Biografia de Padre Léo escrita por Marlon Arraes foi publicada em 2015 pela Editora Canção Nova
Denise Claro
Da redação
Neste sábado, 7, acontecerá a abertura oficial do processo de beatificação do Padre Léo, treze anos após sua morte. Ao longo deste período, a Comunidade Bethânia, fundada pelo sacerdote, recebeu vários testemunhos de graças alcançadas, conversões e curas que teriam acontecido por sua intercessão.
O autor Marlon Arraes, após vasta pesquisa sobre a vida de Padre Léo, publicou, em 2015, pela Editora Canção Nova, a biografia do sacerdote. No livro, os fatos, a história, a vocação e a missão do padre são apresentados, dando ao leitor uma maior possibilidade de conhecimento da vida deste homem de Deus.
Em entrevista, Arraes contou como conheceu Padre Léo, sua experiência com a evangelização feita pelo sacerdote, e como vê esta nova fase de possível beatificação. Leia, na íntegra, o bate-papo com o autor:
noticias.cancaonova.com – Qual era sua relação com Padre Léo? Como o conheceu?
Marlon Arraes – Na verdade, eu não conheci Padre Léo pessoalmente. Não cheguei a ir a um acampamento em Cachoeira Paulista e só o acompanhei pela TV Canção Nova mesmo. Quando eu o assisti pela primeira vez, depois de muita insistência por parte da minha sogra, fiquei chocado com o jeito de ele evangelizar com piadas.
Algum tempo depois, em 2004, eu tive a oportunidade de acompanhar um acampamento inteiro que ele pregou praticamente sozinho durante a Quaresma. Daí eu me rendi completamente porque vi que ele tinha um conteúdo extremamente rico e profundo.
Eu acho que o fato de eu não ter conhecido padre Léo pessoalmente foi extremamente importante para que eu pudesse me posicionar como um observador neutro da sua vida. Na minha opinião, isso foi uma grande vantagem. O livro inteiro é narrado por um observador externo que não tem qualquer participação na história.
noticias.cancaonova.com – Como surgiu a ideia da escrita da biografia? O que o levou a escrever esta obra?
Marlon Arraes – Em 2010, minha mãe me presenteou com aquela coletânea de pregações dele que a Canção Nova preparou. Eram sete CDs com pregações muito especiais de Padre Léo. Elas me tocaram profundamente e eu tive a curiosidade de procurar mais sobre ele na internet. Por acaso, achei um vídeo de uma entrevista que ele concedeu em 2005 para o Jô Soares… Eu fiquei impressionado com aquela entrevista. Nela ele revelou duas coisas que eu desconhecia: que tinha uma origem muito, muito humilde, e que, na adolescência, tinha sido um dependente químico.
Aquilo me impressionou muito e eu pensei que a vida dele realmente daria um filme! Eu fiquei muito interessado em procurar saber mais sobre a história dele. Como “biografia” é um gênero literário que eu gosto bastante, veio a inspiração de poder oferecer a elaboração desse livro para ajudar a propagar o legado e o exemplo de Padre Léo.
noticias.cancaonova.com – Na fase de pesquisa, o que mais o encantou, surpreendeu ou chocou?
“O Padre Léo foi um dos maiores pregadores que a Igreja Católica teve no Brasil”
Marlon Arraes
Marlon Arraes – O Padre Léo foi um dos maiores pregadores que a Igreja Católica teve no Brasil. Arrisco dizer que seu “ibope” na população brasileira e seu perfil carismático só são superados por Monsenhor Jonas Abib. Por isso, quando eu comecei a pesquisa, eu pensava que esse lado “pregador de multidões” seria o principal aspecto de sua vida e que seu trabalho na Comunidade Bethânia fosse algo importante, porém, secundário. No entanto, a pesquisa me mostrou que padre Léo na Canção Nova, pregador de multidões, é apenas a ponta do iceberg… Padre Léo é muito mais por meio da sua Comunidade e de seu trabalho em Bethânia. Foi lá que ele deu a sua maior contribuição para a Igreja, para a sociedade, para os jovens. É muito importante que as pessoas saibam que Padre Léo realizou muito mais e tem um legado muito maior do que as suas pregações. Então dá pra imaginar o quanto esta história é fascinante.
Um aspecto que me chocou na pesquisa foi constatar como foi difícil construir e levar adiante a sua obra em Bethânia. Apesar do apoio de muitas pessoas que, desde o início, acreditaram no projeto e doaram suas vidas para a Comunidade, a verdade é que do ponto de vista material foi muito difícil conseguir a ajuda necessária para manter a obra. Frequentemente, as pessoas de um modo geral apoiam e aplaudem essas iniciativas, mas na hora de se comprometerem financeiramente para ajudar, são poucos os que estendem a mão. Ou seja, mesmo com seu carisma, com seu propósito reto, ele enfrentou barreiras e preconceitos não somente na sociedade como também dentro da própria Igreja.
noticias.cancaonova.com – Como foi a escrita do livro?
