa do Direito da Mulher, que formalizou a denúncia. O Tribunal Internacional cobrou respostas quanto à falta de punição severa do Governo Brasileiro com relação ao agressor. E, em 2001, o Brasil foi condenado a pagar indenização para Maria da Penha. Diante dessa condenação internacional, que trouxe uma imagem negativa para o país, se pensou então em criar uma lei de proteção à mulher. Começou-se a falar mais sobre violência contra ela, incutindo na sociedade uma cultura de valorização da mulher”, relatou Fábia.
A lei é eficaz, de acordo com a advogada, e tida como uma revolução jurídica diante da realidade de agressão enfrentada por milhares de mulheres. “Hoje, a mulher está respaldada em todos os seus direitos, por isso, precisa buscar proteção contra a violência”, defendeu Fábia. A advogada finalizou reafirmando que toda mulher agredida deve ser encorajada a denunciar. “Proteja-se, procure e denuncie! A lei é muito boa, mas para ter eficácia, é preciso denunciar”, finalizou.