São Paulo

Operação policial foi primeiro passo para acabar com Cracolândia, diz Alckmin

Ação na Cracolância foi planejada com apoio do governador Geraldo Alckmin e do prefeito de São Paulo, João Doria

Da redação, com Agência Brasil

João Doria e Geraldo Alckmin visitaram neste domingo, 21, a região da Cracolândia, no centro da capital paulista / Foto: Rovena Rosa – Agência Brasil

O prefeito de São Paulo, João Doria, e o governador do estado, Geraldo Alckmin, visitaram neste domingo, 21, a região da Cracolândia, na região da Luz, no centro da capital paulista, logo após uma grande operação policial deflagrada na manhã de ontem para combater o tráfico.

A operação foi realizada com cerca de 900 policiais civis e militares. Segundo o governador, a ação“foi o primeiro passo para acabar com a Cracolândia”.

“Tivemos aqui o trabalho das polícias Civil e Militar, com a prisão de traficantes e apreensão de armas. Tivemos armamento e munição apreendidos e drogas. O primeiro trabalho foi esse, policial. Isso vai ajudar a cidade inteira, porque esses traficantes abastecem também outros pontos de droga na cidade. O segundo [passo], estabilizado e com segurança, é o trabalho social e de saúde”, adiantou o governador.

De acordo com o prefeito, a ação foi planejada entre as duas esferas de poder. “A primeira ação foi policial, uma ação preventiva, deliberada e com autorização da Justiça para aprisionamento de traficantes. A segunda ação será medicinal, de acolhimento daqueles que são psico-dependentes. A terceira ação será social, de acolhimento das pessoas em situação de rua e que não são psico-dependentes. E a quarta será de reurbanização dessa área, para que ela não volte a ser utilizada por traficantes”, disse Doria.

Segundo o prefeito, o projeto de reurbanização do local será anunciado em breve, mas se refere à utilização de áreas públicas do estado e do município na região da Luz. “Teremos aqui um programa de habitação popular, uma escola pública, um CEU (Centro Educacional Unificado) e áreas construídas pelo setor privado.”

“Estamos aqui construindo 100 apartamentos. E aqui, onde era a antiga rodoviária, em frente a Sala São Paulo, [serão construídos] 1,3 mil apartamentos. Vamos trazer de volta as pessoas para morarem aqui na região. E vai poder participar do sorteio quem tenha pelo menos uma pessoa da família que trabalhe na região central, de modo a aproximar o trabalho da moradia”, informou Alckmin.

Mandados

Conforme o secretário de Segurança Pública, Mágino Alves Barbosa Filho, durante a operação de hoje foram cumpridos 28 mandados de prisão temporária na região da Cracolândia e 10 mandados de prisão temporária foram cumpridos em outras regiões da cidade.

“São 38 prisões até agora”, acrescentou o secretário. Mágino disse ainda que um dos presos é conhecido como Fábio e considerado o coordenador do tráfico na Cracolândia. “Temos ainda vários mandados que serão cumpridos ao longo do dia”, destacou. Segundo com ele, três fuzis foram apreendidos em hotéis da região da Cracolândia.

Em entrevista no local, o prefeito disse que os traficantes presos responderão a processo. “Já as pessoas psico-dependentes serão internadas voluntariamente. Há também aqueles em situação de rua, que serão acolhidas pela Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social”.

Abrigos

No fim da tarde deste domingo, a prefeitura informou que 105 pessoas da Cracolândia foram abrigadas no Complexo Prates e equipes da prefeitura continuarão fazendo abordagens para tentar novos encaminhamentos.

Tapumes também foram instalados para impedir que as pessoas que viviam na Cracolândia voltem a ocupar a região. Segundo o prefeito, integrantes da Guarda Civil Metropolitana e da Polícia Militar ficarão permanentemente na região para impedir a volta da Cracolândia.

A ação foi criticada pelo movimento Craco Resiste. Integrantes do movimento afirmaram que a polícia chegou jogando bombas. “De repente tinha 300 ou 400 policiais do GOE (Grupo de Operações Especiais da Polícia Militar) entrando no fluxo, jogando bomba e falando que era para acabar com o tráfico, mas aqui tem é um monte de aviãozinho. Não tem tráfico nenhum aqui. De repente, não tem mais ninguém na Cracolândia. O bagulho está todo destruído. Tinha até atirador de elite na história. Foi feia a situação”, disse Raphael Escobar. “O Doria [João Doria, prefeito de São Paulo] está querendo acabar com a Cracolândia, limpar a Cracolândia. Mas ninguém sabe o que ele fará com as pessoas daqui”, ressaltou.

De Braços Abertos

Doria anunciou que o programa De Braços Abertos (DBA) não será mais realizado na região. O projeto, que funcionou durante a gestão de Fernando Haddad, tinha uma abordagem focada na redução de danos. Além dele, há na região o programa estadual Recomeço, que busca dependentes nas ruas a fim de levá-los para tratamento, com afastamento e abstinência, e reabilitá-los para o trabalho.

Em casos extremos, são usadas internações involuntárias e compulsórias. Para o governador, o projeto da antiga prefeitura, que remunerava os dependentes, “acabou piorando a situação”.

Já o projeto Redenção pretende erradicar o tráfico de drogas em oito regiões da cidade conhecidas como “Cracolândia”. O projeto, idealizado na gestão de João Doria, prevê ações em cinco campos: policial, social, medicinal, urbanística e de zeladoria urbana. As iniciativas, segundo a prefeitura, irão envolver grupos de trabalho que serão coordenados por quatro frentes: governo municipal, governo estadual, governo federal e sociedade civil organizada.

Crise

Durante entrevista na Cracolândia, Geraldo Alckmin comentou rapidamente a crise no país. “O Brasil já passou por outras crises e superou e vai superar também essa. Temos de ter responsabilidade neste momento. A crise é grave. Temos de acompanhar os desdobramentos. O PSDB vai ter reunião de avaliação nos próximos dias. Nosso compromisso é com o Brasil e, principalmente, ajudar a segurar a economia e tentar empurrar as reformas, mesmo em um quadro adverso. Estamos começando a recuperar a economia, os indicadores começando a melhorar. Vai ter de redobrar o trabalho, redobrar o esforço para poder manter esse rumo. Para nós, não mudou nada. Nosso compromisso é com o Brasil, as reformas, a retomada do crescimento e do emprego”, concluiu o governador.

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