Marlon Arraes – Depois que eu recebi a autorização da família e da Comunidade Bethânia, eu tive total liberdade para conduzir a pesquisa, sem prazos. Como eu tenho outra atividade profissional, eu somente dispunha do tempo livre e, por isso, demorei um pouco mais para terminar. Esta biografia demorou cerca de quatro anos para ser concluída. Pouco mais de três anos de levantamento e de sistematização das informações, de pesquisa documental e de entrevistas.
A parte de escrita propriamente durou cerca de nove meses. A pesquisa foi toda baseada em cinco pilares:
1) nos episódios contados pelo próprio Padre Léo em suas pregações, homilias, entrevistas ou narrados em seus livros;
2) nos depoimentos de pessoas da família, amigos próximos, colegas, professores, filhos e consagrados de Bethânia;
3) no acervo documental do Memorial Padre Léo da Comunidade Bethânia;
4) na história da RCC e da Igreja no Brasil;
5) na literatura especializada sobre dependência química, psicologia e comportamento.
noticias.cancaonova.com – Qual foi o maior desafio neste processo?
Marlon Arraes – O mais difícil foi sistematizar tanta informação para fechar o quebra-cabeças, tentando entender o porquê de determinadas atitudes e escolhas que ele fez em sua vida. Padre Léo viveu uma vida muito produtiva em seus 45 anos. Ou seja, é muito material para pesquisar e nada podia ficar de fora. Padre Léo sempre foi muito intenso e presente em tudo o que ele fazia, então, há aspectos marcantes em cada fase, em cada missão no seminário, na Congregação da qual ele fazia parte, na Comunidade Bethânia, na Canção Nova.
Eu acredito que o principal desafio de uma biografia é decifrar a personagem, principalmente do ponto de vista psicológico. Uma biografia não é apenas uma descrição de eventos em sequência cronológica, mas a tentativa de entender a personalidade do biografado, com suas alegrias, sucessos, influências, medos, angústias, fracassos…
Temos que entender o contexto histórico porque ele tem um grande peso na hora de entender como as coisas aconteceram. Vou dar um exemplo. Eu posso informar pra alguém que meu time ganhou uma partida por 4 a 3 no dia 20 de dezembro de 2000. Eu situei um evento no tempo e dei uma informação. Mas, se eu disser que essa vitória aconteceu numa final de campeonato internacional, na casa do adversário, de virada, perdendo de 3 a 0 no primeiro tempo e com um homem a menos… esse contexto muda completamente a forma como você assimila a narrativa. Eu queria escrever um livro assim, emocionante.
noticias.cancaonova.com – Qual o maior aprendizado para você, como autor, com a experiência de escrita do livro?
Marlon Arraes – Se fosse eleger uma parte mais marcante da narrativa, eu diria que foi o momento em que ele tomou a decisão de fundar a Comunidade Bethânia. Avaliando sua monografia de conclusão do Curso de Teologia, vemos claramente que o carisma já está ali. No entanto, partir para a ação e construir a obra, do nada, enfrentando inúmeros preconceitos na sociedade, é algo heroico. Quando comecei a pesquisa, eu ainda não tinha esta noção, mas depois isso ficou claro para mim: a vida de Padre Léo convergiu para a Comunidade Bethânia, ela foi um caminho para Bethânia.
Acho que meu maior aprendizado foi este: para construir algo de valor, devemos começar com o material que temos nas mãos. Não devemos esperar pra começar somente quando todas as condições adequadas para iniciar o projeto estiverem presentes, porque muito provavelmente isso nunca acontecerá. Se fizermos o que é certo e dermos o máximo de nós mesmos, tudo vai convergir para que esse projeto se realize, apesar de todas as dificuldades.
noticias.cancaonova.com – Como é, hoje, ver Padre Léo a caminho do processo de beatificação?
“Com a biografia, eu pude contemplar a vida de Padre Léo em todas as dimensões e percebi que estava diante de um ser humano gigante, na fé, no amor ao próximo e ao Evangelho.” Marlon Arraes
Marlon Arraes – Desde o início, a partir das manifestações de devoção popular, do carinho dos fiéis, não somente eu, mas muita gente imaginava que esse caminho seria natural. Porém, uma coisa é o que a gente acredita e outra coisa é ter a Igreja trabalhando na causa, mesmo porque são inúmeros os pedidos de abertura desse tipo de processo que o Vaticano recebe todos os anos.
Eu fiquei com uma alegria imensa quando Monsenhor Jonas trouxe a notícia oficial da abertura do processo de beatificação. Uma alegria imensa em ver nesse processo o reconhecimento de que estamos diante de uma personagem especial, que nos ensinou muito e que deixou rastro de Céu na terra.
Com a biografia, eu pude contemplar a vida de Padre Léo em todas as dimensões e percebi que estava diante de um ser humano gigante, na fé, no amor ao próximo e ao Evangelho. E fico mais feliz porque agora toda a Igreja poderá pedir abertamente a intercessão dele em nossas vidas, para que possamos também ser sinal do Amor de Deus no mundo.