Cantareira

Sabesp descarta racionamento mesmo com recomendação do MPF

A companhia disse que garante o abastecimento de água até outubro, mas pesquisa da Unicamp diz que o volume do Cantareira pode secar em menos de 100 dias

Agência Brasil

A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) descartou, nesta terça-feira, 29,o racionamento de água nas regiões de São Paulo atendidas pelo Sistema Cantareira, mesmo após recomendação feita ontem pelo Ministério Público Federal (MPF) para que essa medida fosse implementada.

A Sabesp informou que garante o abastecimento de toda região até a chegada da próxima estação chuvosa, em outubro. Considerando que as chuvas ocorram, a garantia se estende até março de 2015.

“Embora reconheça a importância institucional do MPF, com o qual sempre colabora, a Sabesp discorda frontalmente da imposição de um racionamento. A medida penalizaria a população e poderia produzir efeitos inversos daqueles pretendidos pelos procuradores. São Paulo preferiu enfrentar de forma organizada a maior estiagem de sua história. Os esforços feitos pela população e pela Sabesp até o momento equivalem à economia que se obteria com um rodízio de 36 horas com água por 72 horas sem água”, diz a nota da companhia.

Segundo balanço divulgado hoje pela Sabesp, 74% dos consumidores na Grande São Paulo diminuíram seu consumo em relação à meta. Desde 1º de fevereiro, a companhia oferece bônus de desconto de 30% na conta de água, para quem reduzir o consumo em 20%. Nas leituras feitas entre o dia 1º e 25 de julho, 46% dos consumidores reduziram o gasto dentro da meta. “Isso resulta em uma economia de 2.400 litros a cada segundo na produção de água nestas quatro primeiras semanas de julho”, informa o levantamento.

Apesar dessa redução no consumo por parte da população, o nível nos reservatórios do Sistema Cantareira continua em queda e chegou hoje a 15,7% da sua capacidade de armazenamento. Todo o volume útil do sistema foi consumido e resta agora apenas o volume morto – reserva técnica. Há um ano, o Cantareira trabalhava com 53,7% da sua capacidade total.

Pesquisa

O Cantareira, além de abastecer 9 milhões de habitantes na Grande São Paulo, atende a 5 milhões de pessoas nas bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí. Um estudo encomendado pelo Consórcio Intermunicipal das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, que representa essas cidades do interior e elaborado pela Universidade de Campinas (Unicamp), mostrou que o volume do Cantareira pode secar totalmente em menos de 100 dias. O MPF se baseou nos resultados dessa pesquisa para fazer a recomendação de racionamento ao governo estadual.

Em entrevista à Agência Brasil no último dia 14, o professor Antonio Carlos Zuffo, do Departamento de Recursos Hídricos da Unicamp, responsável pela pesquisa usada pelo MPF, disse que acompanhou a situação dos reservatórios do sistema e alerta para a possibilidade de atraso no início do período de chuvas este ano.

“Não se pode garantir que [as chuvas] voltam em outubro. No ano passado, ela só veio na segunda metade de dezembro. Foram só 15 dias de chuvas normais no ano passado. Não sabemos se [neste ano] vai voltar com normalidade ou se vai atrasar”, disse o especialista.

Zuffo defendeu uma redução na exploração da água e a implementação do rodízio como forma de garantir uma sobrevida do abastecimento. “Houve uma gestão de alto risco, o problema foi falta de planejamento, falta de investimento. A água é um recurso vital para todos os seres vivos, para todos os fins. Não poderiam ter adotado medidas com interesse meramente comercial do setor da água”, declarou.

O MPF informou, por meio de nota, que não descarta a adoção de medidas judiciais caso o governo do estado não atenda ao pedido de racionamento.

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