Coluna - padre Joãozinho

Padre reflete sobre ministério sacerdotal: "cheiro das ovelhas"

No dia 28 de março o Papa Francisco repetiu na homilia da Missa do Crisma o que já tinha dito várias vezes de diversas formas aos sacerdotes: “sejam pastores com cheiro de ovelha”. Com isso ele recordou a nós padres que nossa missão é sermos “pastores”. Nossa missão se traduz nos três “pês”: homens da “Palavra”, do “Pão” e do “Povo”.

Recebemos a Palavra e o Pão para distribuir ao Povo. Poderíamos resumir tudo isso em mais um “P”. Ser padre é promover a “partilha”. O primeiro nome da Eucaristia foi exatamente esse: “fração do pão”. Ser padre é repartir o pão para reunir o povo.

Não é possível fazer isso em um escritório, ou somente por meio da uma pastoral burocratizada, bonita nos apenas documentos e projetos. O que importa mesmo é a vida. O sacerdote não se contenta em promover encontros de massa. Ele precisa ser ele mesmo alimento para o povo por meio do encontro com as pessoas, especialmente os mais esquecidos, os doentes, os oprimidos, os marginalizados, prostituídos, excluídos.

Padeiro tem cheiro de pão. Você não acharia estranho se o padeiro tivesse cheiro de gasolina? E possível que você desistisse daquela padaria. E se o mecânico tivesse medo de sujar as mãos de óleo? Daria para confiar? Da mesma maneira o padre, o bispo precisa ter cheiro de povo. Seria estranho se ele tivesse cheiro de pão, de óleo ou de cimento.

Uma pessoa certa ocasião me disse que o padre de sua paróquia não tinha tempo para rezar a missa porque estava construindo três igrejas. Tinha que supervisionar as obras. O pastor virou construtor. Infelizmente existem histórias reais de padres que se tonam mais psicólogos, administradores e artistas do que propriamente pastores. Uma missão que nos rouba do povo não é digna de um sacerdote, por mais importante que possa parecer.

Um padre pode ser artista? Claro! Pode ser médico? Conheço vários. Pode ser psicólogo? É muito comum. Mas todas estas habilidades profissionais estão em função do seu sacerdócio. Quando ele respondeu “sim” e teve as mãos ungidas para partilhar a Palavra e o Pão com o Povo, aceitou que não seria mais dono de si. Literalmente é um homem de Deus.

O Papa Francisco adverte que o padre que não “sai de si” para servir o povo partilhando sua unção acaba experimentando uma profunda tristeza. Mas, ao contrário, na medida em que esquece de si e se doa para e pelo povo uma imensa alegria invade seu coração e o realiza espiritualmente e até humanamente. Recebemos a unção no dia de nossa ordenação, porém isto não é como um tesouro que podemos guardar em um cofre. A unção sacerdotal é renovada por Deus a cada respiração. Somos ungidos permanentemente, desde que permitamos que Deus nos use. É preciso estender as mãos para Deus e para os irmãos. Sem a nossa contribuição a unçao vai mirrando e o sacramento que celebramos permanece “válido”, pela graça de Deus, mas o

No dia da ordenação nossas mãos e nossa vida são definitivamente ungidas. Somos sacerdotes para sempre. Mas a partir do dia seguinte o Senhor continua a nos ungir pelos braços do povo. Levamos a ele o perfume do óleo de Deus e recebemos o aroma preferido de todo sacerdote realizado: cheiro de ovelha!


 

       

 

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