Missa em ação de graças será presidida por Dom Walmor; arcebispo comenta a riqueza que a vida consagrada monástica é para a Igreja local
Denise Claro
Da redação
A presença da vida consagrada em uma diocese é sempre frutuosa. Há setenta anos, a arquidiocese de Belo Horizonte recebeu as monjas beneditinas, com a fundação do Mosteiro de Nossa Senhora das Graças. Nesta sexta-feira, 8, a arquidiocese comemora o aniversário de fundação da obra na capital. Uma missa será celebrada na Abadia neste domingo, 10, presidida pelo arcebispo metropolitano e presidente da CNBB, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, às 8h.
Irmã Maristela Matos vive há sessenta anos no Mosteiro de Belo Horizonte. Ela conta que a vida beneditina é alicerçada no trabalho, na oração e na acolhida a quem precisa.
“Nosso dia transcorre entre oração e trabalho. Rezamos a Liturgia das Horas, oração oficial da Igreja, que tem como objetivo a santificação do tempo. As Vigílias, por exemplo, visam a santificação da noite, enquanto as Laudes visam a santificação da manhã. Em termos do trabalho, o fazemos para subsistência mas também para ajudar aos pobres que nos procuram. São trabalhos domésticos, mas também paramentos litúrgicos, lembranças e cartões.”
A acolhida dentro do Mosteiro é feita de forma especial, de acordo com a Regra do fundador, São Bento. “Cada hóspede que chega é recebido como o próprio Cristo. Isso se expressa pela gratuidade. Todos são bem vindos, e cada um ajuda financeiramente como pode. Recebemos pessoas comuns, mas também religiosos e até bispos que vem ao Mosteiro para retiros. Muitos pedem orientações, auxílios, ou catequese. Procuramos sempre atender, na medida do possível”, diz a religiosa.
O Mosteiro em Belo Horizonte
O Mosteiro de Nossa Senhora das Graças nasceu a partir de um pedido do bispo da época, Dom Cabral. Muitas jovens, atuantes na Ação Católica, tinham o desejo de ingressar na vida monástica. As primeiras jovens acabaram entrando na Abadia de Santa Maria, em São Paulo, primeiro Mosteiro Beneditino das Américas.
Um grupo pró-mosteiro se formou em Belo Horizonte, e as famílias das jovens vocacionadas trabalharam para que um Mosteiro fosse iniciado na cidade. Com o pedido, 12 monjas foram para a capital mineira e iniciaram o mosteiro, primeiramente em uma casa, na Rua Inconfidentes. Em 1952 foi construído o Mosteiro atual.
A religiosa conta que a construção do Mosteiro foi feita pelos operários, familiares e as próprias monjas. Em 1956 o Mosteiro tornou-se Abadia, tendo Madre Luzia como primeira Abadessa. As vocações surgiram rapidamente, em pouco tempo eram mais de quarenta religiosas, número que se mantém até os dias atuais.
“Todas as fundadoras já faleceram, e da segunda geração há muitas idosas, umas em cadeiras de roda, outras cegas ou com alzheimer, que participam da vida monástica como podem. E há as novas vocações também, apesar dos desafios de um mundo tão agitado, atualmente.”, conta Irmã Maristela.
Vida Monástica e sociedade
Nesses setenta anos de fundação do Mosteiro Nossa Senhora das Graças em Belo Horizonte, Irmã Maristela comenta que a grande contribuição de uma vida enclausurada em uma arquidiocese é ser uma presença de louvor e de intercessão em meio ao povo.
“Procuramos viver sempre em comunhão com o Pastor e suas intenções. Sentir com a Igreja, tanto a Universal, como a local. Fazemos nossas as intenções do Papa e da arquidiocese.”, diz Irmã Maristela.
O arcebispo de BH, Dom Walmor Azevedo, concorda. Para ele, no mundo contemporâneo, impera uma mentalidade racionalista que muitas vezes não consegue compreender a importância da dimensão transcendente. Há também um apego aos bens e às coisas materiais a partir de equivocada convicção sobre o que leva à felicidade.
“Um estilo de vida que valoriza tudo o que está vinculado ao mundanismo. Esse contexto distancia as pessoas da vida oracional, que é muito necessária. Quando o ser humano se afasta da dimensão divina, adoece. E os mosteiros beneditinos contribuem muito para aproximar as pessoas de Deus. A vida consagrada monástica na arquidiocese de Belo Horizonte é uma riqueza no coração da Igreja local”, afirma o arcebispo.
Sobre a vida contemplativa, Dom Walmor afirma que se trata muito mais do que ver ou ouvir. “É reconhecer a presença delicada de Deus em cada detalhe, em cada momento e gratuidade da vida. É viver cada experiência plenamente, saber silenciar-se para poder escutar adequadamente o outro, que é irmão. A contemplação é, pois, caminho para vencer indiferenças e construir a paz.”
Comemorando os 70 anos do Mosteiro
Dom Walmor se alegra pela presença fecunda do Mosteiro de Nossa Senhora das Graças na Arquidiocese, e afirma: “São 70 anos de serviço, ensinando a cada pessoa sobre a força e a centralidade da oração na trajetória de toda a humanidade. Renovo sempre a minha gratidão às monjas beneditinas por sua presença missionária e servidora. Deus seja sempre louvado pelo dom da vida dos que se dedicam à oração. De modo especial, pelo “sim” de cada monja beneditina, do Mosteiro Nossa Senhora das Graças”.
Irmã Maristela avalia como frutuosa a vida que escolheu, e sua comunidade. Para ela, fidelidade e resposta positiva aos apelos da Igreja foram primordiais neste tempo.
“Somos uma comunidade que caminhou guardando os valores deixados pelas fundadoras. Muita coisa mudou, com o Concílio, a gente fez um grande esforço de viver os valores que nós recebemos de forma atualizada, respondendo às solicitações do mundo de hoje. Hoje podemos acolher pessoas, podemos dar aulas dentro do Mosteiro, atendendo ao que a Igreja pediu e continua pedindo. Fiéis aos valores recebidos, mas atendendo às necessidades do mundo atual. Nosso olhar hoje é de gratidão por esses setenta anos.”, finaliza.